TV 7 Dias – Os portugueses estão atualmente a vê-la na novela “Génesis”. Como foi dar vida a Rebeca?
Bárbara França – Foi um presente muito maravilhoso. Eu não conhecia a história de Rebeca na Bíblia e foi muito interessante ter conhecimento sobre essa mulher maravilhosa e forte que foi tão importante, pois foi escolhida por Deus para dar descendência à história de Abraão. Foi uma honra.
Quais os maiores desafios nesta personagem?
O meu primeiro dia de gravação foi a cena do parto dos gémeos. Era muito complicado e surreal porque eram gémeos que lutavam pela primogenitura, um agarrava no calcanhar do outro, era uma batalha, e foi uma cena muito interessante de fazer porque eu tinha uma barriga mecânica e saíam vários fios para parecer que eles lutavam entre eles. Tinha válvulas de ar na barriga. Foi algo que nunca tinha feito, nunca tinha parido, nem na vida real, nem numa novela. Cheguei a tremer ao estúdio nesse dia. Foi mesmo um grande desafio.
Fez parte do elenco da mesma novela que o seu namorado, Maurício Pitanga, mas ele é… seu neto. Ficou com pena de não terem contracenado?
ós sempre quisemos e ia ser muito bom fazermos um trabalho juntos. Nesta novela entramos os dois, mas em fases diferentes. Eu brinco com ele e digo: “Respeite a sua avó”.
Esta foi a segunda novela bíblica que fez, a primeira foi uma participação em “Os Dez Mandamentos”. Quais as diferenças que nota em participar numa trama deste género?
É muito diferente. “Os Dez Mandamentos” teve muito sucesso e uma repercussão muito grande. Gravei pouco essa novela, agora “Génesis” foi muito intensa. A maneira de falar e o tempo de cena são muito diferentes, não é uma linguagem coloquial e informal. As roupas e a postura são totalmente distintas. É uma linguagem mais formal, mas é muito interessante. Foi uma experiência mágica.
Nesta altura também a podemos ver na novela “Tempo de Amar”, na SIC. Como foi para si dar vida à Celina?
Eu tomei um susto quando cheguei a Portugal porque estavam a dar novelas comigo na SIC e na Record. Um dia estava a almoçar e uma senhora pediu para tirar uma foto comigo porque estava a ver-me em “Tempo de Amar”. Fiquei superfeliz e avisei os meus colegas no Brasil que estamos a passar aqui em Portugal. Foi uma novela muito bacana sobre os anos 20, de época, e foi uma delícia de se fazer. Havia uma parte da história que tinha Portugal e comi em cena pastéis de Belém, ovos-moles… Adorei, foi uma das melhores novelas que eu já fiz.
Como surgiu esta oportunidade de entrar numa série da RTP1?
Foi uma oportunidade que veio do nada, tal como as melhores coisas da vida, sem programar. Foi através de um amigo meu, o Thiago Rodrigues, que conheci a fazer a novela “Amor Sem Igual”, onde fazíamos de irmãos. Ele já tinha trabalhado cá com o Sérgio Graciano, que é o realizador desta série, e perguntou sobre mim, se eu era boa a trabalhar. O Thiago, que ficou um grande amigo meu, fez-me altos elogios. Agora, dois anos depois, o Sérgio voltou a mandar mensagem para ele. Estava a fazer um filme no Brasil. Já estava a terminar e vim em menos de uma semana. O Thiago vinha fazer uma novela da TVI e eu ainda cheguei antes dele.
Que papel vai interpretar na série “Da Mood”?
Vou fazer uma brasileira, formada em História de Arte, que veio para Lisboa passar umas férias, apaixona-se pela cidade e fica. O interessante é que eu conheço vários brasileiros a quem isso aconteceu. Ela chama-se Ana e tem uma vibe de natureza, meditação e ioga, com a qual eu me identifico bastante. É um caminho que eu descobri durante a pandemia. A história da série é muito leve e divertida. É sobre a formação de uma boys band, como os Excesso. Por acaso entrevistámos um dos membros, o João Portugal. Já vi documentários e já conheço as músicas todas. Estamos a ensaiar e começamos a gravar dia 19.
Já conhecia algum dos seus colegas?
Não conhecia ninguém, nem o diretor. Todos os outros atores já se conhecem há vários anos e eu caí aqui de paraquedas, mas fui muito bem recebida e identifico- -me muito com eles. Parece que estou no Brasil, apesar da maneira de trabalhar ser muito diferente. No Brasil somos muito calorosos, estou sendo muito bem tratada, mas noto que aqui são menos calorosos. É uma coisa cultural, mas a pandemia também não ajuda. Estou a tentar “enxugar” esse meu lado de tocar. Está a ser uma grande aprendizagem.
Trabalhar fora do Brasil sempre foi um desejo seu?
Sempre. Estou a concretizar um sonho, está a ser um trabalho muito especial para mim. Nunca tinha trabalhado fora do meu país. Nasci numa cidade pequena, São Lourenço, perto de Minas Gerais, e estar aqui em Portugal parece um filme. Comecei a profissão aos 13 anos de idade, já tenho um bom caminho, e ver o sonho realizado de poder exercer o meu trabalho fora do meu país, num país tão lindo, que estou apaixonada, é de facto um sonho.
Imagina-se a fazer uma novela cá?
Adorava. Inclusive já estou cá e não preciso de passagem. Fica a dica…
O que tem achado do nosso país? Já conhecia?
Cheguei no dia 23 de agosto e estou a amar. São tantos lugares lindos e a comida é maravilhosa. Amo o queijo, o vinho e o bacalhau. Vai ser difícil não engordar. Volto para o Brasil no dia do meu aniversário, a 31 de outubro. São dois meses, mas por mim eu ficava mais. Já estou com o coração apertado de pensar na volta. Estou hospedada em Alfama e a minha rua parece um cenário de filme, é lindo.
Como tem sido lidar com as saudades de casa?
Sinto muito, sou muito apegada à minha família, sempre que posso estou com eles e convivemos muito. Tenho uma relação muito bonita de parceria com a minha mãe. Essa é a parte mais difícil de lidar. Tenho saudades da minha cachorrinha, nunca fiquei longe dela e ela não entende que do nada sumi. Sinto falta do arroz e do feijão de lá, mas já arranjei restaurantes brasileiros cá.
O seu namorado também veio?
Não, mas vem agora. Ele acabou de gravar a novela e vai aproveitar que estou aqui para vir de férias. Agora vai chegar a minha mãe, vai ficar duas semanas comigo, e o Maurício chega depois. Ele nunca veio à Europa, apesar de a família dele ser de Itália. Está vindo para matar saudades. Como eu já estou bem localizada, vou apresentar-lhe Lisboa. O Thiago tem sido o meu guia e eu vou ser o guia dele.
Como se conheceram?
Foi num desfile de moda. Aconteceu aquele clique. Estamos juntos há nove anos e está sendo maravilhoso.
Que balanço faz dos seus 15 anos de carreira?
Com muitos altos e baixos, é uma profissão que se você não gostar muito, pode ter um talento absurdo, mas se não insistir, não chega lá. São muitos os nãos que nós recebemos. Lá no Brasil o mercado está muito saturado, são muitas pessoas. Agora o mercado de trabalho está a abrir-se mais com a chegada dos streamings, Netflix, HBO e outros meios. Mas até então só havia a Globo e a Record para tantas pessoas.
Fecharam-lhe muitas vezes a “porta”?
Desde pequena que quis ser atriz. No colégio já participava em peças de teatro. Mas não foi fácil. Fecharam-me muitas portas. Conto pelos dedos das mãos os sins que recebi desde os 13 anos. Houve muitos momentos em que pensei que isto não era para mim, que estava insistindo a gastar a minha energia e tempo, o meu dinheiro, em algo que não era para mim. Fazia curso atrás de curso e gastava muito dinheiro na formação, mas depois sempre que eu tinha este pensamento recebia um sim em algum casting e era chamada para trabalhar. A vida dava-me sinais para não desistir. Mas é muito difícil ser atriz, por isso agora que estou aqui em Portugal parece mesmo um filme, porque foram muitos mais nãos. Mas é o fruto de trabalho e esforço que tive todos estes anos. Sobrevive neste meio quem tem persistência.
Tirou o curso de Jornalismo. É o seu plano B?
Fiz o curso, mas nunca exerci. Fiz a faculdade enquanto já estava fazendo novela, mas é tudo comunicação. Isso me encanta também. Fui modelo durante muitos anos, porque tinha um retorno financeiro mais rápido e podia investir nos meus cursos de representação, mas era tudo sempre ligado à comunicação. É tudo um plano B, que acho importantíssimo nós termos, pois ser atriz é maravilhoso, mas muito instável. Nunca sabemos o dia de amanhã.
Texto: Neuza Silva (neuza.silva@impala.pt); Fotos: Helena Morais
(entrevista originalmente publicada na edição nº 1801 da TV 7 Dias)