“A justiça não funciona, é cruel”: Tony Carreira abre o coração sobre morte da filha

Na entrevista a Goucha, Tony Carreira garantiu que o único sítio onde se sente feliz é em palco, enquanto homenageia a filha, Sara Carreira.

01 Nov 2022 | 21:30
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Tony Carreira concedeu mais uma entrevista a Manuel Luís Goucha, nesta terça-feira, 1 de novembro. O cantor abriu o coração e voltou a recordar a filha, Sara Carreira, que faleceu a 5 de dezembro de 2020 num acidente de viação, aos 21 anos.

A entrevista ocorreu no topo do pavilhão ‘Altice Arena’, sala de extrema importância para o cantor. “Vivi aqui grandes momentos. Espero que o meu próximo espetáculo, que será nesta sala, esteja cheio. Tenho medo de que não aconteça, mas é assim em tudo o que faço, tenho receio de que possa correr menos bem”.

Questionado por Manuel Luís Goucha se é uma pessoa insegura, o artista respondeu: “Sou uma pessoa minimamente insegura e essa insegurança já me ajudou em todo o meu percurso. Sei que há cantores tecnicamente melhores do que eu, e essa pressão ajuda-me a ser cada vez melhor”.

Tony Carreira garante que trabalha máximo possível para não desiludir o público, que tanto o tem ajudado nesta fase difícil. “Sou grato às pessoas por aquilo que me deram, e nesta tragédia que estou a viver deram-me mais do que nunca. Aquilo que estou a viver é muito duro, é muito difícil, é desumano. Há milhares de pessoas que vivem aquilo que estou a viver e não recebem o apoio que eu tenho”, afirmou.

O pai de Sara Carreira revelou ao apresentador que acredita que, na sua vida, tudo estava destinado: “Acredito no destino. Se o destino tinha isto tudo para mim, desde o sucesso até à tragédia, então vou ter de carregá-lo”.

 

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Passados dois anos da grande tragédia, o cantor falou sobre o que é que o motiva no dia-a-dia. “Como é que conseguiste reconstruir-te?”, perguntou Goucha. “Trabalho todos os dias para a associação da minha filha, e ajuda-me muito ajudar essas crianças em nome da minha filha. Todos os dias trabalhamos para a Sara, e eu preciso de falar dela todos os dias”.

É no Cemitério que Tony se sente mais próximo da filha: “vou ao cemitério muitas vezes, fisicamente é ali que ela está. Falo com ela, embora não saiba se me está a ouvir”.

“Cantar salvou-me”

Apesar de grande parte dos dias serem cinzentos, e de não conseguir retirar prazer na maior parte das atividades, há ainda “poucas coisas” que trazem felicidade ao cantor: os filhos, as “cadelinhas” e cantar.

“Passou a haver outro Tony como artista feito de muito amor e gratidão, mas com muito pouca vontade de durar muito tempo”, desabafou o artista. “Não tenho outra alternativa senão continuar. Tenho a liberdade de se amanhã tiver uma doença grave não a tratar. Não quero, nem farei um disparate”.

Tony confessa que o momento em que mais se sente feliz é enquanto está em palco. “Cantar salvou-me. E não há dia nenhum ou noite nenhuma em que suba a um palco e que o pensamento não seja a minha filha”, garantiu. “Sou um homem feliz em palco quando lhe presto uma homenagem”, concluiu.

Contudo, o cantor acredita que não conseguirá seguir em frente enquanto o caso da morte não estiver resolvido, e culpa a justiça portuguesa. “A nossa justiça não funciona, a nossa justiça é cruel. O ministério público fez um relatório que não foi bem feito. No dia de hoje continuamos no mesmo patamar de partida. O que nós queremos é fechar este capítulo e seguir”, finalizou.

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Texto: Luís Duarte Sousa; Fotos: Arquivo Impala
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