A primeira entrevista a Rui Pedro: “A Joana foi inteligente e eu fui burro. Assumo”

Rui Pedro escolhe a TV 7 Dias para a primeira entrevista desde que abandonou o “Big Brother”. Nela, o agora ex-concorrente fala de tudo: Joana, Jéssica, a produção e os comentadores do reality show.

12 Nov 2020 | 21:00
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Rui Pedro decidiu pôr um ponto final na sua participação no “Big Brother – A Revolução”. Cinquenta e nove dias depois de lá ter entrado, o empresário de Oliveira de Hospital revoltou-se com a produção do reality show da TVI depois de ter sido nomeado diretamente devido a comportamentos impróprios.

Menos de 24 horas depois, é à TV 7 Dias que Rui Pedro concede a sua primeira entrevista. Sem papas na língua, reconhece que exagerou em determinadas situações por ter tomado dores de outros. Nomeadamente em discussões com Joana: “A Joana foi inteligente e eu fui burro. Assumo.”

O agora ex-concorrente aponta ainda o dedo à produção do “Big Brother” por, segundo ele, o terem atraiçoado e o terem colado ao papel de vilão. “Senti-me desrespeitado”, assume. Rui Pedro fala ainda de Jéssica Antunes e de quem quer que vença o programa. E não deixa, claro, de abordar os comentários de ódio de que foi alvo. Pedro Crispim foi um deles, diz o empresário.

 

“Excedi-me nas palavras, mas não fui agressivo com ninguém”

 

TV 7 Dias – Porque tomou a decisão de abandonar o “Big Brother”?

Rui Pedro – Estava a sentir-me um pouco indignado e injustiçado. Sou uma pessoa de princípios e valores, amigo do meu amigo, leal e fiel. Senti-me, de alguma maneira, injustiçado com alguns comportamentos que tiveram comigo dentro da casa.

O quê, por exemplo?

Inúmeras situações com as quais fui confrontado. Efetivamente, exaltei-me duas ou três vezes com injustiças que aconteciam dentro da casa. Não eram comigo, mas incomodavam-me, porque via amigos a sofrerem injustiças com falsidades e intrigas. Acumulei, acumulei, acumulei… Efetivamente, sinto que me excedi nas palavras. Mas daí a passar por uma pessoa agressiva, não. Isso vai contra os meus princípios, vai contra a minha conduta. Não fui nem nunca serei agressivo com ninguém.

Sente que nunca foi agressivo?

Estava exaltado, estava nervoso, estava privado de horas de sono, estava privado de algumas comidas… Com uma pressão e um misto de emoções constantes. Estava triste e desmotivado em relação ao jogo. Não tinha as pessoas que me apoiavam, porque foram saindo aos poucos. Não estava na minha melhor parte e fez com que eu estivesse um comportamento desajustado. Mas nunca agressivo. Pedi desculpas ao grupo e as desculpas foram aceites. Pedi desculpa à casa, pedi desculpa à produção, pedi desculpa a todos, porque efetivamente proferi palavras que não são do meu repertório. Exagerei, é um facto.

Acusaram-no de fazer bullying com outros colegas.

Nunca fiz bullying com ninguém. Sou o primeiro defensor da causa. Jamais toleraria que alguém o fizesse à minha frente. Defendi sempre as minhas ideias, a minha forma de estar na vida, a minha razão… Eles não queriam ‘plantas’ na casa. Parabenizavam-me constantemente, porque eu era um jogador que lia o jogo, que estava a jogar, que era frontal, que era sincero… Sempre fui encaminhado e pensava: “Realmente, estou num bom caminho”. E, então, manifestava-me sempre que achava que alguma coisa não estava certa, pelo menos na minha verdade. Daí a passar a bully… É uma acusação extrema. Mexeu comigo. Psicologicamente, fiquei devastado, porque não tinha as pessoas que me apoiavam, que me davam aquele abraço e aquela palavra de conforto.

Sentiu que a sua imagem estava a ser denegrida?

Senti perfeitamente que a minha imagem estava a ser, de certa forma, degradada para o exterior. Não tinha indicações, mas estava a sentir isso. Fui sempre elogiado. Diziam-me sempre: “Tudo bem, mas não exagere no que diz”. E eu ficava meio baralhado… Está mal, não está mal? Estou a prejudicar-me, não estou? Perdi o interesse pelo jogo e decidi abandonar o jogo. Tentaram ‘n’ vezes que eu não o fizesse. Percebi que era valioso para o jogo e para o programa, com toda a modéstia. Percebi perfeitamente. Não tenho 15 anos, tenho 35. Mas eu tenho um lema: não vale tudo na vida, nas relações, no jogo, no amor… Não vale tudo! Há limites. E, como eu tenho de ter limites na forma como me expresso quando estou exaltado, também têm de ter limites quando passam condutas normais que regem a sociedade. Abdico facilmente do prémio quando sinto que estão a desrespeitar os meus valores, princípios e educação. E foi o que fiz.

Quando fala na sua “imagem degredada” que passa para o público, refere-se à produção do “Big Brother”?

Certamente que nunca foi vontade de o fazer diretamente, mas penso que, pelo menos temporariamente, precisavam de mim naquela posição. Eles sabiam que eu não passaria os limites da razoabilidade, que nunca iria pôr em causa o programa, que nunca iria ser maldoso… Ou seja, no fundo, tentaram pôr-me num papel que sabem que não é o meu, porque sabiam que, mais cedo ou mais tarde, pela minha conduta e pela minha postura, eu limparia esse papel. Senti que eu estava a jogar mas que também estavam a jogar comigo. Não estou a dizer que era a produção. O jogo jogou comigo.

Não soube jogar?

Eu já não sei que o se pretende num reality show. Querem pessoas frontais, com atitude e com personalidade ou querem ‘plantas’ que não fazem nada, que não dizem nada e que só dizem “Ok, é a tua opinião e eu respeito”?! Fui sempre transparente e isso jogou contra mim. Estou triste, estou magoado. Tenho – e passo a expressão – um milhão de apoiantes, mas já percebi que há pessoas que me odeiam. E eu nada fiz para merecer isso.

Como é lidar com esse embate?

Estou magoado, porque eu nunca fiz isso [bullying]. Eu nunca fui bully, nunca fui agressivo. Não quero ser famoso. Não entrei [no “Big Brother”] à procura de fama. Eu sou eu e não tenho truques. Não sou melhor do que ninguém, mas também não sou pior do que ninguém.

Na sua saída, falou em “recalque” e “massacre” por parte da produção.

Não queria sentir-me mais do que ninguém ou privilegiado, mas também não queria sentir que me estavam a calcar e a colocarem-me numa posição que não era a minha. Tanto é que todos os elementos da produção – não vou mencionar ninguém em específico – me adoram como pessoa, porque me conhecem e conhecem a minha essência. Estou triste. Não vale tudo, não pode valer tudo.

 

“A Joana foi inteligente e eu fui burro. Assumo”

 

Acha que essa imagem de bully surgiu sobretudo pelas discussões com a Joana?

Não. Uma pessoa que faz bullying com alguém, a outra pessoa não pode ver essa pessoa. Toda a gente em casa falava comigo, incluindo a Joana. A Joana era falsa comigo, o que é diferente. A Joana vestia a minha roupa, convidava-me para sair, dizia-me constantemente que precisava dos meus contactos aqui fora. E eu, otário e tenrinho, como se diz na minha terrinha, aceitava aquilo. Nas galas, ela pisava-me. Vi hoje que ela chegou a ir chorar para o confessionário, dizendo que não aguentava mais viver naquela casa comigo… Ela foi inteligente e eu fui burro. Assumo. A Joana usou aquilo para a sociedade cair em cima da produção ou da TVI, não sei, e eles serem socialmente obrigados a tomarem uma atitude comigo injustamente.

Está a dizer que a nomeação direta que surgiu não teve necessariamente que ver com as suas atitudes mas a pressão de espectadores junto da produção?

Sim. Isso é o que eu acho, atenção, não estou a dizer que foi o que aconteceu. Vou dizer-lhe uma coisa: tinha a estratégia de ser nomeado, porque as nomeações estavam viciadas. Pedi segredo no confessionário e, depois, senti-me traído quando num direto mostram aquilo. Esperava tudo menos aquilo. Senti-me traído e abandonei [o programa].

Sente que o momento em que a Joana chora no confessionário foi uma estratégia de jogo?

Sinto. E correu-lhe muito bem. Parabéns. Não tenho nada contra. Respeitarei sempre a família da Joana e respeitarei sempre a postura dela. Mesmo sabendo que poderia ser jogo, não conseguiria compactuar com aquilo. Se me perguntar se eu me sentia forte lá dentro, digo-lhe que sim. Se me perguntar se me sentia forte cá fora, digo-lhe meio, meio. Nem sim, nem não.

Terminado o jogo, há espaço para uma amizade com a Joana?

Porque não? Vou ser sincero: ela, a mim, nunca fez nada de grave. Ela fez a todos os outros e eu fiquei indignado por eles. Fui burro. Não soube gerir as minhas emoções.

Alguns concorrentes deram a entender que o Rui Pedro tentou saltar a vedação. É verdade?

Não, é mentira. Eu sabia que pondo o pé fora do limite das câmaras dava direito a expulsão. Para eu não poder voltar atrás, porque eu sabia que iam tentar fazer isso, eu ia descer uns degraus. Assim, ficaria registado e eu seria expulso.

Portanto, foi propositado.

Sim, sim. Eu já tinha feito as minhas malas. Pedi para sair urgentemente, para não me fazerem mudar de ideias.

E porque decidiu tapar as câmaras com roupa?

Eu tenho palavra, sou um homem, sou adulto, assumo as minhas responsabilidades. A partir do momento em que decidi que não ia jogar mais aquele jogo, não têm o direito de me filmar, porque já não sou jogador.

 

“Custa-me tanto que alguém me odeie tanto…”

 

Tentaram demovê-lo da sua decisão?

Sim, claro.

Não ponderou?

Não, não conseguia mais. Foi a gota de água para mim. Voltaram a tocar na ferida. Sabiam que era uma coisa que me estava a magoar e ainda voltaram a tocar no assunto quatro dias depois, quando eu já estava super tranquilo. Para mim, aquilo já não era assunto. Senti-me desrespeitado. E, além disso, mostraram a minha estratégia aos outros. Isso é muito mau.

Como foi o primeiro impacto cá fora?

Coisas lindas! Tenho uns apoiantes maravilhosos. Não uso a palavra “fã”, porque eu não sei lidar com isso. Não sou nenhum herói, não tenho de ter fãs. Tem sido incrível. Sei que há comentadores que foram muito maus comigo. Não percebo porquê. Percebo que exagerei, mas não percebo o porquê de me quererem rotular de uma coisa que não sou. Respeito, mas estou triste e magoado. Tenho família, amigos… É triste. Acho que não merecia tanto ódio.

A família e os amigos ficaram afetados com esses comentários?

Ficaram muito magoados e tristes. Não percebo o porquê de tanto ódio. Estou a falar de pessoas que foram mesmo maldosas comigo sem razão. Pessoas com quem até me cruzei socialmente, em trabalho, em eventos…

… Como Pedro Crispim?

Talvez, talvez. Não percebo porquê. Não sei que ódio foi esse. Não sei onde, de alguma maneira, possa ter desrespeitado a pessoa em questão. O senhor Pedro foi uma das pessoas que mais me odiaram, que acho que é uma coisa muito forte. Respeito, vou ter de aceitar, mas custa-me tanto que alguém me odeie tanto… Ok, eu exagerei, excedi-me, estava nervoso, sem café, privado de sono, cansado. Nada justifica uma atitude grosseira, mas daí a ser agressivo é extrapolar ao ridículo o exagero.

Em que situações acha que exagerou?

Exagerei em ser extremamente repetitivo. Exagerei quando revi e voltei a rever os vídeos das discussões com a Joana. Imagine: a Joana fez cinco ou seis coisas graves de que a acusei. Traiu a Jéssica, traiu a Sofia… Não fez uma prova de grupo e perdemos o orçamento para a comida… Coisas que afetavam a dinâmica de grupo. E isso incomoda-me. Trabalho em equipa desde sempre.

Sente que a produção tentou associá-lo ao papel de vilão?

[Ri-se.] Por vezes, sim.

E isso magoa-o?

Muito. Não merecia. Fui leal com todos os elementos da equipa e da produção. E serei.

 

“A Jéssica foi alvo de comentários terríveis”

 

Quem acha que vai vencer?

Quero que vença o Renato. É o mais puro e o mais genuíno. Tem uma vantagem e um problema: o facto de ser puro e genuíno pode trazer-lhe alguma inexperiência. Mas ao mesmo tempo joga a favor dele. É incrível como pessoa, é incrível como amigo. É aquilo que eu gosto de ver na sociedade e de ter ao meu lado. Sem dúvida, o Renato.

E quem não queria que vencesse?

Não, não. Que vença quem os portugueses acharem que deve vencer. Para mim, qualquer um pode ganhar aquilo. Mas, para mim, o primeiro lugar seria do Renato e o segundo da Jéssica F. ou do Carlos.

Já esteve com a Jéssica Antunes?

Sim, já. Está tudo ótimo connosco. Ela é uma mulher incrível. Apoiou-me sempre. Senti que me conhece como se me conhecesse desde sempre. Estou grato por todo o apoio e carinho e estou grato por tudo aquilo que ela passou por mim. A Jéssica foi alvo de comentários terríveis.

 

Texto: Dúlio Silva; Fotografias: Divulgação, reprodução TVI e redes sociais
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