Entrevista! Armando acabou de se reformar e ganhou 30 mil euros por «resposta divina»

Armando Miguez inscreveu-se no Quer Quer Ser Milionário – Alta Pressão sem acreditar que iria ser chamado. Saiu do estúdio com 30 mil euros no bolso.

11 Jul 2020 | 21:40
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Quinze de junho. Cerca das 20 horas. Armando Miguez acabava de escutar um grito de Filomena Cautela anunciando que tinha ganhado 30 mil euros. Nascido em Moscavide mas a viver na Póvoa de Santa Iria, este homem foi o primeiro a ganhar um prémio avultado na edição corrente de Quem Quer Ser Milionário – Alta Pressão. O programa foi transmitido pela RTP1 no dia 27 de junho.

Prestes a completar 61 anos, o vencedor do concurso da estação pública conta à TV 7 Dias tudo sobre o dia em que uma «resposta divina» sobre Eusébio da Silva Ferreira lhe deu um prémio chorudo que gostaria de aplicar numa viagem com a mulher e em ajuda aos dois filhos. Recém-reformado, Armando Miguez revela ainda como uma mensagem de outro concorrente o deixou em lágrimas.

 

TV 7 Dias – Passados alguns dias, como é que analisa a sua experiência no Quer Quer Ser Milionário – Alta Pressão?

Armando Miguez – Acho que correu bem, mesmo sem pensando no prémio. Foi uma experiência enriquecedora e fantástica. Isto tudo apesar de a primeira fase não me ter corrido bem – fiquei em sexto lugar.

Era um sonho antigo participar neste concurso?

Gosto deste tipo de concursos. É algo que vou acompanhando e, mesmo do Quer Quer Ser Milionário?, já tinha visto outras edições. Um dia, estava a jantar com a minha mulher e apareceu um anúncio para as inscrições da nova série. Pensei: ‘Porque não?’. Pensei que, se calhar, seria para pessoas mais novas, mas decidi experimentar. Não tinha mesmo muitas expectativas de ser chamado.

Foi uma estreia como participante de um concurso?

Sim, este foi o primeiro concurso em que participei.

Estava nervoso ou os nervos ficaram fora do estúdio?

Estava. Quando cheguei lá, havia todos os procedimentos necessários por causa da situação complicada que estamos a viver, causada pela pandemia da COVID-19. Depois, lá meti conversa com os outros concorrentes, porque as pessoas estavam cada uma para o seu lado e eu chamei-as para fazermos uma roda. Para nos conheceremos, saber de onde somos, o que fazemos, etc. E já aí havia aquele nervoso miudinho, até porque se tem a consciência de que estamos a participar num programa visto por muita gente. Mas, curiosamente, senti-me mais nervoso enquanto estava nas cadeiras, a ver os outros concorrentes participarem, do que propriamente quando me sentei à frente da Filomena. Ela é uma pessoa que nos põe à vontade. Foi extraordinária nesse aspeto.

Fez algum tipo de estudo antes de ir?

Não, não treinei nada. O meu pensamento foi: ‘Se eu for agora ler à última hora, só me vai fazer confusão. Portanto, vou com aquilo que sei.’

Falando do que sabe… De onde vem esse interesse pelas coisas?

Olhe, uma das memórias que tenho da minha infância remonta aos meus sete, oito, nove anos. Lembro-me de o meu pai ler o Diário Popular, O Século ou o Diário de Notícias depois do jantar. O meu irmão não ligava muito, até porque era um pouco mais novo, mas eu gostava de pegar nos jornais e de lê-los. Não é que eu seja um viciado em leitura, porque não sou. Mas tento estar a par de tudo. Leio as notícias, vejo as redes sociais e vou tentando saber um pouco sobre tudo. Acho que o saber não ocupa lugar e saber o que se passa em nosso redor, nos dias de hoje, é fundamental.

O programa foi decorrendo e, de repente, o Armando está a uma resposta certa de ganhar 30 mil euros. Ainda antes de saber que tinha acertado na pergunta, teve a certeza de que iria ganhar?

Nessa altura, sim, foi uma pilha de nervos [risos]. Eu até gosto de futebol, sou sócio do Belenenses… Mas não tinha mesmo noção alguma quanto àquela pergunta [N.R.: a questão era «Quantos vezes jogou Eusébio da Silva Ferreira na seleção nacional de futebol?»]. Vi logo que as duas primeiras respostas [32 e 49] não eram, porque eram poucos jogos. Estava com um grande feeling nos 55 jogos. Não sei porquê, estava vidrado naquela resposta… Depois, mudei, quase no último segundo. Sinceramente, não sei porquê. Já disse a amigos meus: foi uma resposta divina [risos]. Lembro-me de, num flash, pensar que deveria arriscar e mudar a minha resposta para 64.

Consegue descrever o que sentiu quando percebeu que tinha ganhado 30 mil euros?

Fiquei muito emocionado quando a Filomena me disse que tinha acertado. Pus as mãos à frente da cara, comecei a choramingar e pensei: ‘Obrigado, meu Deus!’ [risos].

Quem foi a primeira pessoa a quem contou?

Bom, após a gravação, saí com os concorrentes, com quem agora mantenho uma amizade. Por exemplo, o Vasco, um jovem de 20 anos, que gostei muito de conhecer e que me mandou uma mensagem que me fez chorar.

Porque se emocionou com a mensagem do Vasco?

Ele mandou-me uma mensagem escrita do coração. Disse-me que eu tinha sido o concorrente que, antes da gravação, tinha tentado fazer pontes entre todos, que eu não estava com o espírito de ‘Estou aqui para ganhar, o importante é que eu ganhe’, que fui humilde e que tinha gostado muito da minha história de vida. Isto porque, antes de o programa começar a ser gravado, estive a conversar com eles e partilhámos cada um um bocadinho da nossa história. Eu reformei-me em junho e perguntaram-me: ‘Então, reformou-se tão cedo?’ Respondi-lhes: ‘É verdade, reformei-me cedo mas, infelizmente, comecei a trabalhar aos 14 anos. O meu pai saiu de casa e tive de ajudar a minha mãe.’ Portanto, já trabalhei praticamente 48 anos e houve esta hipótese de me aposentar. A minha mulher, que é mais velha do que eu [N.R.: 67 anos], também já está aposentada e, agora, podemos estar mais perto dos nossos filhos.

Tem quantos filhos?

Um rapaz, com 38 anos, e uma rapariga, com 31.

Qual foi a sua atividade profissional?

Aos 14 anos, comecei numa serralharia numa empresa em Cabo Ruivo. Depois, passei para operador de artes gráficas e, entretanto, mudei de empresa e trabalhei no Automóvel Club de Portugal. Lá, comecei por trabalhar na parte de reprografia e, depois, no ano 2000, passei para a parte administrativa. Já nos últimos anos, fui coordenador dos serviços gerais do ACP.

Ao fim de 40 e muitos anos, como é parar?

Há aqui uma particularidade: a pandemia preparou-me para a reforma. Digo isto porque vim para casa e estive em teletrabalho em março, abril e maio. Curiosamente, se esta situação foi muito complicada para tantas famílias, no meu caso, foi quase uma preparação para me habituar a ficar em casa.

Assusta-o a ideia da reforma?

Já ouvi comentários de pessoas que ficam aflitas e começam a ‘entrar em parafuso’, como se costuma dizer. A mim nunca me assustou nem me assusta. Espero manter uma vida ativa, estar mais perto dos meus filhos… A minha filha está no Luxemburgo há cinco anos e espero, assim, visitá-la mais vezes. Quero também envolver-me nalgumas iniciativas de voluntariado, assistir a conferências e colóquios… Não quero ficar com a cabeça quadrada estando fechado em casa. Quero continuar a manter a mente aberta.

A pergunta que falta: para que vão servir os 30 mil euros?

Daquilo que já pensei com a minha esposa, espero fazer uma viagem quando for possível. Gostava muito de ir a Áustria. Espero também poder ajudar os meus filhos e arranjar algumas coisas numa casinha velhota que temos na Régua. E depois, claro, guardar algum dinheiro para alguma eventualidade.

 

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Texto: Dúlio Silva; Fotografias: Arquivo Impala e reprodução RTP
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