Afonso Pimentel faz revelações sobre a vida profissional e o papel em Nazaré

Com 24 anos de carreira, o ator tem brindado os portugueses ao longo dos anos com papéis inesquecíveis e, mais recentemente, interpreta Toni em Nazaré, que será transformada em série.

18 Abr 2020 | 14:10
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Atualmente com 37 anos, e com mais de meia centena de papéis no currículo, Afonso Pimentel diz que se sente bem a fazer o que gosta, como explica à TV 7 Dias: «Tem corrido bem, felizmente. Em conversas com o meu filho lembro-me de lhe dizer: ‘O pai tem de ir para o trabalho.’ E eu tenho tentado retirar esse ‘tem de…’, pois pode retirar-lhe a ideia que fazemos uma coisa de que realmente gostamos. Quando me diz com aquele seu ar ‘Tens de ir para o trabalho, não é?’, eu explico: ‘Mas é fixe e eu gosto de ir’.»

O seu primeiro trabalho aconteceu por uma casualidade. Afonso confessa que não estava preparado. «Não tinha noção nenhuma. Quando faço o Adeus Pai, o cinema português não tem força e não tem público, mas foi um choque muito grande devido às muitas horas de trabalho. Para a minha mãe ainda foi mais, pois para mim eu estava ‘a curtir’ trabalhar, a brincar, mas fomos muito bem acompanhados. Tive muita sorte com as primeiras pessoas com quem trabalhei.»

A história do ator quase se mistura com as televisões que acabavam de surgir. «Era tudo muito novo. Eu gostava muito de realizar e contar histórias e de fazê-las em stop motion. Brincava muito com o meu tio, que era fotógrafo, e revelávamos e tirávamos fotos em stop motion e com isso criávamos histórias. Faço parte de uma geração em que tinhas de tirar um curso para teres uma segurança. A minha geração de 82 é que leva com a porrada de Bolonha e acorda para a vida. Eu ainda fiz os cinco anos, mas o ano seguinte apanhou os quatro anos e a malta que saiu de Bolonha invadiu o mercado de tal forma que houve uma desilusão muito grande.»

E como foi para uma criança inocente repentinamente ficar famosa e ser distinguida com um prémio internacional? O ator garante que não estava preparado. «Os atores não faziam capas de revista. Nessa época tinhas o Virgílio Castelo, o Herman, o Nicolau e poucos mais. Noventa por cento das nossas capas de revistas eram artistas brasileiros. Quando acaba o Adeus Pai e sou metido naquele turbilhão, cometi uma série de erros que na época até eram normais, mas hoje seria impensável. Dei entrevistas no meu quarto com as paredes cheias de posters da Pamela Anderson. Depois houve a perda da inocência com a evolução da própria Imprensa, que começou a ficar mais feroz e a capitalizar outros temas.»

Porém, a carreira de ator não foi propriamente a primeira escolha profissional de Afonso Pimentel, que tinha outras ideias em mente.

«Estava em Comunicação Social, na Católica e tenho de decidir o meu estágio. Percebo que não quero seguir jornalismo e que a Católica tinha grandes acordos com o Público, o Expresso, etc., na área do jornalismo, e muito poucos na área de realização e gestão multimédia. E lembro-me de ver as listagens de estágios curriculares e praticamente não havia nada na área que queria e acabei por bombardear o Piet-Hein, que acabou por ser uma figura muito importante para mim, e a Endemol. Conhecia-o através da Alexandra [N.R.: Lencastre], pois tinha trabalhado com ela. Lembro-me de já não haver o estágio de realização e fiz uma entrevista com o Vasco Vilarinho e decidiram abrir um estágio de realização naquele ano para experimentar. Foi um estágio autoproposto. Quando acabei o estágio fiquei lá a trabalhar. Estive lá ano e meio, na época dos reality shows. Fiz as Quintas das Celebridades e Primeiras Companhias. Na totalidade foram quatro», explica.

Foi uma experiência bem consciente do que ali acontecia, apesar dos momentos mais altos terem acontecido antes. «Na altura não tinha uma perspetiva crítica, pois na altura falávamos e eu adorava aquilo. Eles diziam: ‘Se isto te parece espetacular deverias ter visto na época dos Big Brothers, tínhamos uma régie que era comparável à de um jogo de futebol, com dois realizadores em simultâneo, dois operadores de áudio, etc.’ Tudo o que aprendi tecnicamente foi ali… Foi um ano e meio importantíssimo. Acabei por investir na formação, em workshops, e fui para o estrangeiro, onde fiz alguma coisa e aprendi.»

No currículo de Afonso Pimentel constam muitos dos trabalhos que foram referências, tendo inclusive integrado os Morangos com Açúcar. «Eu quando entrei nos Morangos foi para substituir a Patrícia Tavares, que ia para outro projeto. Acabei por realizar os Morangos e foi fixe, mas tive a sorte de fazer uns projetos marcantes, vários de autor e outros mais pop e comerciais marcantes, desde a Floribella, um episódio do Inspetor Max, onde apareci de collants e o Fernando Luís disse: ‘O menino não vai trabalhar assim’. Com o Ruy de Carvalho só trabalhei agora, mas tinha realizado a novela Olhos nos Olhos, também com a Eunice Muñoz. Trabalhar com eles dois foi muito bom, pois encararam com normalidade e não fui ‘o puto’ a realizar. E isso não esqueço nunca.»

 

O Toni de Nazaré

Atualmente, o ator interpreta Toni na novela Nazaré. Um registo que tem encantado os portugueses com os seus modos desbragados e atitude arrojada. «O Toni, de Nazaré, quando li a sinopse da personagem, era muito semelhante ao Matilha do Sul. Ambas foram escritas na mesma altura. Ambos são dois bons malandros e o que os separa é que um era de Marvila e outro da Nazaré. Este lado de estroina do Toni surge de uma necessidade minha, pois isto foi entregue ao Adriano Luz, que fez o Sul comigo, que me disse: ‘Sim, é também um bom malandro, mas há muitos bons malandros e tu vais ter de inventar um outro’. E chutou para mim. Então com a direção de atores pensámos muito nisto e há uma das diretoras que me pergunta: ‘A outra personagem sorria muito?’ e eu expliquei-lhe que não sorria muito, pois era um tipo mitra, como uma enguia. E diz-me: ‘Então faz este gajo a rir».

Quando Afonso leu o guião não tinha a noção do sucesso que a sua personagem viria a alcançar. «Juro que não fazia ideia. Inicialmente, o Toni era para ser o tipo que seria ‘encornado’, que era relegado para segundo plano e que iria estar apaixonado por ela. Porém, este Toni, por mais que esteja apaixonado por ela, vai ser o tipo para quem está tudo bem. Tudo sempre para cima e também ‘come umas gajas’ e não precisa dela. Não imaginava que fosse esse o caminho, que ele tivesse crescido e a autoria e a SIC potenciassem esta personagem.»

Agora, se faz sentido Nazaré voltar à antena da SIC, o ator confirma que é uma boa ideia. «Normalmente, não costumo assumir este tipo de coisas, mas estou com vontade de fazer. Porquê? Julgo que este projeto teve o tempo exato que deveria ter tido. E só foi para o ar após mês e meio de estarmos a rodar. Isso fez com que a escrita não tivesse sido poluída pelos resultados das audiências. Nós, atores, não fomos poluídos pelas audiências, nem pelos egos. Um mês e meio antes estávamos muito cansados, é verdade, mas com muita pena que acabasse. De repente começam a haver uns zunzuns que podemos voltar e em novembro há as primeiras conversas. Confesso que fiquei feliz. E depois o Daniel Oliveira decidiu fazer isto de uma forma muito inteligente de ‘vamos fazer, mas não é já, calma. Primeiro vamos escrever’. E confesso que não estava habituado a isso. Houve tempo e dificilmente não será fixe.»

Contudo, nem sempre foi assim, como explica Afonso Pimentel à TV 7 Dias: «Eu vivi várias fases da ficção nacional, desde uma altura muito ingénua, em que tinhas tempo e dinheiro para tudo. Depois uma época superselvagem, em que era ‘siga, siga, siga’. Para agora entrarmos num período em que isso já não chega para a Dona Emília, pois entretanto faleceu e agora quem vê é a neta. E estou muito feliz e grato por ter passado por todos esses circuitos.»

Uma nova realidade que nos leva mais longe e aos canais de streaming, algo que o ator vê com bons olhos e satisfação. «Atualmente, tens a HBO, a Netflix e a Amazon a virem buscar atores portugueses e só tens é de agradecer. Eu tenho feito castings com atores que nunca pensei que viessem a Portugal. Anteriormente estava mais focado nos projetos nacionais e já perdi uma coisa extraordinária, porque tinha um compromisso cá e era viajar e começar logo a gravar. Até já se estava a falar de dinheiros. Tive de carregar no botão, morder a bala e engolir. Atualmente já faço gestão do meu ano, deixando espaço e buracos para poderem acontecer coisas lá fora.»

 

Babado pela família

«Houve um dia em que ia para fora, num casting, e o meu filho veio acalmar-me e dizer-me: ‘Sabes que às vezes fico um pouco nervoso quando vou para sítios em que não conheço as pessoas? Mas depois chegas lá e falas com as pessoas e fica tudo bem.’ E não é que tem razão? A minha filhota também está muito gira. Quando estava longe, a fazer um casting, a Liliana fez um vídeo em que ela dizia: ‘Tu, para nós, és o melhor pai do Mundo’ e o Noa dizia: ‘E o melhor ator’ e ela dizia-me toda contente: ‘E fazes madeiras.’ E eu fiquei logo relaxado. Construo casas nas árvores com eles. A minha mulher, a Liliana, é a melhor mãe para os putos e uma companheira incrível. Temos uma dinâmica muito porreira.»

Textos: Eduardo César Sobral (eduardo.sobral@impala.pt); Fotos: Filipe Brito e Arquivo Impala

 

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