A jornalista Ana Leal está suspensa da TVI. Em causa estão os emails que trocou com a direção de informação e que terá divulgado ao conselho de redação, confirmou ao Observador o seu advogado Ricardo Sá Fernandes. A TVI instaurou um inquérito interno e a jornalista foi alvo de um processo disciplinar.

Segundo o advogado da jornalista explicou ao Observador, em causa está o facto de Ana Leal ter entregado ao conselho de redação emails que trocou com a direção de informação da TVI onde se assumem «divergências internas acerca da emissão de reportagens». Ricardo Sá Fernandes garante não haver «qualquer fundamento, nem para a suspensão, nem para qualquer processo disciplinar». O advogado explica ainda que esta situação possa «comprometer a liberdade de imprensa».

«As divergências que eventualmente poderão existir entre a Ana Leal e outras pessoas da TVI tocam no quadro da liberdade de expressão. Espero que, apesar de tudo, haja bom senso de todas as partes de se afastarem desta via sancionatória que não me parece a adequada, sobretudo para uma pessoa que tem dado tanto pela estação onde trabalha há tantos anos», afirma Ricardo Sá Fernandes, advogado de Ana Leal citado pelo mesmo jornal.

 

Clima de tensão na TVI

A novela não arrancou agora, mas os novos episódios da trama adensam o conflito entre a Direção de Informação, liderada por Sérgio Figueiredo, e a equipa dirigida por Ana Leal, entretanto dissolvida. A história é complexa e, para a entender, é preciso recuar até março. Paremos no dia 10.

Nessa terça-feira, o canal decidiu suspender, por tempo indeterminado, os programas de Ana Leal e Alexandra Borges, uma decisão tomada na necessidade de reforçar a redação, devido à rotatividade de profissionais que foi obrigada a ser feita. No caso do primeiro formato, os jornalistas André Carvalho Ramos, Cláudia Rosenbusch e Sara Bento continuaram a trabalhar sob a alçada da coordenadora, mas focados exclusivamente em histórias com a temática do novo coronavírus. Assim foi.

Para o dia 25 de março, estava prometida a transmissão de uma reportagem que, segundo Ana Leal, iria «revelar falhas graves na resposta do Serviço Nacional de Saúde» à pandemia. Porém, tal não se veio a concretizar. No dia seguinte, a jornalista justificava-se, numa publicação feita numa página de Facebook que a própria criara para o programa: «Não é da minha responsabilidade a não emissão da reportagem que estava anunciada.» Confrontada pela TV 7 Dias, na altura, a TVI recusou tratar-se de censura. «A peça da Ana Leal caiu. Todos os dias caem peças», alegou fonte oficial. A publicação foi eliminada daquela rede social depois do nosso contacto.

Face a estes acontecimentos, em meados de abril, o Conselho da Redação da TVI pediu aos quatro jornalistas esclarecimentos sobre o caso. A resposta chegou numa carta assinada em conjunto, à qual a TV 7 Dias teve acesso. Nela, os visados contam a sua versão dos factos e alegam, por exemplo, que a mensagem de Ana Leal foi apagada do Facebook na sequência de uma “ordem” que Sérgio Figueiredo deu «ao editor de imagem da equipa João Pedro Ferreira, também administrador da página». Até hoje, a investigação em questão não foi transmitida.

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Texto: Ana Lúcia Sousa e Dúlio Silva; Fotos: DR

 

 

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