António Costa desmente pressões para despedir Ana Leal: « É mentira!»

Durante o durante o debate quinzenal, o deputado do Chega, André Ventura, perguntou a António Costa se «ligou para redações» ou «para esta redação [da TVI]» para despedir a jornalista Ana Leal.

05 Mar 2020 | 15:35
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Esta quarta-feira, durante o debate quinzenal no Parlamento, o deputado do Chega, André Ventura, perguntou a António Costa se «é ou não verdade» que «ligou para redações» ou «para esta redação» [da TVI] para despedir a jornalista Ana Leal, como a própria denunciou em entrevista ao SOL. Costa respondeu soletrando, fazendo lembrar o célebre momento de Joacine Katar Moreira no congresso do Livre: “É MEN-TI-RA!”.

Numa explosiva entrevista ao Sol, no fim de fevereiro, Ana Leal afirmou que o atual primeiro-ministro teria feito um telefonema para a TVI, que teria por objetivo despedi-la. Questionada sobre quais as mais fortes tentativas de bloqueio ao seu trabalho, Ana Leal responde que o que mais a preocupa é que «um político, à época ministro, que acha que pode à distância de um telefonema ligar para uma administração ou para uma direção de informação a dizer «despeçam-na».

«Estamos a falar do primeiro-ministro, António Costa», acusa Ana Leal

A jornalista da TVI afirmou que a alegada tentativa não é «recente», mas que «já aconteceu várias vezes». «Curiosamente, essa pessoa chegou a processar-me e perdeu em tribunal depois de recorrer.» Ana Leal acaba por revelar que a pessoa em causa é o que o atual primeiro-ministro. «Estamos a falar do primeiro-ministro, António Costa. E estamos a falar do SIRESP». Ana Leal investigou pela primeira vez o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) em 2013. Este sistema, recorde-se, foi homologado por António Costa na altura em que exercia as funções de ministro da Administração Interna.

Nesse ano, Ana Leal foi suspensa depois de ter questionado a direção de informação (na altura liderada por José Alberto de Carvalho) sobre a não emissão de uma peça sobre o SIRESP no Jornal das 8 apresentado por Judite Sousa. A TVI iniciou um processo disciplinar contra Ana Leal, tendo-a suspendido. A peça acabou por ser emitida no dia seguinte e o Conselho de Redação pediu esclarecimentos. Os editores da estação recusaram ter havido «qualquer espécie de censura» e a jornalista avançou com uma acção judicial contra a própria estação. Em outubro de 2014, Ana Leal e a TVI chegavam a acordo e a jornalista voltava à estação.

Ana Leal acusou ainda a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) de querer acabar com o seu programa, emitido desde novembro de 2018. «Não tenho dúvidas nenhumas de que quer acabar com o meu programa.» A repórter explica que o regulador dos media está a «tomar decisões sumárias». «Muitas das deliberações publicadas a enxovalhar o meu nome e o do programa para as quais nem sequer me ouviram.»

TVI reage e coloca ónus da responsabilidade em Ana Leal

A TVI reagiu às declarações de Ana Leal. Fonte oficial da estação de Queluz de Baixo revelou que a entrevista ao jornal Sol «foi dada sem autorização da direção de Informação e as declarações da jornalista só a comprometem a ela». «A TVI não decide criar ou acabar com programas em função de pressões externas. No que respeita a este caso concreto, o diretor Sérgio Figueiredo já recebeu muitos telefonemas por causa daquele espaço de investigação. Mas nenhum deles até a data partiu do primeiro-ministro ou de quem com ele trabalha.»

Os alegados temas supracitados referem-se a um período em que José Alberto de Carvalho era diretor de informação. Sobre esse «tema do passado», a resposta da TVI é curta. «A direção de informação não vai pronunciar-se». O hipotético fim do formato de investigação também não é nem confirmado nem desmentido. «Nunca comentamos assuntos internos.»

Texto: Raquel Costa e Marta Amorim | Fotos: Impala e TVI

 

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