António Raminhos fala sobre operação que lhe deixou marcas: «Estava tudo infetado»

António Raminhos revelou pormenores sobre uma operação a uma hérnia que lhe deixou algumas «sequelas».

07 Ago 2020 | 20:10
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António Raminhos recordou a operação a uma hérnia a que foi submetido quando tinha 19 anos e que lhe deixou sequelas visíveis ainda hoje. Nas redes sociais, o humorista, agora com 40, explica que esteve três dias internado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, que na altura «mais parecia hospital de campanha e onde as ‘salas’ eram divididas por taipais».

 

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Muita gente goza comigo por causa da “cicatriz da cesariana” ou que a minha “barriga está triste”. Sem problema como é óbvio, mas a história já tem mais que se lhe diga. Aos 19 anos fui operado a uma hérnia. Passei três dias no Curry Cabral num pavilhão que mais parecia hospital de campanha, onde as “salas” eram divididas por taipais. Ao meu lado, tive um homem que passava várias horas do dia a escarrar para um saco de plástico que tinha carinhosamente pendurado ao lado da cama. Eram longos segundos em que ele inspirava profundamente e fazia um som gutural para ir buscar a gosma mesmo lá ao fundo. Como se não bastasse, durante a noite sentava-se na cama, virado para mim, a comer bolachas maria fazendo questão de sonorizar cada mastigadela com um “mnha mnha mnha”. Três taipais à frente tinha um homem que gritava a noite toda, para além da equipa de enfermagem que falava a alto e bom som durante a madrugada. Fui para casa. Dois dias depois começo a explicar que sentia algo estranho. Custava-me muito a mexer e parecia que tinha algo… Ao terceiro dia, estou com 39,5 de febre. Fui para as urgências onde, sem anestesia (acho que só podia mesmo ser assim), a médica tira os pontos e vi o pânico da cara dela. Nesse momento, sinto a esvair-me em sangue. Não era sangue, era pus… estava tudo infetado. Foram as dores mais horríveis que me lembro de ter. Os médicos tinham de enfiar seringas e seringas de betadine para dentro e espremer a minha barriga para limpar tudo. Durante um mês tive de andar com um buraco e um dreno a fazer pensos diários. O processo era bonito. Enfiavam-me, entre a pele e a parede abdominal, gaze enrolada num ferrinho e eu sentia, literalmente, aquilo a mexer dentro de mim. Como este tratamento foi feito nos centros de saúde dos anos 90, a maior parte das vezes estava a fazer o penso e ao meu lado, um ou outro toxicodependente a fazer o seu penso de feridas abertas feitas pelas agulhas ou sei lá o quê. Fiquei com sequelas desta treta. Não é a história do coitadinho, é só uma história dos anos 90.

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«Muita gente goza comigo por causa da ‘cicatriz da cesariana’ ou diz que a minha ‘barriga está triste’. Sem problema como é óbvio, mas a história já tem mais que se lhe diga», começa por adiantar, para depois descrever o que presenciou.

Durante o período em que esteve hospitalizado, Raminhos teve a seu lado «um homem que passava várias horas do dia a escarrar para um saco de plástico que tinha carinhosamente pendurado ao lado da cama». «Eram longos segundos em que ele inspirava profundamente e fazia um som gutural para ir buscar a gosma mesmo lá ao fundo. Como se não bastasse, durante a noite sentava-se na cama, virado para mim, a comer bolachas maria fazendo questão de sonorizar cada mastigadela com um ‘mnha mnha mnha’. Três taipais à frente tinha um homem que gritava a noite toda, para além da equipa de enfermagem que falava alto e a bom som durante a madrugada», lembra.

 

«Enfiavam-me, entre a pele e a parede abdominal, gaze enrolada num ferrinho»

O pior aconteceu, ainda assuim, quando teve alta e foi enviado para casa. «Dois dias depois, começo a explicar que sentia algo estranho. Custava-me muito a mexer e parecia que tinha algo… Ao terceiro dia, estou com 39,5 de febre», afirma. António Raminhos acabou por ir para as urgências e, sem anestesia, a médica retirou-lhe os pontos. «Vi o pânico da cara dela. Nesse momento, sinto a esvair-me em sangue. Não era sangue, era pus… estava tudo infetado».

«Foram as dores mais horríveis que me lembro de ter. Os médicos tinham de enfiar seringas e seringas de betadine para dentro e espremer a minha barriga para limpar tudo. Durante um mês tive de andar com um buraco e um dreno a fazer pensos diários. O processo era bonito. Enfiavam-me, entre a pele e a parede abdominal, gaze enrolada num ferrinho e eu sentia, literalmente, aquilo a mexer dentro de mim. Como este tratamento foi feito nos centros de saúde dos anos 90, a maior parte das vezes estava a fazer o penso e ao meu lado, um ou outro toxicodependente a fazer o seu penso de feridas abertas feitas pelas agulhas ou sei lá o quê».

A terminar, António Raminhos assume que ficou com «sequelas desta treta». «Não é a história do coitadinho, é só uma história dos anos 1990».

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Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: Reprodução Instagram
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