Larry foi homem até aos 41 anos de idade. É casado e tem quatro filhos, três raparigas e um rapaz. Há três anos, mudou de género. Mudar de género não é o mesmo que mudar de sexo. Larry ainda tem o órgão sexual masculino. Mas no resto é mulher. Recentemente, ele e a mulher, Jennifer, aceitaram participar num programa documental do canal TLC.
«Queres ser mulher?» Foi esta a pergunta de Jennifer que mudou para sempre a vida de Larry, que agora se chama Lawren. Após 25 anos juntos, e 19 de casamento, foi preciso Jennifer questionar o marido para que o mais profundo desejo dele ganhasse voz. Apesar de não ter sido uma «revelação», Lawren só percebeu o quanto necessitava mudar de género quando o ouviu em voz em alta. «Foi por falar com a minha mulher que aceitei que era transgénero – uma pessoa cuja identidade de género não corresponde ao sexo atribuído à nascença», recorda Lawren.
«Tinha medo de perder a minha mulher e os meus filhos»
Apesar de a aceitação de Jennifer ter sido o grande impulsionador para o marido ter dado o primeiro passo para ser Lawren, a necessidade de mudar de género estava presente «desde miúdo». «Sempre tive questões relacionadas com a minha identidade de género. Mas quando era mais novo não tinha a linguagem ou as ferramentas para explicar e perceber o que sentia. Portanto, reprimi muita coisa e tentei sempre ser um rapaz ‘normal’ com os outros», explica Lawren.
Ainda que não possa dizer que teve «uma infância fácil», tendo em conta que os pais se separaram quando tinha apenas três anos, Lawren recorda que teve uma mãe e um padrasto muito presentes. E que eles lhe proporcionaram uma «vida feliz e saudável». Independentemente de ter tido «educação conservadora», Lawren acredita que o facto de «não conhecer ninguém transgénero ou da comunidade LGBTQ» o manteve muito tempo na ignorância.
«Não consegui perceber ou verbalizar que era uma mulher presa no corpo errado»
Lawren conheceu Jennifer quando entrou na faculdade, no curso de Direito, e o amor que sentiu pela companheira «adormeceu a dor e as dúvidas» que tinha. Apaixonada e com as vidas emocional e profissional estáveis, Lawren acreditou por muitos anos «que não havia solução» para ele e tentou aceitar que «tinha de viver o resto da vida como era».
Com o tempo, chegaram três filhas, duas das quais gémeas, e o ritmo de ser pai e advogado preenchia a sua cabeça «a 100%». No entanto, em 2009, quando nasceu Lawson, o único rapaz do casal, as questões enterradas no passado regressaram, deixando Lawren numa «crise interna» que não tinha previsto. «Senti-me completamente perdido. Parecia que não sabia como ser pai para o meu filho. Questionei-me se conseguiria ser uma figura paternal positiva para ele. Não sabia como ser um homem para ele. E foi nesse momento que entrei em depressão.»
À medida que o filho mais novo ia crescendo, Lawren «caminhava para uma depressão mais profunda». Em 2012, na tentativa de «encontrar formas de aliviar a dor», começou a «abusar do consumo de bebidas alcoólicas» e a isolar-se da família. Cada vez mais preocupada com a saúde mental do marido, Jennifer chegou ao ponto em que a preocupação só se podia tornar em desespero. E foi então que decidiu «pressionar Lawren até obter respostas».