“Atiravam-me pedras”: Drag Queen de “All Together Now” revela episódios de bullying

Hugo Pereira deu-se a conhecer em 2009, em “Uma Canção Para Ti”, na TVI, mas foi em “All Together Now” que, como Drag Queen, conquistou o País. Leia os relatos impressionantes pelos quais passou.

11 Mar 2021 | 8:00
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Hugo Pereira tem sido uma das pessoas mais faladas nos últimos dias, após a sua participação no programa “All Together Now”, da TVI, que se estreou no passado domingo, 7 de março.

Esta drag queen, de seu nome Kheira, surgiu no palco de “All Together Now”, concurso apresentado por Cristina Ferreira, e conquistou, de imediato, os jurados. Mas o que muitos não sabiam era que este jovem artista havia participado, em 2009, no programa “Uma Canção Para Ti”, talent show da TVI.

“Tive de criar uma defesa própria”

Posto isto, Hugo foi o convidado de “Goucha”, o vespertino da estação de Queluz de Baixo, e falou um pouco sobre a vida dele, incluindo os episódios de bullying que sofreu durante a infância e adolescência.

“Digamos que a transição entre o ser criança e a adolescência é uma fase muito complicada. Os adolescentes conseguem ser muito cruéis às vezes (…) foi uma altura muito turbulenta para mim. Tive de criar uma defesa própria”, começa por contar a Manuel Luís Goucha.

Para além das palavras, “que por vezes magoam mais do que pedras”, as atitudes físicas também foram um marco muito desgastante e traumático para Hugo. “Eram agressivos e houve muita coisa que eu nunca contei à minha mãe. Chegava a casa e ia-me esconder”, continua.

“Senti que não pertencia a esta Terra”

E o entrevistador questiona: “Deitaram-te num caixote de lixo?” “Sim”, responde Hugo. “E contaste aos teus pais?”, pergunta Goucha. “Não, nunca!” “Estão a saber agora?”, inquere o apresentador. “Desculpa, mãe”, dispara o jovem.

E refere como ficou depois desse episódio: “Senti-me pior do que lixo. Senti que não pertencia a esta Terra. Soube o que é ser desrespeitado.”

“Tinha momentos em que me atiravam pedras. Havia coisas assim muito agressivas. (…) Quase que o meu sistema e meu organismo se distanciavam da realidade. No meu quarto voltava ao meu País de fantasia”, desvenda.

A minha ajuda estava no Universo que criava

E como é que se lida com o facto de não desabafar com ninguém? “A minha ajuda estava no Universo que criava. Eu recarregava as minhas energias no meu quarto… Nesse mundo de fantasia… Era onde eu recarregava as energias. No dia seguinte era um tormento e pensava: ‘vamos conseguir enfrentar tudo o que aconteça contigo'”, conta.

E quando é que Hugo começou a perceber que seria homossexual? “Acho que desde cedo. O mundo à minha volta sempre me fez sentir que alguma coisa estava diferente; que não estava dentro da norma. Dado à minha sensibilidade, forma de expressar, de falar, ao meu toque feminino.” Apesar disso, o jovem admite que era um processo que ele próprio “queria negar”. “Queria apagar isso de mim. Porque é doloroso”, diz.

“Estava a mentir a mim próprio”

A “saída do armário” foi “aos 20 anos”, perante a mãe. “Nasci na família certa. Os meus pais sempre aguardaram. Nunca me forçaram a tomar decisões. A minha mãe é muito subtil. Durante muitos anos tentou abrir a conversa, mas muito de uma forma tranquila. Ela sempre foi a minha melhor amiga”, reage.

E fala sobre a fase em que “já não aguentava mais”. “Estava a mentir a mim próprio. Nesse dia tive aquele sinal e disse-lhe sobre o casamento: ‘Que seja com um homem e que seja um casamento bonito’. A minha mãe desmanchou-se em lágrimas e eu também”, conta.

Hugo pediu para a progenitora não falar com o pai, mas… tal não aconteceu. “O meu pai é a pessoa que mais me ama. Era ele quem me comprava as barbies”, revela. E conta como foi a reação do progenitor à sua homossexualidade: “Ele chega do trabalho, põe a mão na minha cabeça e dá-me um abraço. E depois abraçamo-nos juntos, mas foi muito especial”, relembra.

A surpresa do irmão

Aquando da sua partiipação em “All Together Now”, da TVI, Cristina Ferreira revelou que Ruben Pereira, irmão de Hugo, não aceitava o caminho que o mano mais novo seguiu. “Sempre achei que ele me queria mal. Havia lago dentro dele que rejeitava toda a minha essência. Ele não conseguia aceitar todas a camadas que compõem a minha personalidade”, diz o jovem convidado de Goucha.

“No fundo, ele queria-me proteger, porque sabia o que é que me esperava e eu acho que ele não sabia da coragem que eu tinha e ele quis-me proteger”, acrescenta, e garante que sabe que “ainda há muita conversa a ser feita”. “Estamos a começar a fazer esse caminho”, continua.

Mas Ruben surpreendeu o irmão. Prestou-lhe um testemunho e ainda entrou em videochamada, através do Skype. “O que eu mais quero é que ele seja feliz e que ele não sofra. Tenho muito orgulho nele, na determinação e coragem. Tem uma coragem enorme para ter sofrido o que sofreu em saber como o Mundo é, e mesmo assim, ir para a frente”, ressalva.

Hugo garante que “não estava a contar com este testemunho”, mas mostrou-se emocionado com a supressa. O irmão, Ruben, finalizou dizendo que tem “muito orgulho” no seu mano.

Aceitar-se tal como é

Hoje, Hugo já se aceita como é e sente que tem “o poder da palavra”. “As palavras não me conseguem magoar. Tenho um escudo. A partir dos 16 comecei a perceber que deixariam de me magoar tanto”, se arranjasse estratégias para ser aceite pelos outros.

E é assim que este jovem leva a vida: de forma simples. Aceitou-se, para que os outros também o possam aceitar… tal e qual como ele é.

Texto: Andreia Costinha de Miranda; Fotos: Reprodução

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