Bruno de Carvalho conta tudo: “Presidente” fala do Sporting e do ataque a Alcochete

Entre conversas, no “Big Brother Famosos”, Bruno de Carvalho fez revelações bombásticas sobre o Sporting, clube que deixou de forma abrupta em junho de 2018.

06 Jan 2022 | 9:55
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Bruno de Carvalho, antigo presidente do Sporting Clube de Portugal, decidiu, em conversa com alguns concorrentes do “Big Brother Famosos”, falar sobre o clube de Alvalade, que deixou de forma abrupta em junho de 2018.

“Mas sabes com o que é que eu me irrito? A maior parte que falou faz, usa… e depois armam-se em hipócritas”, começa por dizer a Hugo Tabaco. “A maior parte, quem? Quem te julgou?”, interrompe o empresário. “Com certeza”, responde-lhe, acrescentando: “Eu vi ‘n’ gente, que eu sei perfeitamente que usa, a apontar o dedo. ‘Eu já te vi, meu. Eu a ti já te vi, tu nunca me viste a mim’. Dirigentes, artistas, comentadores, pessoas que me acusaram que usam e abusam.”

 

Bruno de Carvalho arrasa Pedro Guerra e Rui Gomes da Silva

A emissão passa para a cozinha, mas quando regressa à conversa do antigo líder dos leões, este recorda um episódio que viveu no Estádio de Alvalade, na altura em que foi acusado de cuspir na cara do então presidente do Arouca, Carlos Pinho, em 2016. “Estou com as minhas filhas no camarote do Sporting. Eu ficava no banco [de suplentes] e no fim do jogo ia lá sempre. Uma criança de seis anos, sem culpa nenhuma, viu-me e começou a correr pelo camarote presidencial a dizer: ‘Ele cuspiu num velhote, ele cuspiu num velhote’. E as minhas filhas a verem. É o trampas do Pedro Guerra e do outro, não é por ser do Benfica ou deixar de ser, que era comentador e depois vice não sei quê. O que quer ser presidente e nunca há de ser. Foi número dois do Santana Lopes. O Rui Gomes da Silva… nojento!”, conta.

Bruno de Carvalho atira que “se lhes acontecem coisas a eles, pedem respeito pela família e não sei quê”. “Mas eu… as minhas filhas tiveram que ver isto. Se eu tenho que cuspir em alguém, merecia completamente toda a exposição que lhe deram, mas é nojento. O que me irrita é, às vezes, as pessoas confundirem o facto de eu odiar certas pessoas com odiar o Benfica”, diferencia.

O concorrente do reality show da TVI detalhou, de seguida, o que aconteceu naquele dia. “Estava a fumar cigarro eletrónico e eu travo muito. Se eu te der uma pancada no peito sem estares à espera, sai fumo por todo o lado. Por isso é que eu disse para as pessoas serem inteligentes, que eu não podia cuspir do nariz e da boca. Porque se vires, sai também do nariz… não existe. Portanto, foi fumo que saiu. Não sai pelas orelhas porque não é costume”, avança, irónico.

“Há gente tão reles em todo o mundo, mas no mundo do futebol há gente tão reles, como esse Guerra, esse Rui Gomes da Silva. Temos família. Não exageremos”, lamenta.

 

Bruno de Carvalho fala sobre a invasão à Academia de Alcochete

No dia 15 de maio de 2018, o Sporting viveu um dos episódios mais negros da sua história. Dois dias depois de ter sido derrotado na visita ao Marítimo, deixando escapar para o Benfica o segundo lugar do campeonato e o apuramento para a Liga dos Campeões, cerca de 40 encapuzados entraram na Academia de Alcochete e agrediram elementos da equipa principal de futebol. Quase quatro meses depois, a 11 de novembro, o presidente do clube à data dos acontecimentos, Bruno de Carvalho, e Mustafá, líder da claque Juve Leo, foram detidos e constituídos arguidos, mas ficaram em liberdade. O antigo líder dos leões acabou por ser acusado de autoria moral de crimes classificados como terrorismo e de outros 98 ilícitos e ouvido em julgamento. No entanto, a 11 de março de 2019, a Procuradora do Ministério Público reconheceu não ter ficado provado o envolvimento de Bruno de Carvalho, nem dos outros dois arguidos acusados de co-autoria moral do ataque, Nuno Mendes (Mustafá) e Bruno Jacinto, pedindo portanto a sua absolvição.

Contextualizado o tema, voltamos à conversa dos participantes do “Big Brother Famosos”. “Tu és do Sporting, ficaste com uma ideia que o Bruno de Carvalho incutia violência. Pega em Alcochete [invasão] e mete aqui. Falou-se durante dois anos, a juíza viu tudo ao pormenor”, dispara o agora DJ, dirigindo-se para o colega de profissão.

“Esquece, põe ali. Antes de Alcochete, cinco anos e meio… diz-me uma cena de violência, não é com jogadores ou não jogadores, diz-me uma cena de violência que tenha acontecido nos meus cinco anos e meio. Eu digo-te: um adepto do Sporting esfaqueado em Guimarães, um adepto do Sporting esfaqueado por adeptos do Benfica junto a um restaurante em Alvalade, um adepto do Sporting morto, há aquela cena dos ‘casuais’ no Porto, mas que foi uma desgraça”, enumera.

“Houve retaliações? Zero. Sabes que violência incuti no desporto? Zero”, defende ainda.

 

“O que é que eu ganhei com [a invasão a] Alcochete?”

“O que é que eu ganhei com [a invasão a] Alcochete?”, pergunta, não obtendo resposta. “E por que é que se comete um crime para ganhar zero? Já percebeste que quem ganhou está lá. Não percebeste, sabes porquê? Porque és do Sporting”, frisa.

Hugo Tabaco sai em defesa de Frederico Varandas, pensando que o colega se estaria a referir ao atual presidente do clube. “Eu não te estou a dizer que é o Frederico. Eu não estou a falar em nomes. Mas um crime não é como, quem, porquê e onde? Explica-me o porquê… porque é maluco. Porque é maluco. Isso é fácil”, atira.

 

Leandro defende Bruno de Carvalho

Leandro, que também assistia ao desabafo de Bruno de Carvalho, saiu em defesa do colega. “Não julgo ninguém, porque não sou ninguém para julgar. Passei por uma situação parecida e sei o quanto foi difícil para ti. Onde tinhas que ir e onde tinhas que comprovar a tua inocência, foi comprovada. Mais ninguém tem que te julgar. Agora, as pessoas têm que ter a educação e perceber que existe um ser humano e uma família”, argumenta. O cantor revela que “não têm” [educação] e justifica. “Porque tu tiveste a felicidade de ser amado quando eras criança, cresceste com isso e amaste os teus filhos e há muita gente que não teve isso. Ao fazerem-te mal, sentem-se amadas. O ódio vive nelas. É bom que as pessoas percebam que o Bruno de Carvalho que está aqui é este e não é aquele que as pessoas idealizam na cabeça delas”, continua.

Hugo Tabaco acabou por anuir, de certa forma, e revelou que Bruno de Carvalho teve “um mérito que mais ninguém conseguiu até aqui, que foi juntar as claques todas”.

O antigo presidente da formação de Alvalade ficou um tudo-nada surpreendido. “Esse foi o meu grande mérito, foi juntar as claques? O meu mérito é tu ainda falares do Sporting, porque tu esqueces-te do estado em que estava [o clube]. Se tu ainda falas do Sporting podes agradecer ao maluco”, dispara.

Aquele que tem sido o rosto principal do reality show da estação de Queluz de Baixo recorda ainda a altura em que foi detido. “Sabes quantos sportinguistas me foram apoiar para a porta do quartel da GNR? Contei-os um a um… zero! Não te vi lá, Hugo. Eu fui expulso do clube e vocês nem me quiseram ouvir. Eu não pude ir à Assembleia Geral defender-me. As pessoas decidiram a expulsão sem me ouvir. Dei cinco anos e meio àquela casa”, explode.

Incrédulo, Hugo Tabaco pergunta-lhe se tal decisão consta nos “estatutos”. “Não! Decidiu o Rogério Alves e os sportinguistas disseram que sim. Podia ser para me mandarem um tomate à cabeça, mas pelo menos ouviam-me”, responde o concorrente.

 

Bruno de Carvalho revela que devolveu “100 mil euros” ao Sporting

Bruno de Carvalho argumenta ainda que “as pessoas não têm noção”. “Esta malta é tão aldrabona, tão pequenina, a que lá está [na direção do Sporting], que podiam dizer aos sportinguistas que eu, quando se começou a dizer que poderia ser destituído, cheguei ao Sporting e devolvi 100 mil euros, 100 mil euros que eram meus. Agora que me venham desmentir. Eu burro, porque tenho princípios”, avança.

O participante do “jogo da vida real” conta ainda que “durante seis meses” decidiu “não ter ordenado”. “Porquê? Porque estava a despedir pessoas e achei que tinha que dar o exemplo, enquanto líder. Quando me vim embora Sporting depositei, dei ao Sporting um cheque de 100 mil euros. Ao dia de hoje, dava era o caraças, porque vocês não mereceram nada. Por que é que devolvi? Se as pessoas acham que cometi um crime, não vou ficar com este prémio que recebi no ano passado. Prémio para um tipo que comete crimes? Devolvi. Porque o Sporting é o meu grande amor. É! Não mereceram nada”, remata.

 

Luís Filipe Vieira chamado “à baila”

Minutos mais tarde, foi a vez de Jorge Guerreiro ouvir o colega. “Tens pessoas ligadas ao futebol… já pagámos do nosso bolso 55 milhões, creio que era este valor que ele devia, ao BPP. Estou a falar do [Luís Filipe] Vieira [ex-presidente do Benfica]. E vamos todos acabar por pagar cerca de 650 milhões que ele devia ao Novo Banco. Vais pagar e não bufas. Estou a falar de pessoas que nos prejudicam diariamente e que nós fingimos que não vemos. Isto é Portugal e eu tenho pouca esperança”, começa por dizer.

Bruno de Carvalho atira que “está tudo interligado”: futebol, justiça e política. “Não há pessoas boas no futebol, na justiça, na política? Há. De repente vai o homem do povo, Bruno de Carvalho, tinha que sair à cacetada. Alguma vez? Eu quebrei uma cadeia de fornecedor/cliente, que estava superoleada. De repente vem um tipo que diz que ‘não precisamos, vamos pagar, agora é para ter lucro, agora é para fazer as coisas bem feitas’. Este gajo é doido, não é para fazer as coisas bem feitas. O clube é para dar prejuízo. Portugal dá prejuízo e muita gente ganha”, acusa.

O concorrente do “Big Brother Famosos” acaba ainda por referir que “foram os bancos que criaram as dívidas do Sporting”. “Eram os bancos que escolhiam os presidentes do Sporting, a certa altura. Claro que havia eleições, mas eram os bancos que escolhiam. As pessoas acham que votavam. As votações no Sporting sempre foram manipuladas”, comenta.

 

“Uma mágoa porque deixei de ligar a pessoas importantes da minha vida”

O DJ defende que “quem criou a dívida de quase 500 milhões de euros foram os bancos”. “Se tu me estiveres a dever 100 milhões, só te dou mais 100 se for conivente contigo. Mais, se eu banco te escolhi a ti para ires gerir, se aumentas a dívida de 100 para 200 milhões, eu banco tenho culpa. Era isso que lhes dizia e as pessoas ficaram espantadas. Se os escolhiam, vocês têm de assumir a vossa culpa. Perdão de dívida? Um perdão de dívida a quem a criou, que foi os bancos. Mais, quando houve esse problema das VMOC [Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis], os portugueses já tinham pagado. Os portugueses já tinham pagado antes da minha negociação. Já tinha sido assumido como prejuízo. Ao ser assumido como prejuízo, com as injeções que iam haver no bancos, os portugues já estavam a pagar e nem sentiam”, explica.

O cantor de música popular quis saber se o colega guardava então uma mágoa em relação a tudo o que viveu. “Uma mágoa porque deixei de ligar a pessoas importantes da minha vida para me ligar ao Sporting. Deixei de ser presidente à bruta, deixei de ser sócio (porque fui expulso) e perdi cinco anos e meio dos meus filhos. Fui muito inteligente, eu”, finda.

 

Texto: Ivan Silva; fotos: divulgação TVI e redes sociais
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