Carla Vasconcelos sobre o preconceito da imagem na televisão: “Já me senti esquecida”

Aos 51 anos e com um vasto currículo na ficção, a atriz abriu o coração à TV7 Dias e confessa que já pensou desistir várias vezes da representação.

17 Mar 2023 | 10:03
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De volta ao teatro com a peça Os Cangalheiros, Carla Vasconcelos mostra-se feliz com este projeto e assume que esta a ser um desafio. “É uma comédia passada numa agência funerária e, como se não bastasse, entre todas as peripécias que podem acontecer numa agência funerária há um triângulo amoroso. A peça é com o Victor Espadinha, o Diogo Lopes e o Frederico Amaral”, revela.

A atriz adiantou ainda: “A preparação foi bastante rápida. O Celso Cleto é uma máquina a encenar espetáculos e está a ser uma experiência maravilhosa. Eu nunca tinha trabalhado com ele, mas ele é muito assertivo e sabe exatamente o que quer. O mais desafiante numa comédia é que é preciso muito rigor. Estou a trabalhar com três colegas de quem gosto. Damo-nos todos bem e divertimo-nos muito com o texto. O que é o perigo nisto tudo? Volta e meia temos ataques de riso que temos que conter. Precisamos ter lá alguém para termos rédea curta. A comédia tem que ter rédea curta. Nós temos que fazer aquilo com muito rigor porque não se pode abastardar uma comédia.”

 

“Não tenho convites para novelas”

 

Apesar de ser no palco que se sente melhor como atriz, considera que é importante ir fazendo também televisão. “Gosto e divirto-me muito a fazer televisão. São registos completamente diferentes, como fazer cinema, fazer séries. Televisão é diferente, é outro ritmo, é outra coisa e o comportamento físico também. A leitura é outra. É tudo diferente no palco e na televisão tem de ser tudo contido. São escolas muito diferentes”, afirma. No entanto, lamenta que não se consiga vive só do teatro. “Não é uma questão de ser difícil, não se consegue mesmo. É precário, muito precário, e não se consegue mesmo. Temos muitos colegas que vivem sem dignidade nenhuma”, diz.

Em novelas os seus últimos trabalhos foram em Lua de Mel, uma pequena participação, e em Amar Demais, onde integrava o elenco principal. Carla Vasconcelos confessa que tem saudades e afirma: “Gosto de fazer novelas e queria voltar a fazer. Não me importo de gravar doze horas e fazer 40 cenas por dia.” Contudo, lamenta a falta de oportunidades. “É mesmo por falta de convites e de oportunidades. Não tenho convites para novelas, com muita pena minha”, revela.

Confrontada com a questão se já se sentiu ignorada no mundo da representação ou discriminada? A atriz não tem dúvidas e partilha: “ Sim mais do que discriminada, já me senti esquecida. Ninguém me diz que não faço porque sou gorda. Mas tenho essa noção. Assim como eu vejo que há outros colegas meus que não são escolhidos por outros motivos. Já vi pessoas serem recusadas por terem os lábios muito finos ou o nariz grande ou pequeno, por exemplo. Não imprime as características dizem eles”, acrescentando ainda: “Portanto, não tem a ver com o ser gordo, ser gordo é apenas uma das das muitas coisas que eles têm nas cabeças deles como critérios. Nos Estados Unidos vemos pessoas em cadeiras de rodas nas séries, anões e pessoas de todas as cores. É obrigatório a imagem ser diversificada. Aqui temos os mesmos atores de canal para canal, a fazer as mesmas coisas. Até os velhinhos se confundem que já não sabem qual a novela que estão a ver. É uma vergonha com tantos atores que há.”

Leia a entrevista na TV 7 Dias, já nas bancas!

TV 7 Dias
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Texto: Neuza Silva (neuza.silva@impala.pt); Fotos: Tito Calado
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