Carlos Quintas vive «numa situação dramática» e preocupado com o estado de saúde da mãe

Ator tem receio de deixar de conseguir ajudar a progenitora, que ficou acamada recentemente e agora necessita de ter duas pessoas a tomarem conta dela.

19 Abr 2020 | 17:20
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Atualmente, sem trabalhar e sem receber qualquer rendimento ao final do mês, por ser trabalhador precário do teatro, Carlos Quintas desabafa sobre aquilo que mais o preocupa neste momento. Não é o risco de infeção por covid-19 nem o medo de ficar sem dinheiro para comer, mas a sua mãe, que deu uma queda na passada semana. Gertrudes Quintas está acamada e totalmente dependente, não só fisicamente, como financeiramente.

Em declarações exclusivas à TV 7 Dias, o ator, que atualmente está totalmente dedicado ao teatro, explica que a sua progenitora «há muitos anos que tinha dado uma queda e ficou quase imobilizada, mas deslocava-se em casa devagarinho e ainda ia fazendo as suas coisas. Ela sempre foi uma mulher muito ativa, era professora de ioga. Até que a última queda que deu foi a que a atirou de volta para a cama.»

A residir em Faro, Gertrudes Quintas conta com duas pessoas que, diariamente, estão em sua casa para a ajudar em tudo o que necessita, a pedido do filho. No entanto, apesar de a sua mãe já estar bem acompanhada e vigiada, o facto de Carlos não estar a auferir qualquer ordenado ao final do mês é algo que o preocupa, e muito, pois as despesas são, agora, muito superiores. «Estou com uma despesa com ela superior às minhas economias. Ela está em casa própria, arrendada. Eu pago todas as despesas pois tenho a minha mãe a meu cargo.»

Além das circunstâncias em que o mundo se encontra, que deixou muitos trabalhadores sem rendimento ao final do mês, o ator tem ainda de lidar com outro problema, que nem sabe se consegue resolver: «Ela tem uma reforma irrisória, daquelas de €200 e agora nem pode assinar os vales correio porque não consegue assinar. Portanto, já tenho dois em casa que ela não conseguiu receber. Não sei se consigo abrir uma conta, porque sem a assinatura dela como deve ser não sei se vou conseguir e se não conseguir ela vai perder a reforma dela, que é mais esse que eu não tenho para lhe dar. Portanto, estou numa situação dramática, mais nesse aspeto.»

O facto de estar sem ordenado é algo que tem afligido Carlos Quintas. Apesar de as pessoas ligadas a esta área terem, por hábito, poupar dinheiro, devido à fragilidade da própria profissão, o montante que recebem já não é o mesmo de antigamente (já lá vamos) o que torna a situação destes atores mais complicada. Neste caso, o que tem preocupado Carlos é «mais a sobrevivência da minha mãe do que propriamente a minha. Eu como qualquer coisa. Eu desenrasco-me. Este caso é o que me está a dar mais angústia, mais tristeza, mais tudo.»

Já em relação ao facto de Gertrudes correr o risco de ser infetada com covid-19, devido à entrada e saída das auxiliares em sua casa, o ator garante estar confiante pois, segundo sabe, «estas que lá vão são cuidadosas, estão habituadas a tratar de pessoas de idade e sabem bem os perigos que correm. Agora, o que é que vamos fazer? Temos de ir ao supermercado. Neste caso não sabemos de onde é que a guerra vem, não sabemos onde o perigo está.»

 

Em casa de mãos a abanar

Inteiramente dedicado ao teatro atualmente, Carlos Quintas encontrava-se a ensaiar a peça Laura – O Musical, cuja estreia estava prevista para o final de março no Teatro Politeama. No entanto, esta pandemia que está a assolar o mundo obrigou ao cancelamento de todas as atividades culturais.

«Estamos todos a zeros, ninguém recebe nada. (…) Continuamos iguais, na mesma situação que temos desde sempre. Nunca há apoios para a classe artística. Os contratos são falsos, é recibos verdes. Não temos direito a nenhum subsídio. Viemos para casa de mãos a abanar, não recebemos», critica o ator.

Questionado sobre como se sobrevive numa situação destas, Carlos explica que estes artistas o fazem «com aquilo que se guardou, no meu caso por exemplo. Sempre fiz assim e vou continuar a fazer assim até poder. Quando não puder vou ter de recorrer a outras fontes. Não sei quais, porque ainda não passei por essa experiência. Mas acredito que haja colegas meus que estejam em situações catastróficas. Neste momento, alguns se calhar nem têm para comer.»

Ainda assim, juntar dinheiro é algo que para esta classe é complicado pois «só a renda de uma casa é praticamente um cachet que eles praticam neste momento. É difícil, é das profissões mais difíceis e aliás nem é reconhecida. A nossa profissão nem existe. Somos trabalhadores por conta própria. Já não há artistas, não há carteira, já não há atores de teatro, nada. O dia que precise não sei como vai ser e também não tenho muito. Porque o que se ganha em Portugal como ator, e sobretudo como ator de teatro, é um cachet que está neste momento por metade do que era há dez anos», lamenta.

Textos: Carla Ventura (carla.ventura@impala.pt); Fotos: Arquivo Impala e Reprodução Facebook

 

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