O Natal é uma época de união familiar. Porém, num ano em que o País e o Mundo vivem um período particularmente difícil, devido à pandemia que continua a causar o pânico e o terror, José Malhoa decidiu que este ano as celebrações serão mais contidas.
“Vou passar o Natal só com a minha mulher, Paula. Este ano não podemos passar o Natal com a família toda reunida, mas no próximo ano vamos fazer uma grande festa. Queria juntar os meus filhos e netos, apesar de ser sempre complicado juntar a família toda”, contou o músico à TV 7 Dias.
E se Natal é sinónimo de reunião familiar, é, inevitavelmente, também de consumismo. No entanto, o cantor já deixou um aviso aos seus entes queridos: “Não vai haver tantas prendas. Sou amigo dos meus filhos, sou pai de cinco, mas agora estou mais virado para os netos, porque os filhos, graças a Deus, trabalham. A minha Ana [N.R.: Ana Malhoa] e a minha India [N.R.: a sua neta, filha de Ana Malhoa] também não trabalham, porque são artistas e agora estão neste confinamento. Mas, apesar de este ano não conseguir dar prendas pessoalmente, eu sempre gostei de lhes dar antes do Natal. É claro que se encontrar alguma peça bonita vou comprá-la.”
Apesar das festividades serem à distância, o célebre cantor de música popular portuguesa garante que os afetos continuam muito presentes através das novas formas de comunicação. “Vamos falando através do Skype, do WhatsApp, e é assim que mandamos beijinhos uns aos outros”, teceu, embevecido, reforçando que apesar de o Governo não ter decretado limites nas festividades familiares dos portugueses, tanto ele como a sua família vão dar o exemplo, por forma a combater a propagação da COVID-19. “A Ana e a India também vão passar sozinhas, mas, nesta altura, elas não gostam de ter ninguém em casa, é muito perigoso.”
Ao lado da sua companheira, o cantor garante que irá ter uma consoada agradável, com o melhor de todos os ingredientes: o amor. “A Paula é espetacular. Já estamos juntos há oito anos e é uma querida, carinhosa. Conheço-a desde que tinha 17 anos”, relata, revelando como se apaixonou: “Era minha fã e ia a todos os meus concertos, na região do Porto, com a irmã, até que chegou uma altura em que nos apaixonámos. É uma mulher que se pegou a um cantor sem querer benefícios. Tem o seu trabalho. Dá-se bem com toda a minha família.”
A infância humilde de José Malhoa
Vive no Porto, mas foi em Lisboa que nasceu e viveu, até se tornar adulto. E é a essa altura que José Malhoa recua para recordar as consoadas ao lado dos seus pais e do irmão Vítor.
“Fui criado por uma família humilde. Os meus pais eram muito trabalhadores, mas muito humildes. Havia sempre comer em casa, mas não havia muito mais que isso. Vivíamos em Belém, em Lisboa, e apesar de não termos grandes luxos, recordo que nesta altura a minha mãe fazia questão que nada faltasse à mesa… Passámos belíssimos Natais, dentro da nossa humildade. Lembro-me que sempre quis ter uma bicicleta, mas em troca vinha uma carroça de madeira. Na noite de 24 nunca dormia, estava sempre a espreitar a chaminé, a perguntar ao meu irmão Vítor o que a mãe iria pôr no sapatinho. Eu sonhava sempre com a bicicleta e de manhã era uma deceção, porque estava lá a carroça de madeira.”
A sua prenda de sonho nunca chegou, mas nem por isso deixou de viver momentos felizes ao lado dos seus pais. “Não posso levar a mal os meus pais não terem dinheiro para me darem o que eu queria. A minha mãe era uma grande mulher, era mulher-a-dias, trabalhava todos os dias, e é uma honra dizer que os meus pais trabalharam muito para nos poderem criar. Naquela altura, era muito complicado, porque vivíamos em pleno salazarismo e os ordenados eram terríveis. Mas, mesmo assim, não nos faltava nada à mesa”, conta.
Texto: Telma Santos (telma.santos@impala.pt); Fotos: João Manuel Ribeiro; Produção: Zita Lopes; Agradecimentos: WoodSpace Design de Interiores: woodspacedesigndeinteriores.pt
(artigo originalmente publicado na edição nº 1761 da TV 7 Dias)