Diogo Carmona recorda passado de álcool, drogas e o fatídico dia em que ficou sem o pé

Ator conta, na sua obra, todo o seu percurso que passou por excessos, problemas psicológicos e um acidente que lhe mudou a vida. No entanto, desde final do ano passado que reatou a relação com a mãe.

10 Abr 2021 | 9:40
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“Há muitos anos deixei de ter uma figura maternal, olhando para trás, talvez ela nunca tenha existido no verdadeiro sentido da palavra. Hoje – e, provavelmente, para sempre – esta mulher é apenas a pessoa que me trouxe a este mundo e também a que mais me fez sofrer”, escreve Diogo Carmona no seu livro autobiográfico “Contra Todas as Probabilidades”, referindo-se à sua relação com Patrícia Carmona, com quem se envolveu em fortes discussões durante vários anos, que culminaram num processo de violência doméstica, no qual acabou condenado.

De acordo com o livro, que chega às livrarias no dia 7 de abril, em novembro de 2019 foi a última vez que falaram. O reencontro só aconteceu a 22 de junho do ano seguinte, no Tribunal de Cascais, onde o processo foi julgado. No entanto, muita coisa mudou desde que a obra foi escrita e, tal como diz o título, contra todas as probabilidades, as pazes foram feitas!

Foi a 9 de dezembro do ano passado que Patrícia recebeu a chamada de Diogo Carmona. Na altura, admite, ficou “a tremer, assustada porque não sabia o que é que ele queria”. No entanto, o telefonema do filho tinha um objetivo: Um pedido de ajuda. “Estava em casa, tive um ataque de ansiedade e pensei que tinha de lhe ligar. Foi uma espécie de eureka. Ela veio ter comigo”, recorda o ator, em declarações exclusivas à TV 7 Dias, admitido que, durante este período sentiu saudades da progenitora. “São tempos difíceis para toda a gente. Eu sou uma pessoa um bocado solitária às vezes, fecho-me na minha bolha, e a companhia da minha mãe foi bom nisso, mas continua a ser solitário”, garante. Para Diogo, esta aproximação consiste num “novo recomeço de uma boa relação. Agora tenho mais cabeça do que tinha, sou mais responsável, mais adulto do que há um ano ou dois, portanto acho que agora está tudo bem e é isso que interessa.”

Já Patrícia diz estar “feliz, aliviada. Por um lado havia alturas em que achava que não ia acontecer, mas no fundo sabia que era uma questão de tempo até o Diogo tomar consciência de que era importante fazermos as pazes porque gostávamos muito um do outro.”

No entanto, o ator não se pode aproximar da sua avó materna, por imposição do Tribunal, algo que deixa Patrícia bastante inquieta devido ao estado de saúde débil de Regina. “Eu tenho muito medo, tenho tido alguns sustos, a minha mãe tem ido parar ao hospital algumas vezes e esse é o maior receio que tenho. Mas há aqui uma lição: A forma como o Diogo está a gerir essa proibição de estarem juntos está a ser com uma maturidade que não estava à espera, tendo em conta todas as reações que teve durante o processo. Está a aceitar o que lhe foi imposto e que está a ser escrupulosamente cumprido por ambas as partes. No meio disto tudo é o que me dá força para tentar que este tempo que falta passe o mais rapidamente possível”, admite.

Já em relação ao livro, o jovem explica que recordar todos os momentos maus da sua vida “foi terapêutico. Acho que, depois de escrever o livro, estou mais eu e foi mesmo bom a nível pessoal e psicológico”. Em contrapartida, Patrícia garante que o irá “ler, vou comprá-lo, vai ficar na minha mesa de cabeceira, mas quando é que o vou ler? Ainda não tomei essa decisão. Eu quero aproveitar as coisas boas que estou a viver com o Diogo.”

 

Álcool, drogas e o fatídico dia

No seu livro autobiográfico, Diogo Carmona faz questão de explicar muitos dos conflitos que teve com a mãe e todos os acontecimentos que se sucederam, entre eles o consumo de drogas e álcool, os problemas na Escola Profissional de Teatro de Cascais, os internamentos por motivos psiquiátricos, o acidente do dia 26 de outubro, que o fez perder parte da perna esquerda, e a dolorosa recuperação.

Foi em setembro de 2015 que Diogo entrou na escola de teatro e que acabou por largar temporariamente a representação. Nesta fase, o ator já tinha descoberto que a mãe gastara praticamente o seu dinheiro todo e foi aqui também que começou a ter os seus primeiros surtos psicóticos. “Agora, tenho a plena consciência de que estes surtos surgiram porque me comecei a refugiar nas drogas leves. Fumava muitas ganzas com os meus colegas”, conta, partilhando ainda que, nesta altura, “queria estar junto dos meus colegas, conviver com eles, estar em festas, beber e fumar as minhas ganzas para, no fundo, escapar de todo o caos em que a minha vida se tornara”.

Entre 2015 e 2019, altura do acidente, foi quando os surtos psicóticos se tornaram mais intensos, com dois internamentos hospitalares pelo meio devido a aos problemas mentais. Mas o mundo de Diogo ruiu no dia 26 de outubro de 2019 quando, a sair do Parque das Gerações, em Cascais, pela linha do comboio acabou por ser colhido. “A única coisa de que tenho memória é de, numa fração de segundo, sentir a carruagem a bater-me na cabeça e nas costas e ficar debaixo dela. Senti dores lancinantes a percorrerem-me o corpo todo”, descreve. Foi quando viu o corpo cheio de sangue que se apercebeu que não tinha a perna esquerda. “Ao fim de alguns minutos, consegui ver o meu pé, que estava a vários metros de distância do meu corpo. Depois disso, entrei em estado de choque absoluto”. Apesar de as memórias serem muito turvas no que diz respeito ao acidente, o ator ainda se recorda de ter pensado que não podia ficar ali, no meio da linha. Arrastou-se durante vários metros, até que foi socorrido.

Diogo esteve internado durante um mês, altura durante a qual passou por várias psicoses. Atualmente, já tem uma prótese na perna esquerda, anda a ser seguido no psicólogo, a ser medicado e já fez as pazes com a mãe. No entanto, de um a coisa tem a certeza: “Não foi apenas um membro do meu corpo que ficou naquela linha de comboio, foi também uma parte de mim”.

Textos: Carla Ventura (carla.ventura@impala.pt); Fotos: Arquivo Impala

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