Rebentou uma bomba dentro do grupo Media Capital, que tutela a TVI e a produtora Plural Entertainment, responsável pela ficção nacional do canal. Na semana passada, no programa de investigação jornalística Alexandra Borges, foi denunciado um esquema milionário que enganou centenas de pais e crianças com falsas audições, alegadamente levado a cabo por empresas de Mário Oliveira. Esta quarta-feira, dia 10 de abril, houve desenvolvimentos.
Numa segunda parte da reportagem, a TVI avança que o diretor de castings da Plural Entertainment, Paulo Ferreira, foi suspenso de funções por suspeitas de envolvimentos neste esquema fraudulento. A Media Capital abriu um inquérito interno e está a investigar o caso.
Mariana é estudante de Teatro e tem 24 anos. Há oito, foi a um casting da Gold Models, na qual lhe prometeram entrada direta numa novela da TVI. «Iam começar, naquele momento, a gravar uma novela nova na Plural, Ouro Verde, que tinha uma grande ligação com o diretor de castings da Plural. [Paulo Ferreira e Mário Oliveira] Eram muito ligados, tinham parcerias», conta a jovem.
No final da formação, Mariana recebeu um diploma assinado por Paulo Ferreira, com uma menção ao cargo que desempenha na produtora. «Se reparar, no sítio onde eu assino, não está [lá] nada a ver com a Plural. Está que fez uma formação de 16 horas com o Paulo Ferreira», defende-se o visado na reportagem da TVI.
Contudo, o canal mostrou o documento e nele pôde ler-se: «Certificamos que Mariana Barbosa participou na Formação de Interpretação para a TVI, com a duração de 16 horas, tendo como o formador o Director de Formação Paulo Ferreira (Diretor casting Plural)». «Onde eu assino não está», insurge-se Paulo Ferreira.
Mais: o responsável pela pré-seleção dos atores que participam nas produções da TVI, entretanto suspenso, garante que nunca fez falsas promessas às crianças e jovens que formou naquela empresa. «Que eu tenha dito que possa abrir portas? Nunca o disse. Da minha boca nunca [ninguém] o ouviu», assegura, para mais tarde completar: «Eu aqui [refere-se às formações] não sou diretor de castings, sou apenas formador.»
Paulo Ferreira poderá ter ganhado entre 2500 a 7500 euros por fim de semana
Luís, nome fictício de um ex-funcionário de Mário Ferreira que aceitou participar na reportagem, desmente o responsável da produtora das novelas da TVI. «O Paulo falava muito da Plural, que era ele que fazia os castings da Plural, que era ele que contratava as pessoas para a Plural e que aquelas formações eram boas para poder, futuramente, entrar na Plural. […] Ele dava basicamente a entender que, se fossem àquelas formações, podiam entrar na Plural, quando na realidade todos sabemos que aquilo era só para inglês ver».
Uma versão corroborada por outro ex-funcionário: «O Paulo Ferreira sabia que se usava o nome dele para fazer este tipo de publicidade para ganhar mais alunos para as formações dele. E ele sabia porque ele ia à agência, ele tomava conhecimento das coisas todas, ele tinha os nomes das crianças, os contactos. Ele sabia perfeitamente que o Mário andava a usar o nome dele para divulgar estas formações de atores.»
Formações que custavam centenas de euros aos pais dos menores que se deixaram envolver nesta alegada fraude. Paulo Ferreira garante nunca ter recebido dinheiro das formações: «Eu não sou pago. Aquilo que eles me faziam – obviamente que eu não sou pago mas também não tenho de pagar – era devolver-me o dinheiro daquilo que me custava dar formações a eles».
Uma ex-funcionária, também ela sob o anonimato, desmente-o, afirmando que Paulo Ferreira «era muito bem remunerado». Ganharia, segundo esta mulher, «cerca de 2500 euros por turma». Ora, num fim de semana, segundo a mesma fonte, o diretor de castings da Plural poderia ter, no máximo, três turmas a quem dar formação. Contas feitas, no limite, Paulo poderá ter ganhado 7500 euros em apenas dois dias.
O visado volta a negar as alegações. «Sabe o que é que eu digo? Vão ver a minha conta bancária, vão ver que vivo numa casa que tem um empréstimo, que estou a pagá-lo há não sei quantos anos. Vejam, vejam o que é que eu tenho para poder estar a ganhar 2500 euros por formação». A ex-funcionária refere que os pagamentos eram feitos «em dinheiro» e não por transferência bancária.
«Plural repudia e condena veementemente este tipo de práticas»
Na pessoa de Luís Cunha Velho, administrador executivo da Plural, a produtora reage ao alegado envolvimento de Paulo Ferreira neste caso sublinhando que a empresa, «enquanto referência de formação de atores e procura de novos talentos, repudia e condena veementemente este tipo de práticas».
«A pessoa em causa foi suspensa. Foi aberta uma investigação, que está a decorrer e que se há de levar até às últimas consequências», promete Luís Cunha Velho, em declarações à mesma reportagem.
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