Diretora de Informação da RTP acusada de sabotar investigação de Sandra Felgueiras

Maria Flor Pedroso assumiu que contactou a diretora de uma instituição de ensino de que era docente para a informar de que seria um dos próximos alvos do Sexta às 9. A investigação acabou por cair.

13 Dez 2019 | 11:21
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Está longe de terminar o clima de tensão entre a diretora de Informação da RTP, Maria Flor Pedroso, e a equipa do programa de jornalismo de investigação Sexta às 9, coordenado por Sandra Felgueiras.

A nova polémica está relacionada com uma reportagem que estava a ser feita sobre o alegado recebimento indevido de dinheiro vivo no processo de transferência de estudantes do Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM) para outros estabelecimentos de ensino.

Um dos alvos seria Regina Moreira, a diretora do ISCEM, onde Maria Flor Pedroso era docente a tempo parcial. A discórdia entre direção e redação surgiu quando se descobriu que a diretora de Informação da RTP contactou a responsável da instituição para a informar de que a investigação estava a decorrer.

Foi a própria Maria Flor Pedroso quem confirmou este contacto, na reunião extraordinária do Conselho de Redação da RTP que aconteceu esta semana. Os factos são relatados na edição desta sexta-feira, 13 de dezembro, do Correio da Manhã, que refere ainda que a responsável da televisão pública justificou o contacto a Regina Moreira afirmando crer que estava a contribuir para a evolução da investigação de Sandra Felgueiras.

 

Reportagem ‘caiu’ após contacto de Maria Flor Pedroso

 

Este não foi, porém, o cenário que se observou. Sabendo da reportagem que estava a ser preparada sobre o ISCEM, a sua diretora terá sanado as ilegalidades que iriam ser reveladas na reportagem do Sexta às 9. Por isso, e segundo escreve aquele diário, a diretora de Informação «boicotou» uma investigação da própria RTP.

«Perante os factos graves que lhe foram transmitidos», o Conselho de Redação da RTP marcou um plenário para a próxima segunda-feira, dia 16 de dezembro, alegando que, face a este comportamento de Maria Flor Pedroso, não estão «reunidas condições para um clima de tranquilidade e confiança entre os jornalistas».

 

«Repercussões» após ida ao Parlamento

 

Este caso vem juntar-se à polémica criada em redor do alegado adiamento de uma reportagem sobre a concessão de exploração de lítio no concelho de Montalegre, também inserida no programa Sexta às 9, envolvendo negativamente o Governo, nomeadamente o Secretário de Estado da Energia, João Galamba.

A emissão deste trabalho jornalístico estaria marcada para 13 de setembro, mas tal só aconteceu a 11 de outubro, já os socialistas tinham saído vencedores das eleições legislativas.

A polémica chegou ao Parlamento, quando Maria Flor Pedroso e Sandra Felgueiras foram convocadas para uma audição da comissão de Cultura e Comunicação. E a jornalista não poupou na frontalidade, admitindo, pela primeira vez, que «era possível» transmitir aquela reportagem durante o mês de setembro, embora recuse a ideia de ter sido alvo de qualquer tipo de pressão.

«Não há nenhum processo de intenções contra ninguém», frisou na comissão parlamentar, revelando que o adiamento da reportagem sobre o lítio lhe foi informado numa «reunião presencial com Cândida Pinto [diretora-adjunta, a quem reporta semanalmente «tudo» o que a sua equipa faz] e Maria Flor Pedroso», invocando «ajustes na grelha».

Mais tarde, acrescentou: «Peço que os senhores deputados compreendam que tudo aquilo que vou dizer hoje poderá ter repercussões profissionais, não só na minha vida como na vida destas pessoas.»

 

Clique aqui para ler o depoimento completo de Sandra Felgueiras na comissão parlamentar e recordar as respostas de Maria Flor Pedroso na mesma audição.

 

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Texto: Dúlio Silva; Fotografias: Impala

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