Doença mental agravada por alcoolismo: Joana Barrios quebra silêncio sobre pai biológico

Joana Barrios falou abertamente sobre o pai biológico e abordou temas sensíveis: “doença mental não convenientemente tratada, agravada por um alcoolismo latente desde a adolescência”.

21 Dez 2021 | 22:05
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Joana Barrios recordou o pai biológico, que já morreu, num texto emocionante que partilhou nas redes sociais. Esta terça-feira, 21 de dezembro, o progenitor da atriz faria anos e esta fez várias revelações sobre a relação distante de ambos, contando que José Luiz sofria de alcoolismo e que tinha uma doença mental.

“O senhor da fotografia chama-se Zé Luiz e é o meu pai biológico”, começou por escrever Joana Barrios, como legenda de duas fotos em que surge, em criança, ao lado do pai. “Decidi chamar-lhe assim quando morreu e processei finalmente o seu impacto na minha vida. Comecei nessa altura, aos 23, a fazer psicoterapia para assimilar e fazer as pazes. Por respeito aos que ainda vivem e com quem vivo, nunca falo sobre o Zé Luiz, porque ele não foi uma pessoa muito espetacular, antes pelo contrário. No entanto, e porque ele é parte daquilo que sou, o 21 de Dezembro é sempre um dia complexo de viver, porque era o dia do seu aniversário. Muito simbólico, cristão – como ele”, acrescentou.

Neste texto, Joana Barrios descreve as parecenças que tem com o pai. “Os meus pés são iguais aos dele. A caligrafia. O gosto por alfarrabistas, antiquários e conservação também vem daí. E dizem outras coisas que na minha arqueologia sei que correspondem a uma verdade. Foi através dele que percebi o verdadeiro significado de empatia quando num rasgo o percebi enquanto lanchávamos na Biblioteca Municipal de Beja”, disse, explicando o que a levou a fazer esta partilha: “Falo hoje dele, não só pelo facto de ser o seu dia, mas porque sigo muitas páginas em que as pessoas utilizam o espaço público para encarar a dor e fazer as pazes com ela, e porque muitas vezes apagar a memória pode parecer aliciante, mas depois ela acaba sempre por vir ter connosco quando menos esperamos”.

“Nesta história, sou a criança que fez o caminho do adulto, sou a criança que decidiu não odiar o adulto, mas antes empreender todos os esforços para tentar compreendê-lo. A pessoa e o seu contexto. O Zé Luiz era um fulano inteligentíssimo que se deixou consumir por uma doença mental não convenientemente tratada, agravada por um alcoolismo latente desde a adolescência e por uma identidade que por medo nunca reclamou”, escreveu. “Também teve uma infância terrível. Sei que me deu a vida, antes de mais, mas também a necessidade de provar que valho a pena e a necessidade de ser amada. Isto que se segue não é uma escolha, mas sim uma inevitabilidade resultante do privilégio que tenho. Apesar de tudo, escolho olhar para o Zé Luiz como uma das figuras extravagantes da minha mitologia, porque é assim que se tornou confortável e até divertido recordá-lo”.

 

Joana Barrios diz que nunca odiou o pai

 

Joana Barrios confessa que, mesmo não tendo tido uma relação próxima com o pai, nunca o odiou. “Reconheço a dor que infligiu, porém pude libertar-me dela porque me deixaram ser criança e protegeram a minha infância e o seu universo mágico, onde pude efabular sobre essa minha mitologia e construir as razões que o terão levado a causar tanto sofrimento. Nunca o odiei. Lamento nunca lhe ter dito em vida que o compreendia e que tinha para com ele compaixão, perdão e até a possibilidade de iniciarmos uma nova relação. Mas nunca chegou a acontecer”, disse.

“A última vez que falámos foi sobre um filme que nunca vi. E é por causa de um filme que vi que decidi hoje escrever sobre ele, honrar o que me resta da sua memória e partilhar que nada está cristalizado e que escutar é essencial para avançar. Não posso dizer que sei que me iria compreender ou que iria gostar do que imaginei para ele, posso apenas imaginar que sim e fixar mais esse pedaço na sua cartografia”, concluiu.

 

Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: Reprodução redes sociais

 

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