Ena Pá 2000 continuam «atrasados mentais»: «As letras são a pornochanchada do costume»

Manuel João Vieira falou à TV 7 Dias da reedição de Projeto Ena Pá 2000, um clássico de 1991, do novo disco e da sua filosofia sempre contundente. A não perder!

07 Fev 2020 | 18:50
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Criado em pleno anos 80, os Ena Pá 2000 são uma banda que sempre se caracterizou pelas escatológicas letras das suas músicas, uma mensagem non-sense e um humor pornográfico. Estas características politicamente incorretas lançaram os Ena Pá 2000 para fora dos circuitos comerciais, nunca passando na rádio e raramente passavam pela televisão.

Mas, mesmo com todas estas vicissitudes certo é que, passados 36 anos, continuam com o mesmo espírito em palco, sempre acompanhados pelo icónico par de singulares bailarinas.

Lançada recentemente a reedição do seu primeiro LP, Projecto Ena Pá 2000 (91), esta foi a oportunidade para os Ena Pá 2000 fazerem um showcase na FNAC do Chiado, onde, mais do que meia dúzia de temas, acabariam por tocar o álbum inteiro, onde pontuam músicas como Marilú, És Cruel, Conan, o Homem Rã, Mulheres Boas, Baltazar Sexo na Banheira, entre outras.

 

Projecto Ena Pá 2000 reeditado em vinil quase 30 anos depois

 

No final, a TV 7 Dias falou com o líder, vocalista/guitarrista e líder carismático da banda, Manuel João Vieira, que é também professor, pintor, ator e até se pré-candidatou várias vezes à Presidência da República, como o Candidato Vieira, sob o lema «Vou deixar tudo na mesma.»

Quanto às razões que levaram a banda a reeditar o mesmo álbum, e novamente em vinil, passados quase três décadas, não foram particularmente especiais, como destaca: «Isto é curioso, pois havia uma outra editora que tinha tido a mesma ideia. Nós somos apenas uns artistas que nos pagam para aparecer, apesar de sermos uma parte de uma grande engrenagem que são os Ena Pá 2000. Estamos sim, a pensar em editar uma caixa, em formato de cubo, com as músicas de todos os discos dos Ena Pá 2000, bem como as do próximo também. Aliás, esta reedição faz sentido, pois este foi o nosso único LP em vinil.»

 

«As letras são a pornochanchada do costume»

 

Apesar de os Ena Pá 2000 terem um percurso musical com 36 anos de carreira, já antes tocavam num local que pouco tinha que ver com o ADN da banda. «Antes de formarmos este projeto, já tocávamos na Igreja de Campo de Ourique, em cima da relva…. isto nos anos de 84/85. Entretanto, estivemos envolvidos em outros projetos pelo meio, como os Irmãos Catita. Recentemente, gravei um disco de fados, algo que nunca havia experimentado anteriormente… O que é importante é que, basicamente e por dentro, nós estamos iguais, estamos tão atrasados mentais como antes. Nós quando começámos o que queríamos era divertirmos-nos, beber uns copos e, basicamente gostávamos de música. Quanto às letras, seriam a pornochanchada do costume», refere.

 

«Introduzi a minha língua na sua cavidade bocal»

 

Dos muitos concertos, dados um pouco por todo o país, nos locais e com os públicos mais improváveis e inusitados, a grande maioria potenciada por álcool, há um que Manuel João Vieira não esquece.

«Das coisas que mais recordo com carinho, apesar de não me lembrar do local concreto, pois estava muito bêbedo, é estar no palco todo contente e vi uma rapariga maravilhosa, com uns olhos lindos e um nariz… O paraíso. E então abandonei o palco e dei-lhe um beijo. Na continuação do beijo introduzi a minha língua na sua cavidade bocal. E ela mordeu-me a língua e não a deixava sair. Acabaria por a libertar e acabaria por ser uma noite memorável», recorda.

 

«Tivemos um outro em que estava só um cão a assistir»

 

Com uma carreira tão longa e tão controversa, também os seus concertos têm um público bastante variado, lembra: «Já estivemos em algumas terras em que o público estava todo de braços cruzados, a olhar-nos de alto a baixo com ar de desconfiado. Situações em que eram quatro espectadores… a dormir. Tivemos um outro em que estava só um cão a assistir. Em contraste, existiram multidões a gritar as nossas músicas. Fazemos entre dois a quatro concertos por mês e são completamente à balda. Não penso em nada e acontece ou não acontece. Há uns tipos que contactam outros e que me ligam e… mas, garanto, isto é tudo completamente à balda. Julgo que somos uma banda todo o terreno e estamos preparados para tudo… ainda.»

 

Não perca a entrevista na integra na edição desta semana da TV 7 Dias, já nas bancas.

 

Texto: Eduardo César Sobral; Fotografia: Helena Morais
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