Entrevista a Nuno Santos: “A TVI era uma estação frágil e débil. Hoje, é forte”

Em entrevista à TV 7 Dias, Nuno Santos faz um balanço do ano. Elogia Cristina Ferreira e assume que, há dois anos, a SIC “beneficiou muito da queda” do canal de que é hoje Diretor-Geral.

30 Dez 2020 | 19:30
-A +A
TV 7 Dias – Em janeiro, a TVI estava a 6,5 pontos percentuais de share da SIC. Em dezembro, está a aproximadamente 1,5 pontos percentuais. Que comentário faz a este ano a nível de audiências?

Nuno Santos – Acho que 2020 foi um ano muito positivo para a TVI. Foi um ano de recuperação, foi um ano de aproximação aos públicos, foi o ano em que invertemos, de facto, uma tendência muito negativa que trazíamos de 2019. O ano de 2019, que às vezes já me parece muito distante, foi o ano em que a TVI perdeu, num primeiro momento, a liderança do dia e, depois, a liderança do prime time [horário nobre]. E, portanto, [a TVI] estava muito frágil.

Em 2020, fizemos isto em dois andamentos. Num primeiro momento, estancámos essa perda e começámos a subir progressivamente. Foi o que aconteceu, diria, até meio do ano. Depois, aproximámo-nos e ficámos muito próximos da SIC, que foi o que aconteceu, sobretudo, nos últimos quatro meses. Temos vindo a ficar progressivamente mais próximos da SIC.

Do nosso ponto de vista, isso significa uma aproximação aos públicos e significa a recuperação de uma certa matriz da TVI, que tem que ver com uma programação mais portuguesa, que tem que ver com o contacto direto nos nossos programas de day time, que tem que ver com a nossa ficção… E com uma disponibilidade das pessoas para a TVI e para a nossa oferta.

Quais foram os principais fatores para esta recuperação da matriz da TVI de que fala?

Isso passa muito pela força dos nossos comunicadores. Há um elemento muito importante e que agitou muito o mercado, que tem que ver com o regresso da Cristina [Ferreira à TVI]. Acho que isso introduziu uma dinâmica nos últimos quatro meses, que acelerou este processo, como é evidente.

E, depois, a nossa ficção também cresceu sempre ao longo do ano, a partir do momento do lançamento de “Quer o Destino”. É bom pensar que nós, há um ano, por esta altura, tínhamos uma grande diferença no horário nobre para a nossa concorrência. Hoje, não temos. Estamos muito próximos. E, nesse tabuleiro, joga-se uma boa parte do jogo.

Portanto, esta aproximação tem sido progressiva. Se fizermos aqui um paralelo – e sem retirar mérito à SIC naquilo que sucedeu em 2018 e 2019 -, a SIC fez um belíssimo trabalho nessa altura mas beneficiou muito da queda da TVI. Acho que, agora, a nossa recuperação tem acontecido sem demérito do nosso adversário, porque ele tem feito o trabalho que tem de fazer. Isto é, tem-se mantido firme, tem tido boas propostas, tem tido um investimento significativo, tem mantido rostos fortes na antena, tem diversificado a oferta. Portanto, nós temos feito isto lutando contra um adversário que é consistente.

Fazendo também uma analogia ao que aconteceu há dois anos, Cristina Ferreira estreou-se na SIC em janeiro de 2019 e, nesse mês, a SIC passou a ser líder de audiências. A TVI esperava isso, em setembro, com o regresso de Cristina Ferreira à antena?

Acho que não se pode estabelecer um paralelo entre as duas situações. Quando a Cristina entrou no ar na SIC, a SIC tinha uma consistência que ela ajudou a cimentar. Quando a Cristina regressou, agora, à TVI, nós estávamos a dar um passo a que ela ajudou e está a ajudar bastante. Mas não estávamos na mesma fase. Não há comparação entre o momento em que a SIC estava nessa altura e em que a TVI estava nesta altura. Nós temos feito isto por etapas. Por isso é que a etapa que estamos preparados para lançar agora, no arranque de janeiro, é mais uma fase deste processo. E o que vamos fazer, depois, a meio de fevereiro é outra fase. E o que vamos fazer ainda mais à frente, durante o primeiro trimestre, é outra fase. Porque um edifício é construído em camadas.

Com tantas apostas de que está a falar para o primeiro trimestre, há a meta de, nesse momento, haver uma inversão e a TVI voltar à liderança das audiências?

A TVI, pela sua matriz, tem como missão liderar o mercado. Agora: a TVI está num mercado onde estão outros players. Nós controlamos aquilo que vamos fazer, mas não controlamos aquilo que os outros vão fazer. E cada um procura fazer o melhor e ir ao encontro das pessoas em cada momento. Quer dizer, é preciso pensar também no ano de 2020. Falo de nós todos, não é uma questão que seja exclusiva de um canal, embora tivesse atingido mais a TVI, porque temos muitos programas em direto. Posso lembrar por exemplo, que não tivemos durante largos meses programas como o “Somos Portugal”. Nós vimo-nos forçados a atrasar a estreia, em mais de um mês, do “Big Brother [2020]”, que era o nosso programa-âncora. Agora: o que digo é que nós, em 2021, acreditamos que temos uma situação mais estrutural da empresa e da nossa oferta de conteúdos, bastante mais consistente e melhor.

Necessária para chegar à liderança?

Capaz de chegar a esse patamar.

A curto prazo?

Não me vou comprometer. Não vou responder a essa pergunta. A TVI entra em 2021 incomparavelmente mais forte, mais consistente e com melhor oferta do que se tivéssemos a ter esta conversa em dezembro de 2019. Em dezembro de 2019, a TVI era uma estação frágil e débil. Em dezembro de 2020, a TVI é uma estação forte e preparada para ser a mais vista pelos portugueses. Há toda uma diferença entre uma situação e outra.

Em jeito de balanço, o que destaca como o melhor e o pior para a TVI neste ano?

O pior foi o facto de termos sido confrontados e de termos lidado com a situação da pandemia, porque isso implicou que tivéssemos de reorganizar equipas e métodos de trabalho, que tivéssemos de parar produções… Enfim, foi muito complexo. O melhor… Diria que o espírito de equipa que, neste contexto tão difícil, veio ao de cima e revelou a fibra das pessoas e a capacidade que elas têm de quererem uma empresa melhor e mais forte.

A TVI voltou a ser uma família? Esta é uma palavra muito associada à estação nos últimos tempos.

Sente-se esse espírito de família. É indiscutível. E acho que o regresso da Cristina ajudou muito em relação a isso, porque ela faz parte da matriz da TVI. Ela esteve aqui muitos anos. E esteve fora pouco tempo. Tem essa capacidade agregadora e isso é muito importante.

Na próxima segunda-feira, há uma revolução no day time: Maria Botelho Moniz e Cláudio Ramos de manhã e Manuel Luís Goucha à tarde. Em que é que estes programas se vão diferenciar daquilo que a concorrência oferece?

Bom, começo pelas manhãs. “Dois às 10” traz todas as componentes que um programa da manhã habituou os espectadores, no sentido de ser um programa de companhia, de proximidade, de histórias com as quais as pessoas se identificam. Ao mesmo tempo, vai ser muito surpreendente no tom, na ligação com as pessoas, na dupla de apresentadores e até em alguns temas que vai apresentar. Não vou dizer mais do que isso, porque isso seria abrir o segredo e não quero abri-lo.

E em relação a “Goucha”?

Em relação às tardes, diria: quando hoje pensamos e olhamos para o panorama televisivo nos grandes comunicadores que existem na televisão e naqueles que têm capacidade de conversas, de interagir com os protagonistas, sejam eles pessoas muito conhecidas ou conhecidas circunstancialmente por algum tema ou por alguma coisa que fizeram, acho que há muito poucas pessoas – diria até que não há nenhuma – com a capacidade e até autoridade de fazer as perguntas do Goucha.

Acho que esse espaço, também com um conjunto de abordagens que vão ser surpreendentes – o programa tem dentro [dele] uma série de espaços que o vão baralhar, que o vão desconstruir e que vai ser surpreendente para o espectador – para termos um formato que é também um formato de companhia e um formato de proximidade. Um formato muito emocional, obviamente, como é próprio deste registo de programas, mas que vão tornar a nossa programação de dia mais forte.

No caso de “Goucha”, não se trata de um mero programa de conversas, como oferece a concorrência no mesmo horário?

Não vou falar dos programas dos nossos concorrentes. Conheço-os bem, conheço as pessoas que os fazem, que os produzem e que os pensam…

Estou a perguntar se o programa “Goucha” não é um mero programa de conversas.

Queremos que ele seja mais do que isso. E ele vai ser mais do que isso.

Há aqui dois cenários distintos. De manhã, a TVI é líder e pretende, por isso, manter essa liderança. À tarde, a TVI não é líder. Há a pressão para que a liderança chegue à TVI também nesse horário?

A pressão é a pressão que colocamos sobre nós próprios. Essa é a única pressão que temos.

 

Texto: Dúlio Silva; Fotos: Arquivo Impala e reprodução redes sociais
PUB