«Ele não pode ficar impune». Entrevista a mãe que também acusa médico do bebé sem rosto

Carla é outra das mães que também alegam que foram vítimas de negligência médica por parte de Artur Carvalho, o médico que não detetou as malformações graves do bebé sem rosto.

02 Dez 2019 | 22:50
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Artur Carvalho, chefe de serviço de obstetrícia e ginecologia do Hospital de Setúbal há 29 anos, foi suspenso preventivamente até seis meses pelo Conselho Disciplinar da Ordem dos Médicos, depois de Rodrigo – conhecido por bebé sem rosto – ter nascido a 7 de outubro último, sem olhos, nariz e uma parte do crânio.

No entanto, o médico soma processos de negligência, casos arquivados, e já tem mais de dez queixas na Ordem dos Médicos. Ana – que prefere não dar a cara –, Vanessa e Carla cruzaram-se pelos piores motivos: alegam que foram vítimas de negligência médica por parte de Artur Carvalho. Pedem agora «justiça» e que «ninguém se esqueça» dos seus filhos, relatando as suas histórias ao Portal de Notícias.

A 30 de junho de 2010, aos nove meses de gestação, Carla deu à luz Martim, o segundo filho, que veio juntar-se a Gonçalo, na altura com cinco anos. Depois de uma gestação sem quaisquer problemas, fez o parto no Hospital de Abrantes, por se encontrar de férias no Entroncamento. Minutos depois de Martim ter vindo ao Mundo, colocaram-lhe o bebé em cima da barriga, mas rapidamente o voltaram a levar para outra sala.

«Fiquei apreensiva. Passados 20 minutos, ainda estava a ser cosida, o médico aproximou-se da minha cabeceira e perguntou-se se sabia o que era a síndrome de Down», recorda Carla com os olhos cheios de água, contando que ficou em choque e só conseguiu responder que sim com a cabeça. «Suspeitamos desta doença, mas vamos pedir uma análise para o Instituto Ricardo Jorge», disse-lhe o médico, algo que se veio a confirmar um mês depois já com o resultado na mão.

 

Dependente de antidepressivos durante 4 anos

 

A vida desta mãe mudou 180 graus. Só teve vontade em sair de casa passados meses e, durante quatro anos, viveu dependente de antidepressivos, tendo recebido apoio psicológico. «Estive muito mal… tiraram-me o chão», reconhece Carla, que nunca rejeitou o bebé: «Sempre o amei». Na altura, pensou questionar o médico, tal era o tamanho da sua revolta. «Não percebia como o médico não tinha detetado nada nas ecografias, que só duravam uns escassos cinco minutos».

O seu impulso foi travado pelo marido, que insistia só terem um caminho: ‘arregaçar as mangas’ e seguir em frente. Aquilo que fizeram até agora. «Com estas notícias revivi aquilo que me aconteceu até, porque sempre fiquei com a ideia de que algo não batia certo na minha história». Carla, Vanessa e Ana juntaram-se a outros pais – todos com algo para contar sobre Artur Carvalho – criaram um grupo no WhatsApp e estão a ser agora acompanhadas pelo mesmo advogado.

 

Carla exige justiça: «Ele não pode ficar impune»

 

«Ele não pode ficar impune», sublinha esta mãe que sabe do caso de outra senhora que foi acompanhada pelo mesmo obstetra e descobriu aos quatro meses de gestação que o bebé estava morto. Quando questionou o médico sobre o que fazer, a resposta dele terá sido: «‘Agora expulsa-o sozinho, cai sozinho’. Como é possível alguém dizer isso a uma grávida que teve de ir para o Hospital Garcia de Orta e fazer um parto normal?!», questiona incrédula.

Martim esteve com a mãe até aos 12 meses e, atualmente, com nove anos, frequenta o terceiro ano numa escola de ensino regular. «No entanto, ele tem um atraso cognitivo de dois anos», explica a mãe, lamentando que o Estado não comparticipe as muitas terapias (fala e ocupacional) de que o filho precisa. «Os outros meninos gostam muito dele… Agora só quero justiça».

 

Leia a reportagem completa no Portal de Notícias.

 

Texto: Carla Rodrigues e Jéssica dos Santos; Fotografias: Zito Colaço
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