TV 7 Dias – Dois anos e meio depois de “Casados à Primeira Vista”, como vê a sua participação?
Lídia Teles – Foi um desafio. Negativo na altura, mas que me trouxe expansão como ser humano mais à frente. Cresci, amadureci, tive oportunidade de ver o Mundo com outros olhos e de desenvolver um lado mais atento às relações humanas. Quando não crescemos pelo amor, a dor trata de nos dar a lição. O “Casados à Primeira Vista” foi o início de uma grande jornada difícil. Dois anos depois, vejo que fiz um caminho e, só por isso, valeu a pena.
Voltava a entrar num programa deste género?
É uma boa questão, mas que me deixa entre dois mundos. A primeira resposta (a mais impulsiva) seria não. Afinal, a experiência obrigou-me a sair da minha zona de conforto e a lidar com “fantasmas” que tive de superar. Contudo, se parar para pensar no trajeto que fiz como ser humano, depois do programa, e até agora, questionar-me-ia, ponderando, sobre essa possibilidade.
Quem mais a desiludiu em todo este processo?
(risos) Houve tanta coisa e tantas pessoas, que seria preciso outro livro para o explicar. Na verdade, se pensar seriamente sobre isso, chego à conclusão de que tudo na vida tem o seu propósito para ser cumprido num espaço e num tempo. E não é diferente com as pessoas. Elas chegam e partem. Quando as coisas e as pessoas deixam de fazer sentido, simplesmente saem porque já executaram o seu papel.
Continua a ter contacto com algum dos seus colegas?
Não um contacto direto, seja pela distância que nos separa, seja pelo tempo que a vida de cada um exige, mas estamos ligados de alguma forma, nem que seja pelas redes sociais.
Como está a relação com o Francisco?
Como já o referi, a vida real de cada um dos participantes seguiu no seu ritmo e responsabilidades do dia-a-dia.
Depois deste tempo, como está o seu coração?
Muito maior! Mais tranquilo, mais sereno, mais saudável. Conversamos muito e aprendi a ouvi-lo, descobri que ele sabe sempre o caminho. Se usarmos mais o coração, cometemos menos erros.
Já depois do programa, teve de lidar com a morte do seu pai. Como foi esse processo?
A morte nunca é tranquila. Sendo o nosso pai, o processo não é só muito mau, é difícil de aceitar com tranquilidade. Foi muito árduo e entreguei-me à tristeza, deixei que ela levasse parte da minha alma. Muitas vezes senti que tinha morrido em vida. Que me faltava um membro, uma estrutura. Não foi simples ficar à tona e sei que o meu pai, lá onde ele está, me ajudou muito a não desistir. Muitas vezes, senti-o ao meu lado, muitas vezes me segredou que a vida tinha de continuar.
Alguém lhe falhou nesta altura?
Em alguns momentos, alguém nos falha. Neste momento em específico, sinto que sim, o porquê não sei, mas sei que foi a partir daqui que tive de olhar para a minha sombra, encarar o que não queria ver enquanto pessoa. Foi este mergulho que concebeu “Guerra de 2 Mundos”.
No início deste ano teve um grave problema de saúde. O que aconteceu?
Sim, surgiu-me um tumor de 13 centímetros, que quase me tirou a vida devido à infeção que causou no meu corpo. Cresceu silenciosamente, de um dia para o outro, e fiquei entre a vida e a morte após dois dias da passagem de ano.
No meio deste panorama da COVID-19, teve o acompanhamento necessário?
Antes do episódio do tumor, não. Fui parar três vezes às urgências, com 24 horas de espera, a arder em febre, a insistirem que tinha COVID, quando não tinha! Literalmente, puseram-me no meio da COVID, isolada de tudo e todos. Foi precisamente no pico da pandemia, só porque apresentava um quadro febril. O processo de diagnóstico levou duas semanas. Até que correu muito mal.
Esteve em coma. Como foram esses momentos?
Eu andava por outras dimensões, a visitar outros lugares. O mais interessante é que tinha consciência onde estava, mas estava tão leve e tão curiosa com o que estava a ver que fazia imensas perguntas aos seres espirituais que estavam comigo. Até que me fizeram a pergunta: “Queres vir embora ou ficar? Temos uma janela para te tirar”, ou seja, a morte. O meu estado era muito grave. Uma vez que estás sempre a dizer que aqui na Terra não há nada para ti, não te identificas com nada… Perguntei-lhes em que dimensão estava. Não me deram uma resposta certa. O que me foi dado foi apenas a oportunidade de ver aqueles seres! Foi uma experiência incrível. Nesse mesmo instante, apenas me lembrei do meu filho e quis voltar.
Achou que ia morrer? Ou os médicos disseram que podia não sobreviver?
Acreditei que morria, sim. Os médicos disseram-me de uma forma muito direta qual era a minha situação e eu podia não sobreviver. Todo o meu estado, inclusive o de sangue, era muito grave.
O que é que uma pessoa pensa num caso destes?
Não pensei nada, não tinha força para isso!
Como começou a melhorar?
Acreditei muito na minha equipa espiritual. De saber que tinha escolhido ficar. Todo o apoio que tive, família e pessoas amigas, foi essencial. Contudo, a recuperação tem sido muito difícil.
Acha que foi um milagre? Voltou a acreditar em Deus?
Acho que foi mais um forte abanão! Ninguém que tenha uma segunda oportunidade de bater na “porta de cima” e voltar para baixo fica igual, é impossível! Se voltei a acreditar em Deus? Sempre acreditei no mundo celestial, até porque o vejo.
Como reagiu o seu filho?
Levou o maior susto da sua vida. Ficou extremamente protetor e viu que a mãe não é apenas a durona, mas um ser frágil que, de um momento para o outro, quase foi embora sem ele se despedir.
O que é que ele lhe disse?
“Gorducha, dá-me um abracinho!”, com a sua voz doce. Era ele que pegava em mim ao longo da minha recuperação. Não deixava que mais ninguém o fizesse em casa, até porque fiquei sem andar durante algum tempo. A cadeira de rodas fez-me companhia durante algum tempo.
Depois de passar por um pesadelo como este, vê a vida com outros olhos?
Sem dúvida. Quando começo a ter pensamentos menos bons, porque o dia-a-dia turva as nossas perceções, e lá vem a reclamação, a tristeza e a insatisfação, paro e penso: “Lídia, tudo é emprestado neste plano. As únicas recordações que levas são as memórias e a experiência da maior dádiva e do maior milagre por cá – a vida”.
Agora tem de ter vários cuidados?
Nada mais é como antes. É melhor!
Como nasceu o livro “Guerra de 2 Mundos”?
Através de uma enorme reflexão, depois de um exercício incrível de autoconhecimento e ponderação. Foi uma necessidade colocar em palavras os meus pensamentos e poder passar a mensagem que acabara de descobrir. O livro nasceu porque o Mundo mo pediu.
Quanto tempo levou?
Foi um processo de quase três anos. Inicialmente, estava previsto sair em 2020, mas fiquei gravemente doente, o que veio alterar os planos. Decidi, então, que ele sairia na mesma altura em que o meu pai faleceu. Afinal, começou com ele e foi lançado com ele. Já está no mercado desde o dia 11 de maio.
Em que é que se inspirou?
Sem qualquer dúvida, nos jovens, na minha experiência de vida, enquanto criança e adolescente.
Nem sempre foi um processo fácil?
Este projeto ganhou vida própria e sofreu muitos boicotes (de toda a espécie) antes de nascer. Tive mesmo alturas em que quis desistir, porque escrevê-lo foi também sinónimo de reviver muitas dores. Tive de ser confrontada com coisas estranhas que aconteciam à minha volta e com uma intensidade que chegou a ser assustadora. Não foram dias pacíficos, bem pelo contrário. Foi uma tempestade até ao fim.
Este processo ajudou-a a ver a vida de outra forma?
Completamente! Durante este processo descobri quem é a Lídia. Descobri a sede das pessoas em obter respostas simples, sobretudo acerca de como é o mundo espiritual, o processo da morte, quem são os sensitivos, como identificá-los.
O que podemos esperar desta obra?
Resumidamente, um manual espiritual, onde estão abordados vários temas: morte, reencarnação, bullying, mediunidade, entre muitos outros. O livro possui uma mensagem para quem procura entender a
linha que separa a vida da morte. Uma linha tão ténue que liga invisivelmente dois mundos, colocando-os apenas em paralelos distintos, mas que facilmente se confundem.
Se tivesse de dedicar este livro a alguém, a quem seria?
Como diz no livro, aos meus guias, mas eu acrescento aqui ao meu pai.
Como é a sua ligação com a mediunidade?
Muito forte. É um caminho duro. Aceitar a mediunidade ainda mais. O ser humano, enquanto ser espiritual numa experiência humana, é dotado de sensibilidade e criatividade, que é desperdiçada escandalosamente. Pais, professores, religiões, organizações não devem continuar a ignorar o que é evidente. E nós somos mais do que um corpo. Não teimem em querer tornar isto uma verdade absoluta, porque não o é. Questionem-se mais!
Foi vítima de bullying?
Sim, muito! Sofri o inimaginável, desde baterem-me, chamarem-me nomes, humilharem-me, dizerem que tinha olhos de víbora e que não devia existir são apenas alguns (os mais meigos). Fui exposta a conflitos interiores dramáticos, que não sei como lhes sobrevivi.
Texto: Tânia Pereira Dias (tania.dias@impala.pt); Fotos: Gentilmente cedidas por Lídia Teles
(entrevista originalmente publicada na edição nº 1783 da TV 7 Dias)