Cláudio Ramos abriu o coração para falar de homossexualidade e daquilo que sofreu ao longo da vida devido ao facto de gostar de homens. O apresentador da TVI conta que foi muito atacado, humilhado por humoristas e até olhado de lado por colegas de trabalho.
“Ser gay não é uma escolha. Não é uma opção. E não é algo que tenha de ser ‘aceite’ ou ‘tolerado’ pela grande maioria, da mesma forma que nascer com olhos castanhos, cabelo loiro, dois braços e cinco dedos também não tem de ser aceite ou tolerado. Ser gay é uma característica e é assim que deve ser visto”, começou por escrever na sua crónica de uma revista semanal.
A seguir, Cláudio Ramos fala da ignorância que ainda existe e revela que, desde que assumiu a sua orientação sexual, recebe inúmeras mensagens de pessoas que ainda sofrem descriminação. “Desde que publicamente disse que sou gay, não há um dia que não receba uma mensagem de alguém que vive de perto esta realidade na busca de um conselho, porque não o conseguem em mais lado nenhum”, escreve na TV Mais, referindo a necessidade que sente em juntar a sua voz a esta luta e que é cada vez mais importante denunciar atos de homofobia.
“Também os vivi e, se não os vivencio agora, é porque tenho a noção plena que sou um privilegiado na forma como tive a capacidade individual de gerir tudo. Fui, até ao momento em que publicamente disse ‘gosto de um homem’ muito atacado. Atacado por gays, atacado por heterossexuais, atacado por associações que achavam que deviam ter um voto na matéria, atacado por gente que queria que o meu tempo fosse o deles e atacado por miúdos e homens que usavam a sua ignorante masculinidade para me tentar diminuir”, contou. “Já trabalhando em televisão, fui usado por humoristas de forma humilhante, fui apontado por críticos e cronistas como se a minha condição sexual fosse mais importante que o meu trabalho, fui olhado de lado por colegas de trabalho, fui colocado de parte e fui resistindo“, disse Cláudio Ramos, sublinhando a importância que a filha, Leonor, teve na sua vida: “Tive a gigante sorte de ter a minha filha e para ela ter um pai homossexual é uma coisa natural”.
No final deste texto, Cláudio Ramos revela as razões por que resolveu falar agora sobre homossexualidade: “Não está tão distante o tempo em que, em Portugal, ser homossexual era severamente punido. Passaram SÓ 48 anos (desde o fim da ditadura) e, apesar de ser um direito que achamos estar adquirido, basta olhar à volta para entender que podemos perder tudo de repente. Por isso, e por muitas outras coisas, nunca serão demais as vozes que se juntam para que não se percam direitos adquiridos pelos muitos que deram a voz e corpo na batalha há anos para que, hoje, eu pudesse escrever isto livremente”.