Lembra-se de Helena Vieira? Está na Casa do Artista, onde queda a deixou imobilizada

Afastada dos palcos há cerca de uma década, Helena Vieira decidiu ir viver para a Casa do Artista depois da morte da mãe. À TV 7 Dias, explica a decisão e conta como está a viver a pandemia.

07 Abr 2020 | 18:50
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Helena Vieira tem 67 anos e muitos deles foram de entrega ao público, quer como cantora lírica, quer como atriz. Os holofotes deixaram de a iluminar, mas depressa deu «a volta por cima». Da mesma forma agiu quando a mãe morreu, «já muito velhinha»«lúcida até ao fim».

Com a partida de um pilar de uma vida, Helena Vieira disse «não» à solidão e mudou-se para a Casa do Artista. A decisão chocou muitos e nem os seus esconderam a surpresa. «Acabaram por pacificar-se com a ideia», conta, à TV 7 Dias, a também jurada do programa da TVI Uma Canção Para Ti, numa entrevista em que partilha ainda como uma lesão, praticamente superada, a obrigou a «ficar imobilizada durante uns tempos».

 

 

Pandemia? «O Universo fartou-se das porcarias que o Homem fez»

 

TV 7 Dias – Como está a viver este momento?

Helena Vieira – Estou a vivê-lo bem, porque estou muito bem resguardada. A Casa [do Artista] tem ótimas condições para nos defender, entre aspas. Vou falando por videochamada com o meu filho e com o meu irmão e, assim, vou tendo notícias da família. Vamo-nos vendo através de um vidrinho.

Parece muito tranquila. No início, preocupou-a o facto de, de um momento para o outro, vivermos confinados uns dos outros?

A única preocupação foi ser uma pandemia. Preocupação no sentido da falta de cuidado que o Homem teve em relação ao planeta Terra. Penso que o Universo nos mandou uma limpeza geral para ver se aprendemos a viver melhor depois de isto tudo passar. Porque vai passar, claro. Acredito nisso.

Acredita que isto foi uma resposta do Universo?

Acho que sim… Foi o Universo que se fartou do mal e das porcarias que o Homem fez durante muitos anos. Guerras, por exemplo. Agora, estamos um bocadinho a pagar por isso. Mas temos de aprender uma lição e sair daqui fortalecidos e com uma outra forma de viver.

Disse que se sente «muito bem resguardada» na Casa do Artista. Houve alguma mudança no dia-a-dia da instituição como forma de precaução?

Houve. Não há visitas. Só temos as nossas auxiliares, que são devidamente fiscalizadas à entrada e que andam de luvas e máscaras por aqui. Somos super protegidos, tanto que, graças a Deus, ainda não houve nenhum caso [de infeção por Covid-19]. Mesmo no refeitório, a distância entre pessoas já variou. Há dois turnos de refeições, para não ficarmos todos uns em cima dos outros. Quem precisa de compras, elas são trazidas de fora, são desinfetadas e só depois são entregues. Sinto-me perfeitamente resguardada, muito segura. Entre aspas, quase que não se dá por esta situação.

Julgo saber que os funcionários da Casa do Artista funcionam sob um regime de rotatividade.

Exatamente. Já era assim e agora continua. Há turnos e, à entrada, é-lhes medida a febre e dadas máscaras e batas, por exemplo. Nesse aspeto, estou muito segura.

Está atenta às notícias ou prefere desligar-se um pouco do que a rodeia?

Vejo as notícias daquilo que é necessário, mas recuso-me a ver as ‘fake news’, como agora é moda, e aqueles alarmismos todos. Isso não é positivo. O Dr. Júlio Machado Vaz fez um artigo sensacional em que uma das coisas que diz é que o medo do desconhecido é o que nos cria menos defesas. Achei extraordinário aquele texto.

O seu filho está no Porto e o seu irmão no Algarve. Como é que eles estão?

Felizmente, estão bem. Para o meu neto, que tem nove anos, é um bocadinho difícil mantê-lo em casa, mas lá se vai inventando coisas para ele fazer. Ele entendeu muito bem o que os pais lhe explicaram, só que ficar em casa… Como eles têm um jardim pequeno, ele de vez em quando vai para lá dar uns pulos para ver se alivia o stress [risos].

Com isto tudo, já não vê a sua família há quanto tempo?

Há dois, três meses.

E as saudades apertam.

Apertam muito, mas, se Deus quiser, isto acaba depressa e vamos abraçar-nos todos uns aos outros, não só família como amigos. Sou muito otimista e muito esperançosa.

 

«Parti a cabeça do fémur e tive de ficar imobilizada durante uns tempos»

 

Sofreu recentemente uma lesão, creio que já na Casa do Artista.

Sim, parti a cabeça do fémur e tive de ficar imobilizada durante uns tempos. Estupidamente, dei uma queda.

E a recuperação foi lenta.

Foi um bocadinho… Ainda por cima, a inatividade não ajudou, mas como tenho aqui fisioterapia, que é ótima, rapidamente me pus a andar de canadiana. Agora, felizmente, já estou recuperada.

Já está há quanto tempo na Casa do Artista?

Vai fazer dois anos em setembro.

Quase dois anos depois, acredita que foi a melhor decisão que tomou?

Ai, foi! Apanhei um bocadinho todos de surpresa quando disse que ia para a Casa do Artista. Acharam: ‘Que horror! Vai para um lar de idosos!’ Não, não é. Não é porque sinto-me felicíssima aqui. É uma casa cheia de luz e onde vou conhecendo pessoas, algumas das quais já conhecia da minha profissão e que agora, apesar de já estarem um bocadinho mais velhinhos, estão cá, felizmente. Há um convívio extremamente alegre.

Além de uma «casa cheia de luz», é também uma casa cheia de vida.

É. Muito. Apesar de ser uma residência para idosos, as pessoas aqui são diferentes. Não são velhinhas. São ativas.

Porque acha que as pessoas não entenderam bem a sua decisão de ir para aí?

Acharam que eu vinha para um lar de idosos e acharam que eu não tinha idade para vir para cá. Mas isto não é só para idosos. É para artistas que já acabaram a sua carreira, que já estão na reforma. Disse que vinha para aqui porque infelizmente perdi a minha mãe. Fiquei sozinha. Não ia para o Algarve nem para o Porto viver em casa fosse de quem fosse. Então, decidi vir para aqui.

A sua mãe partiu há quanto tempo?

Já morreu há dois anos, antes mesmo de vir para aqui. Partiu já muito velhinha, aos 93 anos, e lúcida até ao fim. Disse: ‘Ai, agora o que vou fazer? Não me apetece ficar sozinha.’ Lembrei-me da Casa do Artista, da qual sou sócia há muito tempo. Aqui, nunca estou sozinha.

A solidão era algo que a preocupava?

Eu não gosto muito da solidão. Quando quero ficar sozinha, vou para o meu quarto, vou para o computador. Aí, estou um bocadinho recolhida comigo. Depois, venho para as salas de convívios, onde temos atividades suficientes para nos entretermos.

A partida da sua mãe foi um golpe muito duro?

Foi, foi. A pessoa pensa sempre que os pais nunca vão partir. O meu pai partiu em 2015 e eu, depois, fiquei com a minha mãe. Quando ela partiu, disse: ‘Não, aqui não fico.’

 

«A Casa do Artista é o princípio de outra vida»

 

E as pessoas mais próximas de si, nomeadamente o seu filho e o seu irmão, como reagiram à decisão?

O meu irmão reagiu muito bem e achou ótimo, até porque ele já conhecia a Casa. O meu filho também reagiu bem, mas fez-lhe impressão. Perguntava-me: ‘Ó mãe, mas tu tens idade para ir para lá?’ [risos]. Depois, ele veio cá ver-me, com a minha nora e o meu neto, e gostou imenso da Casa. Acabaram por pacificar-se com a ideia. Isto não é um lar para velhinhos.

Talvez porque tinham ideia que isso fosse o início do seu fim?

Talvez fosse isso. Mas não. É o princípio de outra vida.

Casa do Artista é sinónimo de quê?

Sentido de humor, por exemplo. Isso para mim é necessário e aqui não falta. Fartamo-nos de rir.

Mas há também muitos momentos de saudade?

Alguns têm, não do facto de terem feito carreira mas de outros tempos em que certas coisas não tinham acontecido. Mortes, por exemplo. Mas eu procuro eliminar essa tristeza para que recordemos como algo bom e que temos de agradecer.

Dizia há pouco que a Casa do Artista era para «artistas que já acabaram a sua carreira». A Helena já pôs um ponto final na sua?

Já dizia o outro que, quer queiras, quer não, se tem sempre um bem voluntário. Não tinha trabalho. Em vez de ficar a chorar as mágoas sobre o leite derramado, preferi pôr água ao lume e vir fazer chá para aqui [risos].

Lidou bem com a falta de trabalho?

O meu último trabalho foi para aí há oito anos. Custa muito. Mas a mim custou-me mais quando um governo acabou com a Companhia de São Carlos, porque estávamos no auge, do que propriamente isso [a falta de trabalho], porque é uma consequência da vida. Os anos vão avançando e dá-se lugar aos novos.

E isso não a magoa?

Já não. Dei a volta por cima.

 

Texto: Dúlio Silva; Fotografias: Arquivo Impala e reprodução redes sociais

 

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