De João Baião a Diana Chaves, passando por Teresa Guilherme, Maya e Pedro Teixeira, todos já fizeram a coreografia da Dança do Peru, que á música do momento em Portugal. O mérito deste feito é de Jean Cremona, cantor brasileiro há muito radicado em Portugal. Só que desenganem-se aqueles que acreditam que o sorriso estampado na cara do cantor é o espelho de uma vida fácil e cheia de sucessos. Em conversa com a sua TV 7 Dias, Jean Cremona não deixa nada por contar.
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“Tive uma infância muito feliz, embora tenha começado muito cedo a trabalhar no mundo da música”, começa por dizer. Salientando que “desde criança” alimentava o sonho de cantar e ser artista. Jean Cremona recorda que o pai ficou “reticente” com o desejo do filho, mas que a mãe “sempre viveu o sonho” do cantor. E tudo parecia correr bem na vida do cantor que se pode orgulhar de ter vencido “os três maiores concursos de televisão do Brasil”. Jean Cremona até já tinha gravado um álbum quando decide vir para Portugal.
Jean Cremona dormiu na rua em Portugal
“A decisão de abandonar o Brasil surge por querer vingar na música fora do meu país e também porque no Brasil o número de artistas e concorrência musical é enorme”, explica. Só que as coisas não correram como planeado e Jean Cremona acabou a dormir na rua. “Olhando para trás percebo que não vim preparado e estruturado caso as coisas não corressem bem. Vim para conquistar o sonho. O dinheiro vinha contado, não consegui trabalho no meio artístico e tive que procurar trabalho em outras áreas para poder sobreviver”, refere.
“Queria pedir ajuda e ao mesmo tempo tinha vergonha”
“Falar desse tempo é muito complicado para mim. O viver na rua em pleno inverno, sem ter o que comer. Estares deitado no banco do jardim, veres as pessoas a olhar para ti, queria pedir ajuda e ao mesmo tempo tinha vergonha. Guardo na memória o gesto de bondade de alguém que eu não sei quem era, pois quando acordei tinha uma manta por cima de mim. Lembro-me de acordar e pensar que ainda há pessoas com bom coração”, acrescenta com emoção.
Foi então que Jean Cremona colocou o sonho em causa e ponderou regressar ao Brasil. “Pensei muitas vezes que não precisava passar por isto, mas também não queria voltar como derrotado. Sempre fui lutador e naquela altura foi isso que pensei… não vou desistir”, desabafa. Com a garantia de que foi o sonho de triunfar na música que levou a que se mantivesse por cá.
Participação em Ídolos vale despedimento
Até que, em 2004, surge a participação na segunda edição de Ídolos, a mesma que deu a conhecer Luciana Abreu e que valeu um despedimento a Jean Cremona. “Estava a trabalhar num restaurante e vi na televisão o anúncio para participar. Não devia dizer isto mas é a verdade. Roubei o telemóvel da patroa pois não tinha e inscrevi-me. Mais tarde, eles entraram no restaurante para dizerem que entrei. A minha patroa ficou furiosa e claro que fui despedido”, diz entre risos. Já as memórias da época não podiam ser melhores. “Foi uma época fantástica da minha vida. As brincadeiras entre os concorrentes e principalmente as amizades que trouxe comigo”, conta. “Nunca esperei chegar tão longe pois era o primeiro brasileiro a participar num programa do género em Portugal”, acrescenta.
Entre as amizades feitas no programa destaca-se a de Luciana Abreu, que chegou a entrar num vídeo do cantor. Será que Jean Cremona já antecipava o futuro de sucesso da estrela da SIC? “Não imaginava, embora reconheça o enorme talento que ela tem”, responde.
Dança do Peru nasce de brincadeira com as filhas
A verdade é que Ídolos foi o ponto de viragem para Jean Cremona, que não para de somar sucessos. “Foi a partir daí que a minha carreira começou a andar como eu esperava e sonhava quando saí do Brasil. Não posso mentir e dizer que foi fácil, tive que lutar muito para ter a carreira que tenho hoje, mas felizmente tive a grande ajuda do meu ‘irmão’ e padrinho musical Jeff Negreiros e irmão Rui Gonçalves”, destaca.
É então que chegamos à famosa Dança do Peru com que provavelmente já se terá cruzado na televisão ou nas redes sociais. “A ideia surgiu numa noite de brincadeira com as minhas filhas”, começa por dizer. Garantindo nunca ter pensado que fosse algo viral. “Colocámos no TikTok como qualquer outro vídeo de brincadeira”, refere. E qual será a celebridade que Jean Cremona mais gostou de ver a dançar a sua música? “João Baião e Teresa Guilherme”, responde sem hesitação.
Participação em Cacau e documentário
Além do talento musical, Jean Cremona tem formação em representação e chegou a trabalhar como ator no Brasil. E também em Portugal. Depois de ter entrado em Ouro Verde, Jean Cremona fará parte do elenco de Cacau, a nova aposta da TVI. “Foi um convite da Plural através da agência Cast 39. Vou fazer o mesmo personagem que já tinha feito em Ouro Verde. É um bandido de uma favela brasileira. Trabalhei em teatro no Brasil durante quatro anos e é algo de que sempre gostei”, conta.
Outra das novidades será um documentário sobre a sua vida e carreira, que deverá ser lançado em 2024. “Vou tentar resumir um pouco a minha história de vida”, diz. Sem esconder que não será fácil reviver os momentos mais complicados. “Principalmente a morte do meu pai. Eles vieram para Portugal para terem uma vida mais tranquila, mas infelizmente em 2017 o meu pai faleceu de repente sem estarmos a espera. É uma dor inexplicável”, refere.
Filhas com gosto pela música
Boa parte do percurso de Jean Cremona tem sido feito ao lado de Catarina Padrão e o cantor conta como se conheceram. “Foi num espetáculo em que a Catarina estava presente. Quando terminei a atuação convidei-a para dançar e a nossa história começou”, recorda. Desta relação nasceram duas filhas: Thais e Thaissa. “Infelizmente, a carreira sempre me roubou tempo familiar, mas sempre que posso estou a 100% com elas, a minha atenção é toda para elas”, diz. E será que vamos ter mais cantoras na família? “As duas têm interesse na música, mas por enquanto prefiro que estudem”, graceja
Música inspirada nas filhas
A novidade mais recente da carreira de Jean Cremona é o tema Calma, uma balada bastante especial para o artista, que muitos associam a temas mais agitados. “No fundo gosto mesmo de baladas. Aquilo a que chamo de Pop Samba. Inspiro-me muito no Alexandre Pires, que admiro e com quem já trabalhei. Mas temos de gravar coisas para as pessoas se divertirem e dançarem, algo de que também gosto muito”, explica.
Quanto a Calma, “gravei este tema em homenagem às minhas filhas (que vão participar no vídeo) e a todos os pais que têm filhas mulheres. Que acabam por crescer e ir embora. Algo que custa a todos os pais. Foi feita com a ajuda de compositores que são amigos e que estão no Brasil”, revela. “Já conta com quase 3 mil streams só numa plataforma. O que mostra que as pessoas estão a aderir bem. A música está a tocar em algumas rádios em Portugal e no Brasil”, refere com orgulho. “Quero agradecer à Vidisco pela confiança e ao Rui Gonçalves, produtor musical. E também aos compositores”, diz. E os fãs que se preparem que em 2024 vem aí a Tour Origens. Por fim, desafiamos Jean Cremona a imaginar a vida daqui a 10 anos. “Vou estar sentado no sofá a assistir a tudo o que fiz durante a minha vida”, antecipa sorridente.
Texto: Bruno Seruca (bruno.seruca@worldimpalanet.com) Fotos: DR