Jorge Martinez lança farpas a vários artistas portugueses e nem Tony Carreira escapou

De Salvador Sobral a Tony Carreira, o nortenho não poupa nas críticas. Em entrevista à TV 7 Dias, o artista explica como é que o “tramaram” no Festival da Canção.

15 Mar 2020 | 18:20
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É sem falsas modéstias que Jorge Rocha, mais conhecido no meio artístico como Jorge Martinez, se autointitula como o “espetáculo em pessoa”, garantindo ainda que «Portugal é pequenino para um artista» como ele. Porém, há músicos portugueses que não partilham da mesma opinião e fizeram questão de criticar as performances do nortenho e apontar o dedo a quem lhe dá canal. «Esta elevação da mediocridade causa-me algum transtorno, ainda mais quando emitida pela RTP, que é de ‘todos nós’. Nem todo o humor deve ser ridículo, nem todo o ridículo tem condições para ser humor», sublinhou Miguel Gameiro, vocalista dos Polo Norte, acrescentando que «não tem piada nenhuma, é só mesmo ridículo».

À TV 7 Dias, e com o Castelo de Santa Maria da Feira como pano de fundo, Jorge Martinez não se coibiu de lançar farpas ao cantor. «Eu ligo à música, à interpretação, ao visual, à performance, à loucura, a tudo! E isso é que faz o artista completo! Não é estar ali quietinho de microfone na mão», atira, exaltado. «É uma pessoa medíocre, limitada, pequenina, débil e frágil. Esse tipo de pessoas nunca poderá sequer comparar-se a mim, porque perde logo!», continua, em tom assertivo. «Não convém muito meterem-se comigo porque tenho muitos anos de carreira e uma experiência brutal, que nem imaginam. As críticas que o Gameiro me fez, para mim, são zero. Mas uma coisa eu sei, a inveja é terrível», afiança.

Desde jovem que o seu grande sonho é conquistar a Eurovisão. Contudo, esse desejo tem-lhe sido negado. «Participei no primeiro Festival da Canção do Norte em 1978. Foi a primeira vez que subi a um palco para cantar. Resultado: Termino com grande destaque na primeira página do Jornal de Notícias, não sendo o vencedor, até porque não poderia ser, uma vez que a minha canção não era um original», conta Jorge, revelando alguns pormenores.

«Nuno Galopim, um dos responsáveis pela escolha dos concorrentes do Festival da Canção, contactou alguns dos candidatos. Se o menino Nuno Galopim faz esses convites, eu quero saber quem foi o criminoso que eliminou a canção que eu enviei este ano. Uma canção que podia vencer não só em Portugal, como vencer a Eurovisão! O Galopim e os outros que estão na escolha não se podem pôr no patamar em que se têm posto! Há vários anos que estou à espera de um convite», diz, consternado.

«O Pedro Fernandes, há uns anos, no 5 Para a Meia-Noite, lançou o repto e eu disse que aceitava ir. Juntos não conseguimos… O Jorge Martinez não pode ir a um Festival da Canção porque está impedido, censurado! Perguntem ao Nuno Galopim porque é que não me deixam concorrer no meu próprio país! Quem são os outros que têm sido convidados e que não têm carreira nenhuma à minha beira? Não aceito! Se continuar esta situação, eu pego e concorro noutro país, represento outro país, o que é uma vergonha para Portugal», acrescenta Jorge.

O antigo cabeleireiro não deixa nada por dizer e segue com o rol de críticas, desta vez a Salvador Sobral.

«Eu sou um artista para chegar à Eurovisão e deixar a Europa inquieta, surpreendida, e arrasar por completo. Aquilo que se passou com o Salvador Sobral foi um tiro no escuro, correu bem por milagre e por outros pormenores que eu não vou adiantar. Ele disse que espetáculo era só cantar, não deve ter mais nada. Mas como é que este indivíduo
pode dizer algo tão grave? Ele é um artista, nunca pode pensar daquela forma, e voltamos aos Gameiros city. São os tais que são incapazes! Só sabem interpretar, nada mais. E esses, como são incapazes, criticam. São todos comidos de cebolada! Não têm hipótese», atira o cantor de Vila Nova de Gaia.

«Portugal precisa de mostrar que é capaz de vencer com um grande espetáculo, um grande performer e uma grande canção. Essa pessoa tem um nome, está cá, é português, é o Jorge Martinez! Parem com a palhaçada de me tentarem eliminar», vinca o artista.

 

«Sou um animal de palco»

Tem 30 anos de carreira, estudou em Londres e já passou por vários países. A pirotecnia que usa em palco sempre foi a sua imagem de marca. O cantor atingiu o auge da sua carreira com a banda Jorge Rocha & Lipstick e garante que a jornalista Felícia Cabrita foi uma alavanca preciosa para o sucesso. «A Felícia era uma espécie de talismã. Se te classificasse como extraordinário, serias extraordinário. Se achasse que eras uma porcaria, serias uma porcaria. Ela vai, pelo jornal Expresso, fazer uma reportagem. O dia estava horroroso, o palco era ao lado de um cemitério e estava tudo enlameado. Nem queria acreditar naquele cenário», explica o nortenho.

«Achei que ia ser uma miséria, mas veio gente de todo o lado, fiquei mais descansado e saltei para o palco. O espetáculo eu sabia que ia ser arrebatador, não dou hipótese! Até os como todos! Só sei que depois disso fui capa no Expresso, onde a Felícia me chamou de Prince português», afirma, orgulhoso.

O sucesso da banda durou dez anos e Jorge Martinez recorda com carinho os momentos áureos da sua carreira.
«Era a loucura, atuei para milhares de pessoas em tudo quanto eram festas e casinos e queimas das fitas. Tive os padres a dizer para não irem ver os meus shows porque eram um escândalo», avança, lamentando:

«A minha banda era um grupo a abater por muita gente. Resisti sempre. Chamavam as bailarinas de Cicciolinas… mas que Cicciolinas? Alguém mostrava os peitos? A dizer que iam sem cuecas… Oh pá, cuecas foi uma coisa que eu criei com o logótipo do grupo e meti numas cuequinhas. Levava sacos e sacos de cuecas para os espetáculos, para vender.»

O cantor foi obrigado a mudar de estratégia para vingar em Portugal. «Portugal fez-me a vida negra. Desapareci durante dois anos, mudei o cabelo castanho e curto para loiro e comprido, mudei o nome para Jorge Martinez e anuncio-me como um artista novo, sem historial», assegura o bailarino. «Sou um animal de palco. Não sou como alguns cantores que andam aí e que ganharam milhões a copiar os outros! Há uns anos, havia um top, chamado Made in Portugal, onde o senhor que plagiava músicas esteve lá durante um ano» diz, referindo-se a Tony Carreira.

«Assim é fácil virar herói, imagina ser eu a estar lá um ano. O país endoidecia porque eu não sou um cantor quietinho!»

 

Preso na América!

Conquistar a América sempre foi um dos seus objetivos. No entanto, tem sido difícil alcançar esse feito. «Quando houve aquele problema com os refugiados, eu estava a chegar aos Estados Unidos. Ia com bilhete de ida e volta, mas houve um oficial que achou que eu estaria a mentir. O indivíduo não gostou da forma sincera como eu respondi, levaram-me para um local e sujeitaram-me a pressões. Diziam que eu era um refugiado… Não tive medo nenhum! Até os comia! Fizeram-me a vida negra, estive três horas em interrogatório, algemado», alega o artista. «Arrastaram-me pelo aeroporto. Meteram-me no avião e disseram que sou inadmissível nos Estados Unidos. Mas um dia vou conquistar a América. Não se vão ficar a rir», sublinha.

Textos: Maria Inês Gomes; Fotos: João Manuel Ribeiro

 

(Artigo originalmente publicado na edição 1721 da revista TV 7 Dias)

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