Jornalista João Moleira soube da morte do pai em direto: “Tive de aguentar ali a emissão”

João Moleira revela como lidou com a notícia da morte do pai em direto na SIC. Jornalista continuou no ar durante mais um hora e meia.

20 Mar 2021 | 21:40
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João Moleira, jornalista da SIC, esteve no “Alta Definição”, esta tarde (20), à conversa com Daniel Oliveira. O pivô da estação de Paço de Arcos mostrou-se um homem de família, admite que quebrou o confinamento da covid-19 para não deixar a mãe sozinha e conta como recebeu, em direto, a notícia da morte do pai, enquanto apresentava a edição da manhã.

“O dia mais difícil em estúdio foi a morte do meu pai. Eu estava no ar quando soube, no dia 8 de janeiro de 2016. O meu pai já estava muito mal no hospital. A minha vida durante os seis meses anteriores à morte do meu pai era sair daqui (da SIC) às 10 da manhã, ir buscar a minha mãe, ir para o hospital e passar o dia com ele. Dava-lhe o almoço, o jantar, faziamos-lhe companhia … Na véspera dele morrer deixaram-nos estar lá até um bocadinho mais tarde, saímos de lá eram nove da noite. O meu pai morreu depois das 22.00”, conta o jornalista, explicando que apenas souberam no dia seguinte de manhã.

“Eles a partir de uma certa hora da noite não avisam. Eu estava a apresentar a edição da manhã quando recebo a mensagem da minha irmã a dizer que lhe tinham ligado do hospital e eu percebi que já tinha acontecido. Tinha um grande amigo que era responsável pelos cuidados intermédios do hopital de Vila Franca, mandei-lhe uma mensagem e ele ligou-me. Atendi a meio de uma peça, que sabia que tinha três minutos e ele disse que o meu pai morreu“, recorda de lágrimas nos olhos. “E depois foi aguentar-me mais uma hora e meia no ar…”

Daniel Oliveira quis saber como é que ele teve sangue frio. “Não sei até hoje como é que consegui. Foi dia mais difícil porque tive de aguentar ali a emissão, não disse a ninguém o que tinha acontecido. O que é que eu ia fazer? Ia sair a meio do jornal? Não ia adiantar nada porque o meu pai já tinha partido. Foi piloto automático. E quando me vinham as lágrimas aos olhos tentava pensar em coisas positivas, boas. Durante esse periodo falei com a minha irmã e combinamos que ela ia para o hospital e eu ia buscar a minha mãe”, partilha, recordando a viagem que fez até chegar junto da mulher que lhe deu vida.

“A viagem foi má. Contei aos meus tios pelo caminho e foi a primeira vez que chorei. A minha preocupação era abraçar a minha mãe, a minha irmã, os meus sobrinhos e ao mesmo tempo tratar da parte burocrática que tem de ser tratada. Eu quis dormir em casa com a minha mãe e ela não deixou”, diz.

As últimas palavras que disse ao pai

João Moleira recordou ainda as últimas palavras que disse ao pai: “Gosto muito de ti e um beijinho”. “Não sabia que era naquela noite que ia acontecer. Os ultimos seis meses do meu pai já foram de grande inconsciência. O meu pai morreu de diabetes, com as feridas que foi tendo no corpo, o antibiótico, o coração foi enfraquecendo, o rim entrou em falência… Foram-me explicando que é o rim que causa esse tipo de inconsciência quando está mais fragilizado. Naquela última tarde, ele não falou muito, mas estava consciente e sorriu muito para nós”, partilha ainda.

Cinco anos passados ficaram as recordações e as saudades das coisas boas que ficaram por viver. O jornalista admite que se tivesse oportunidade de voltar a falar com o pai dir-lhe-ia “amo-te”. “Se eu conseguir ser metade do bom homem que ele foi eu já fico contente”.

João Moleira quebra regra em confinamento contra a covid-19

João Moleira nunca teve filhos, mas revê nos sobrinhos e afilhados esse amor de pai. O jornalista garante que a família é um dos dois pilares da sua vida em conjunto com o trabalho e que tenta conciliar os dois de forma igual. Por isso mesmo, e não só, João admite que quebrou uma regra em pleno confinamento de covid-19.

 

“Iir todos os dias almoçar com a minha mãe. Com os cuidados de saber se ela precisava de alguma coisa, se se sentia sozinha, que ela não saísse de casa… o contacto fisico não existe, o último beijo que dei à minha mãe terá sido antes de 14 de março do ano passado, vou lá todos os dias, estou permamentemente de máscara e só quando estamos a comer em pontas afastadas da mesa. Para certa camada da população é dificl explicar estas regras. Só quando ela viu casos é que percebeu. Desde que ela ficou sozinha que a principal missão dela do dia é fazer-me o almoço. Se eu não for lá almoçar não estou a contribuir para o bem estar dela”, explica.

 

Texto: Ana Lúcia Sousa
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