Marina Ovsyannikova anda nas bocas do mundo. A jornalista russa entrou esta segunda-feira, dia 14 de março, no estúdio do Canal Um, meio de comunicação controlado pelo estado da Rússia, durante o direto e colocou-se atrás da pivô do noticiário, Ekaterina Andreeva, enquanto segurava um cartaz em que apelava ao fim da guerra com a Ucrânia.
A editora do Piervy Kanal surpreendeu com o cartaz que apela à paz, acusando o canal estatal de mentir e alertando os telespectadores a não acreditarem nas “fake news” que estão constantemente a ser difundidas na Rússia.
“Sem guerra. Parem com a guerra. Não acreditem na propaganda, eles dizem mentiras aqui. Russos contra a guerra”, pode ler-se. “Não à guerra!”, gritou a comunicadora, que foi imediatamente retirada do plano, sendo que a transmissão do estúdio foi rapidamente alterada para uma peça sobre outro assunto.
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“O que está a acontecer na Ucrânia é um crime e a Rússia é o agressor”
Antes deste momento peculiar, Marina, cujo progenitor é ucraniano, recorreu às redes sociais e deixou um vídeo com uma explicação, onde aponta, sem medos, o dedo a Vladimir Putin. “O que está a acontecer na Ucrânia é um crime e a Rússia é o agressor (…) Toda a responsabilidade desta agressão recai na consciência de uma pessoa: Vladimir Putin. O meu pai é ucraniano e a minha mãe russa. Nunca foram inimigos. Infelizmente, durante os últimos anos trabalhei no Canal Um a promover a propaganda do Kremlin e por isso sinto vergonha”, disse.
A jornalista sente-se “culpada” por ter ajudado a transmitir notícias falsas e “mentiras” que foram contadas, ano após ano, na televisão para que o “o povo russo” ficasse “zombificado”.
“Ficámos calados quando tudo isto começou em 2014. Não protestámos quando o Kremlin envenenou Navalny. Continuamos a assistir silenciosamente a este regime desumano. E agora todo o mundo se virou contra nós. Dez gerações dos nossos descendentes não vão poder fazer esquecer a vergonha desta guerra fratricida”, acrescentou.
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Zelensky agradece a Marina
Devido a este comportamento, que aos olhos do regime Russo é proibido, acabou na detenção de Marina Ovsyannikova. Até este momento, Marina esteve desaparecida várias horas e, segundo a BBC, surgiu no tribunal esta terça-feira.
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, já veio a público elogiar o ato de coragem da jornalista, afirmando que estava “grato” tanto a Marina, como a outros russos “por tentarem espalhar a verdade”.
Texto: Inês Borges; Fotos: DR