Aos 55 anos, José Raposo é um dos mais respeitados atores da sua geração. Na próxima semana, os telespectadores da RTP1 vão vê-lo num papel mais dramático, em Circo Paraíso, a segunda de três séries da estação pública de televisão na qual participa (a primeira foi País Irmão e a terceira, Sara, deverá estrear-se em outubro).
«Custa-me que os outros canais não apostem em seriados de vários géneros», diz o ator, acrescentando que espera que os outros canais generalistas sigam o exemplo da RTP1. «Espero que a TVI e a SIC comecem a apostar neste tipo de formatos. São mais caros mas é uma aposta na qualidade».
Durante o mês de agosto, o consumo televisivo apenas de canais generalistas (RTP1, RTP2, SIC e TVI) registou o valor mais baixo de que há memória: 47,5%. Ou seja, as pessoas estão a ver cada vez menos televisivo. Sendo que são as telenovelas que ocupam continuamente os lugares cimeiros dos programas mais vistos, quisemos saber a opinião do ator sobre as disparidades salariais que existem entre atores e apresentadores.
«Eu acho que deviam [estar mais distribuídos]! Eu estava rico!», brinca José Raposo. «Tenho feito tanta coisa e era fixe verem a minha conta bancária para perceberem que isso é tudo mentira. É óbvio que há certos casos, mas são muitos pontuais. Regra geral, acho que não se paga bem aos atores portugueses».
Em 2016, ainda sob a alçada do diretor de programas Daniel Deusdado (cujo sucessor é José Fragoso), a RTP estreou uma linha de ficção de produção nacional que tem mantido, com séries regulares. No entanto, e apesar deste maior mercado, José Raposo afirma que «continua a haver uma disparidade salarial entre os ordenados, os contratos».
O ator de 55 anos está numa situação que não vivia há alguns anos: sem nenhum projeto em vista. «De repente estava a fazer cinema, teatro, televisão e dobragens e agora, por incrível que pareça, não estou a fazer nada!»
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Sem cruzar os braços, o ator já está a preparar uma digressão de teatro com a mulher, Sara Barradas e Vera Mónica, com quem protagoniza Circo Paraíso. «Não me posso queixar, tenho sido um sortudo. Esta fase faz parte da nossa profissão. Por isso é que vou para a estrada fazer uma peça. Parar é que não!»
«Os cómicos são postos de parte neste país»
José Raposo tem sido parte fundamental dos núcleos cómicos das novelas da SIC. Embora, nos últimos tempos, tenha feito papéis dramáticos. «Agora descobriram que eu sou um ator normal, que posso fazer outras coisas», brinca.
«As pessoas que fazem comédia têm uma grande versatilidade. Porque o mais difícil é fazer rir. Senão toda a gente fazia», conta. «Tem-me surgido este registo mais sério nas séries da RTP, o que me dá um prazer fabuloso».
Já com saudades de fazer comédia, José Raposo lembra que «há muito tempo que não se faz na televisão uma boa comédia».
«Como é possível?», questiona José Raposo, acrescentando: «acho que as pessoas se zangaram com os cómicos, não sei porquê. Isso vê-se até nos outros trabalhos. Quase ninguém faz comédia. Não percebo».
Nas novelas da SIC Coração d’Ouro e Amor Maior, José Raposo integrou os núcleos cómicos das tramas, um elemento das telenovelas fundamental para a popularidade destes formatos.«Os núcleos cómicos das novelas servem exatamente para aligeirar aquilo. E, digam o que disserem, as pessoas gostam muito daquelas personagens», afirma José Raposo.
O ator vai mais longe e, referindo nomes da comédia que antes tinham espaço no pequeno ecrã, como Octávio de Matos, Carlos Areia, Luís Aleluia, é taxativo: «os cómicos são postos de parte neste país. Isto ninguém diz. É criminoso!»
Texto: Raquel Costa | Fotos: Arquivo Impala