Judite Sousa critica negócio da venda da TVI: «Nem todos os fins justificam os meios»

A antiga diretora-ajunta de Informação da TVI, que saiu de Queluz de Baixo em novembro, veio a público criticar a desvalorização em 50 milhões de euros da empresa que (ainda) detém o canal.

26 Dez 2019 | 20:55
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A compra da TVI pela Cofina está a um passo de concretizar-se. E o negócio vai custar (ainda) menos à empresa que detém títulos como o jornal Correio da Manhã e o canal de televisão CMTV.

Se, em 2017, a Altice propunha adquirir a Media Capital por 440 milhões de euros, a Cofina acordou, em setembro passado, pagar 255 milhões de euros para concretizar a operação – 181 milhões de euros mais o valor correspondente à dívida da empresa.

Só que, na passada segunda-feira, a Cofina anunciou um novo acordo com a Prisa, a espanhola que ainda tutela a Media Capital, que culmina com a ainda mais acentuada desvalorização da dona da TVI. Numa missiva enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, é comunicado um aditamento ao contrato de compra que refere que «as partes acordaram na redução do preço de aquisição previsto no Contrato de Compra e Venda, que é agora de 123.289.580 euros, assumindo um ‘enterprise value’ de 205.000.000 euros». Ou seja, houve uma depreciação de 50 milhões de euros.

 

«Temos sempre de aprender com os que sabem mais e melhor»

 

Nas redes sociais, Judite Sousa, que acordou a rescisão do seu contrato com a TVI em novembro passado, após nove anos de ligação a Queluz de Baixo, veio tecer críticas ao desenvolvimento deste negócio.

A antiga diretora-adjunta de Informação do canal tutelado pela Media Capital nunca se referiu concretamente, todavia, a nenhuma das partes do negócio. «À margem da quadra [natalícia], soubemos hoje que, num curto período de tempo, um negócio na área dos media foi desvalorizado em 50 milhões de euros», começou por escrever a jornalista.

De seguida, elencou «algumas conclusões» desta desvalorização. E não foi meiga nas palavras. «Nem todos os fins justificam os meios (frase mil vezes repetida mas sempre atual)», começou por notar a jornalistas, para depois continuar: «Há decisões que se não tivessem sido tomadas no seu devido tempo também elas estariam fortemente desvalorizadas hoje».

Judite Sousa termina com uma orientação que, por não ser clara, pode levar a segundas interpretações: «Em algumas áreas, temos sempre de aprender com os que sabem mais e melhor do que nós. Mas isso só está ao alcance dos competentes e seguros das suas convicções não sustentadas em preconceitos.»

 

 

«Sou livre», diz Judite Sousa na primeira reação ao negócio

 

A exposição do antigo braço-direito de Sérgio Figueiredo, o diretor de Informação da TVI, vem acompanhada por uma fotografia da jornalista captada no Dubai, Emirados Árabes Unidos. «Gosto do risco» e «sou livre», acrescentou Judite Sousa, em forma de hashtag, apelidando-se de «aventureira».

A primeira reação da profissional, nome incontornável na história do jornalismo televisivo em Portugal, acontece pouco mais de um mês depois de, também nas redes sociais, ter anunciado a sua saída da TVI. A decisão com a administração do canal foi tomada «depois de uma longa e serena ponderação» e vem fechar um ciclo de nove anos.

 

 

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Depois de uma longa e serena ponderação, decidi terminar a minha relação profissional com a TVI. Foram oito anos que me permitiram, em total liberdade, vivenciar a paixão pelo jornalismo com sentido de dever e responsabilidade ao serviço de uma empresa privada. Este é o momento para expressar gratidão a todos os meus companheiros de trabalho das diferentes áreas da empresa. Os últimos anos foram particularmente difíceis, mas em palavras ou na reserva do silêncio, entendi sinais de conforto. Quero expressar o meu agradecimento ao José Alberto Carvalho que me desafiou para esta viagem, com amizade, em 2011. Quero igualmente agradecer ao Sérgio Figueiredo as oportunidades profissionais que me proporcionou nestes últimos quatro anos e que me ajudaram a ultrapassar momentos mais difíceis da minha existência. Finalmente, uma palavra aos espectadores da TVI cujo carinho e apoio nunca me faltaram #omeucomunicadooficial #acordotvi

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Judite Sousa, recorde-se, mudou-se para Queluz de Baixo a convite de José Alberto Carvalho. Os dois saíram, então, da RTP para formar a direção de Informação da TVI, ele como diretor e ela como sua adjunta. A jornalista despedia-se, assim, daquela que foi a sua casa profissional durante mais de três décadas.

 

O que falta no negócio da compra da TVI pela Cofina?

 

Depois do ‘ok’ da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), foi a vez de, no início do mês, a Autoridade para a Concorrência dar parecer positivo à compra da TVI pela Cofina.

Oficializada esta tomada de posição, as partes interessadas no negócio têm dez dias úteis para se pronunciarem sobre esta decisão. Finalizado este intervalo de tempo, o negócio terá, por fim, o seu desfecho.

 

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Texto: Dúlio Silva; Fotografias: Impala e reprodução redes sociais
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