Susana Vieira nasceu a 23 de agosto de 1942, em São Paulo, no Brasil. Mulher admirada e respeitada pela vida, a artista que, já conta com 60 anos de carreira, esteve de passagem por Portugal, para se apresentar pela primeira vez nos teatros nacionais com Uma Shirley Qualquer. “Levei 80 anos para chegar aí”, atira entre risos com a boa disposição que a carateriza.
Considerada uma das mais prestigiadas atrizes da televisão brasileira, e por cá uma das mais queridas do público que consome novelas, Susana Vieira, conta à TV 7 Dias, que nesta peça dá vida a “uma mulher submissa”, que nada tem a ver consigo. E, é a propósito desta personagem que, faz uma retrospetiva da sua vida e viaja até ao passado para revelar que desde muito cedo lutou pelos seus ideais e por uma vida livre. “Sou uma mulher que me libertei aos 16 anos quando o meu pai me disse que eu tinha que casar virgem. Aí eu casei na mesma hora e sai de casa. O casamento não deu muito certo, mas sei que sai de casa casada”, frisou, prosseguindo: “Fui criada de forma severa. Tenho um irmão que nasceu 15 anos depois de mim, e uma irmã que nasceu 17 anos depois. Criei-os como meus filhos, aprendi tudo, tanto que quando veio o meu filho, eu tinha 17 anos, já sabia fazer tudo. Fiz direitinho durante um ano, quando o garoto começou a andar a mãezinha também foi andar para o trabalho”.
Foi a partir deste grito de liberdade que a sua carreira começou. “Tenho 50 anos te televisão. Fiz todas as televisões de São Paulo na década de 60. Tenho 60 anos de carreira. Agora se foram 60 anos bem vividos não sei, mas sei que foram muito bem trabalhados. Trabalhei muito, mas eu vivi pouco. Oitenta por cento da minha vida foi direcionada ao meu trabalho e a minha vida pessoal foi 20”, relatou, frisando: “Criei o meu filho trabalhando, tive muita culpa, mas não enquanto estava a trabalhar. Só agora depois de velha é que fiquei a pensar: será que criei meu filho bem? Será que ele tem algum trauma? Porque eu saia de casa, fazia teatro, voltava de madrugada, mas eu sei que dei-lhe uma vida com bastante base, ele estudou nos melhores colégios, estudou línguas, e foi morar nos estados unidos quando tinha 20 anos. Já faz 30 que mora lá. Eu não tenho o meu filho comigo. São quase 30 anos que estou aqui, eu e os meus quatro cães”. Questionada sobre se mudaria alguma coisa, a atriz atira: “Foi o que a vida me ofereceu e o que eu fiz da minha vida. Não posso agora achar que fiz errado porque se não como vou aproveitar os meus últimos anos de vida? Com culpa? Não vou. É claro que me arrependo de várias coisas, mas não da vida que optei por levar que foi o teatro, a televisão, o cinema, isso fez-me feliz”.
Apesar de viver num País diferente do seu filho, e dos netos, a atriz sempre batalhou por se manter presente. No entanto, tudo mudou com a chegada da pandemia.“Viajava no Natal, os meus netos vinham para cá nas férias de agosto. Mas, viajei muito com eles. A melhor coisa de ser avó não é dentro de casa, é você ter dinheiro para pôr toda a gente num navio e partir. Agora o dia-a-dia do crescimento deles não acompanhei. Eu sinto muito, gostaria de ter ficado mais perto deles”, relatou, reforçando ainda como se sentiu durante os últimos dois anos. “A pandemia foi um período muito estranho. Aprendi a gostar dos detalhes da minha casa e aí foi o terror dos funcionários, porque eu comecei mexer na decoração, mas não comprei nada, foi uma maravilha, consegui juntar um belo de um dinheiro nesses dois anos. Eu não aia nem para comprar pão, a minha família também não me via porque eu tinha medo deles, medo de apanhar avião e como o meu filho é Dj não teriam cuidado com a minha saúde como aqui os meus funcionários têm, mas depois fiquei num estado de depressão, mas comigo. Fiquei a pensar que não ia ser mais atriz”.
Apesar de todos os receios, nunca perdeu a vontade de trabalhar. Contudo, esclarece. “Se um dia ficar sem trabalho, não vou ficar sem trabalhar. Vou fazer sandwich, vou vender na praia. Nunca vou passar fome, porque se tiver que fazer outra coisa eu vou fazer. Ainda tenho muita força vital porque eu adoro viver. Acho a vida maravilhosa, e eu tenho bom humor depois da uma da tarde”, frisou, que nem mesmo quando foi diagnosticada com leucemia linfocítica crónica, em 2015, doença com a qual vive até hoje, lhe tirou o sorriso. “Os cães me mantiveram viva e os meus funcionários que cuidaram de mim. Hoje cuido da minha saúde, aliás até cheguei à velhice sem pôr botox, faço tudo o que depende de mim”.
Susana Vieira e a vontade de fazer novela
Sobre o seu regresso às novelas, atira que essa “é uma pergunta que não quer calar”. No entanto, não esconde estar “louca” para voltar a arregaçar as mangas e fazer o que mais ama. “O meu público pede isso, mas acredito que a TV Globo agora tem medo de contratar pessoas de mais idade. Ficaram desorientados com a pandemia”, afirma, apontado ainda o dedo à nova tendência de dar prioridade apenas a atores mais novos. “Agora os elencos são só jovens, daqui a pouco os bebés vão ter bebés pelo que vejo, mas é um caminho que temos que aceitar. Eu estava feliz, já fiz a mocinha, a mãe, já fui avó e agora posso fazer de bisavó, mas daqui a pouco a TV Globo vai colocar pessoas até 20 anos e 20 quilos”. Embora afirme que atualmente não haja espaço para atores mais experientes, a atriz revela que é entre jovens que se sente viva. “Ainda não pensei profundamente sobre essa minha caminhada e onde cheguei. Os outros de fora é que às vezes me chamam à atenção a importância de ter feito parte da história da televisão brasileira. Comecei em 1960, quando a televisão ainda era a preto e branco. Eu, Tony Ramos, Nicette Bruno, Regina Duarte, Renata Sorrah, ainda somos os melhores, e embora agora a história aqui seja outra eu se acho que um jovem que está a começar pode ter futuro vou lá e dou o meu recado. Dou-me bem com o elenco jovem, não sou careta, sou meio atrevida, sou juvenil, e sempre me dou com o elenco jovem da minha novela, estou sempre agarrada aos mais jovens, porque por mais que eles estejam começando eles trazem vida, novidade, dizem onde há balada boa, eu sigo-os eles, e visto-me como eles”.
Texto: Telma Santos (telma.santos@impala.pt); Fotos: Divulgação