Ex de Noémia Costa, Licínio França, está com Alzheimer

O ator não reconhece ninguém, pois a memória já está muito afetada. O Estado considerou incapaz o antigo companheiro de Noémia Costa e o tutor legal é o filho, que continua presente na sua vida.

23 Nov 2019 | 15:50
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O nome de Licínio França voltou agora a ser falado após uma série de entrevistas dadas pela ex-companheira Noémia Costa (ver edição da TV 7 Dias n.º 1704, de 09/11/2019), que culminaram com a sua ida ao programa Alta Definição, da SIC, onde recordou o passado de violência ao lado do pai da sua filha, Joana França. O assunto voltou à ribalta mas, na realidade, há dez anos que era público e assumidíssimo por parte da atriz, que atualmente integra o elenco da telenovela Terra Brava, através da sua personagem Prazeres.

Depois da transmissão do programa conduzido por Daniel Oliveira, muitos foram os que se questionaram sobre o paradeiro de Licínio França e sobre o seu estado de saúde. A TV 7 Dias dá-lhe essa resposta: o ator, que fez 66 anos a 17 de outubro, tem Alzheimer, está internado num lar de idosos e já foi considerado incapaz pelo tribunal.

Quem o conta é o produtor televisivo Aristides Teixeira, que sempre manteve uma relação de grande amizade com o ex de Noémia Costa.

«Mantive algum contacto semanal com a irmã dele até ao final do ano passado e ela manteve-me a par da situação dele. Ele está num lar para os lados de Odivelas e está com Alzheimer», começa por explicar o também ator à TV 7 Dias, para depois esclarecer o motivo pelo qual nunca chegou a ir ter com o amigo ao lar de idosos: «Eu próprio não fui visitá-lo porque, para mim, é um choque saber que o Licínio está assim. Mas o facto é que ele não conhece as pessoas, não conhece os familiares, não sabe quem são, como é próprio da doença, e ele já está nessa fase.»

E se, há seis anos, a última vez que a TV 7 Dias falou com o ator, já se notava alguma confusão no seu discurso, fisicamente Licínio mantinha-se igual a si próprio: magro.

Contudo, até isso mudou, como explica Aristides. «Sei que engordou muito, porque ele era um tipo magro, mas é do seu estilo de vida no lar. Tem o cabelo todo branco, barba e está sem conhecer ninguém.»

Estas mudanças físicas são o reflexo da alteração do estilo de vida de Licínio, que acabou por ficar mais sedentário após ter ido para o lar de idosos. No entanto, no que diz respeito à memória e à lucidez, há mais de uma década que o Alzheimer interfere com a vida do pai de Joana França, que chegou inclusive a ser afastado de um projeto televisivo da RTP, a série humorística Câmara Café, que estreou em agosto de 2006. «O Licínio tinha um papel com graça, mas teve de ser substituído porque ele já não conseguia decorar o texto. E portanto ficou, a partir daí, afastadíssimo de tudo o que era trabalho», adianta Aristides.

Depois deste afastamento abrupto, o ator ainda conseguiu alguns papéis… de pouca relevância, sendo que o último foi em Flor do Mar, da TVI, que esteve no ar entre 17 de novembro de 2008 e 8 de novembro de 2009. Depois disso, não foram dadas mais oportunidades ao ator, o que, na opinião de Aristides Teixeira, em muito contribuiu para o declínio mental de Licas, como é carinhosamente tratado pelos amigos.

«O Licínio, quando começa a queda na sua vida, a verdade é que ele também mentalmente começa a ter menos capacidade. (…) Aqui pouco há a fazer a não ser haver uma comparticipação, uma maneira de lhe pagar a estadia no lar. Porque ele, mentalmente, está apagado e nenhum empresário lhe vai dar trabalho. Neste momento, o Licínio acabou. Mas, enquanto ele ainda esteve no prazo de validade para estas coisas, o facto é que também não foi devidamente acompanhado. Eu acho que, passados estes anos de sofrimento, ele não merecia o ostracismo. Porque ele tinha qualidade e podia ter sido aproveitado. Infelizmente, não foi. Quem não lhe deu mais oportunidades, não deu, ponto, infelizmente. Agora, nesta fase, já não há nada a fazer porque ele está com Alzheimer», lamenta o amigo.

 

Dormiu na rua e alimentou-se de caridade

Separado de Noémia Costa há 14 anos, Licínio viu a sua vida afundar-se devido à falta de oportunidades de trabalho e de apoio por parte da família. Embora, inicialmente, após a separação, Noémia tenha querido garantir uma vida condigna ao
ex-companheiro, ao ponto de lhe ter arranjado uma casa para viver, um ano depois decidiu colocar um ponto final na ajuda dada, que incluía o pagamento da renda da casa.

«Durante este tempo todo, estive a sustentar o pai da minha filha, a sustentar a casa, a ser pai e mãe. Agora, se houver quem tenha de ajudar, é a Joana», contou em entrevista à revista VIP em agosto de 2008. E se a vida do ator já não estava fácil, com esta rutura a sua situação agravou-se ainda mais, ficando na miséria.

«O senhorio acabou por mandar-me embora, de repente, e tive de ir para a rua», garantiu à mesma publicação. Nesta altura, esteve «oito semanas a viver na rua, fiquei sem casa, fiquei sem nada».

Sem um teto que o protegesse do frio, foi a zona dos Restauradores que Licínio escolheu para pernoitar e foi com a ajuda de quem por ali passava que contou para sobreviver. Até que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa lhe deu a mão… e um quarto para morar. «Agora, tenho uma casa que me foi arranjada pela Santa Casa da Misericórdia. Estou na miséria (…) Vivo num quarto e não dou confiança às pessoas que lá moram», revelou, na altura, à TV 7 Dias (ver ed. n.º 1127, de 22/10/2008).

 

“Tramado” por Goucha

Com o apoio desta instituição de solidariedade, Licínio passou também a ter direito a receber duas refeições quentinhas por dia na Sopa dos Pobres. No entanto, até isso acabou por perder. Isto porque, em 2008, altura em que a TV 7 Dias divulgou a situação em que o ator se encontrava – a viver da caridade da Santa Casa da Misericórdia e a alimentar-se na Sopa dos Pobres –, Manuel Luís Goucha pegou no assunto e tentou ajudar o artista, divulgando ainda mais aquilo que já tinha sido tornado público pela nossa revista.

No entanto, a iniciativa do apresentador do Você na TV!, que tinha um objetivo solidário que acabou por ser concretizado,
também foi prejudicial para Licínio França. Por um lado, foi-lhe oferecido um papel na telenovela Flor do Mar, o que deixou o “ex” de Noémia Costa bastante agradecido. Contudo, em contrapartida, foi-lhe cortado o acesso à Sopa dos Pobres.

Segundo fonte da Santa Casa da Misericórdia, que aceitou falar em exclusivo com a TV 7 Dias, «quando o Goucha divulgou o que se passava com ele, começámos a receber imensas chamadas de pessoas a quererem ajudar o ator. Pessoas a oferecerem bens materiais, comida, dinheiro e até casa. Mas o Licínio nunca quis aceitar nada de ninguém. Isto chegou aos ouvidos da Santa Casa da Misericórdia, que, por isso, lhe cortou o acesso às refeições».

A partir desse momento, o ator passou a contar com a solidariedade de um restaurante que ficava nas imediações do n.º 32 da Almirante Reis, em Lisboa, onde pernoitava. «Agora, vou ali a um cafezinho, onde bebo um cariocazinho, e é de lá que trago a comida. Por €5, eles dão-me esta comida. Trago aqui comida que tem de durar dois dias», revelou (ver ed. n.º 1361, de 17/04/2013).

Nesta altura, já Licínio França demonstrava ter um discurso confuso pois, quando confrontado com a maioria das questões, dava respostas que nada tinham a ver com o que lhe tinha sido perguntado. «Ele está confuso há muito tempo. Acho que a família não lhe liga muito, e depois ele também não tem dinheiro. Acho que recebe apenas €70 por mês da Santa Casa da Misericórdia. Ele vem aqui e leva a refeição para dois dias», garantiu Agostinho, o proprietário do restaurante frequentado pelo ator.

Quando Licínio caiu na miséria, foram poucos os familiares que lhe deram a mão. Com a filha, Joana França, pouco pode contar, pois os dois cortaram relações em 2007, estava a jovem prestes a casar-se. Do lado de Joana, nenhumas satisfações foram prestadas sobre o motivo da zanga. Já Licínio, em declarações à TV 7 Dias (ver ed. n.º 1127, de 22/10/2008), deu a sua versão dos factos: «A Joana veio ter comigo, muito enervada, e começou a gritar. Estava a perguntar se eu ia ao casamento dela, mas aos gritos. Pedi-lhe para não falar assim. Zangámo-nos e nunca mais voltei a falar com ela.»

No dia 1 de julho, a filha casou-se, mas não teve consigo o pai para a levar ao altar. «Não fui porque achei que ela foi incorreta comigo. Depois, nem me ligou, nem disse onde era o casamento, nem se preocupou em perguntar-me se tinha forma de ir até lá», garantiu o ator.

A relação entre os dois manteve-se distante durante vários anos, mas, agora, em entrevista à TV 7 Dias, publicada na última edição, Noémia Costa garantiu saber «que ele está bem, a filha está superempenhada com ele». Por seu lado, contactada pela TV 7 Dias, Joana França garantiu que o pai «está bem, graças a Deus, e é só isso que vos interessa».

No entanto, Aristides Teixeira, que já nos tinha adiantado que o ator sofre de Alzheimer, garante ainda que «as visitas dele eram uma irmã e o filho, que de vez em quando lá iam. Creio que a própria irmã, depois, também começou a espaçar mais as visitas. Ela primeiro ia semanalmente, depois começou a espaçar porque o Licínio olha para as pessoas, mas não as conhece».

João André, o filho mais velho do ator, fruto de uma relação anterior, foi, aliás, uma pessoa sempre presente na vida do pai, tendo-o apoiado, inclusive, na altura em que esteve a receber ajuda da Santa Casa da Misericórdia. Agora, o primogénito de Licínio França foi nomeado tutor legal do próprio pai, uma decisão decretada “por sentença de 21 de junho de 2017, transitada em 12 de setembro de 2017, proferida pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Norte – Juízo Local Cível de Loures”, tendo sido fixada a “incapacidade em 1 de janeiro de 2014”.

 

Vício, traições e violência

No Alta Definição, quando questionada sobre se tinha sido alvo de agressões durante a sua união com Licínio França, Noémia respondeu: «Sim, infelizmente. Mas eu, sem dúvida alguma, acho que fizemos uma obra-prima fantástica e eu continuo a gostar muito do Licínio. Tenho o maior respeito por ele, é o pai da minha filha.»

O princípio do fim aconteceu quando a filha do ex-casal era uma criança. «Quando a Joana fez quatro anos, o Licínio viciou-se em jogo. A partir daí, a minha vida virou um inferno», revelou Noémia Costa em declarações à revista VIP em 2008. Acusação desmentida pelo ator.

No entanto, os problemas continuaram. «Vivi a humilhação da traição, tinha a minha filha nove anos. Ela assistiu a tudo, mas ele pediu-me perdão e eu acedi», garantiu Noémia. Após outra traição e respetivo perdão, a tensão entre o casal já era irremediável e, garantiu Noémia, «das palavras à agressividade psicológica, passámos à agressão física. Cansei-me de ser pisada de uma forma brutal», desabafou.

Textos: Carla Ventura; Fotos: Arquivo Impala, DR e Reprodução Facebook
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