Luís de Casados sobre incêndios na Austrália: «Eram precisos todos os bombeiros do mundo»

Luís Santos está tranquilo com a situação dramática que se vive na Austrália. Não porque não se preocupe mas porque o país onde tem a família sofre quase todos os anos com incêndios devastadores.

06 Jan 2020 | 20:50
-A +A

A família de Luís Santos, o fisiologista da segunda edição de Casados à Primeira Vista vive em Melbourne, cidade do estado australiano de Victoria.

Veja aqui o mapa de incêndios atualizado:

A região tem sido afetada pelos catastróficos incêndios que estão a destruir aquele país e, embora a cidade ainda não tenha sido atingida, o espesso fumo que cobre a cidade está a afetar a qualidade do ar. No estado de Victoria já arderam, até à data, 800 mil hectares. A TV 7 Dias conversou com Luís Santos sobre esta catástrofe. O fisiologista que, aos 17 anos, perdeu a própria casa devido a um devastador incêndio, mostra-se tranquilo. 

 

Como é que os fogos estão a afetar a cidade onde vivem os seus pais?

Há fumo, há áreas em que não se vê a cidade. A qualidade do ar está em alerta. As máscaras de proteção estão todas esgotadas. 

 

Como está a sua família?

A última vez que lá estive, há 3 anos, estava tudo a arder também. A minha mãe esteve agora de férias e, na zona onde tem casa, os fogos estavam a 100 quilómetros de distância. Os fogos estão em todo o lado, mas a Austrália também é grande. Há sítios que não estão a arder agora porque arderam no ano passado. 

 

O Luís já viveu uma situação dramática por causa dos fogos.

Sim, a minha casa ardeu. Sei exatamente o que é perder tudo por causa dos incêndios. E já são mais de mil casas destruídas. É muito terreno queimado. E fala-se muito dos animais… 

 

A sua família está preocupada com as consequências que os fogos podem ter?

Claro, a qualidade de vida vai sempre ser afectada. Não é bem preocupação, é mais tristeza. Nós vivemos isto quase todos os anos. Há uns quatro anos também morreu muita gente, foi uma coisa super feia, filas de carros com pessoas lá dentro. Isso afeta muito as pessoas. Quando uma situação destas volta a acontecer, as pessoas lembram-se do que sofreram no passado. Esta situação está no ponto em que não há bombeiros suficientes para metade do que está a acontecer!

 

Para nós, portugueses, isso é chocante porque a Austrália é um país com mais recursos.

O espaço que já ardeu destruía Portugal inteiro quatro vezes, sem restar um metro quadrado. Agora imagine se Portugal estivesse a arder de uma ponta à outra, nunca iriam conseguir apagar. Lá, as temperaturas são tão quentes que a água nem sequer chega ao chão. Não há nada a fazer. Eles rezam que os ventos mudem de direção. O fogo ali é como um carro na auto-estrada, anda a 100 quilómetros à hora. Os aborígenes é que têm razão. Eles têm as suas próprias técnicas de fazer queimadas controladas. Eles é que conhecem a terra. 

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrisson, está a ser muito criticado durante esta catástrofe. Acha que há falta de medidas políticas para prevenir estas situações?

Há pessoas das cidades mais pequenas que dizem ‘se isto fosse em Sidney estavam milhões de dólares lá e toda gente ia ajudar’. Quando são estes sítios mais desconhecidos, mandam 5 ou 6 camiões para apagar o fogo. 

 

Em Portugal, o discurso é o mesmo.

Infelizmente, sim. Quando começam a morrer pessoas, a história muda. Eles fazem prevenção mas não é o suficiente. Quando morreram aquelas pessoas todas [incêndios de 2015-2016], o governo introduziu um sistema de sms. Se estivermos na área afetada, recebemos um alerta de evacuação. Mas isso é diminuto. O que se tem de fazer mesmo é uma prevenção mas recursos para este tipo de incêndio nunca vai haver. É impossível. Eram precisos todos os bombeiros do mundo para apagar estes fogos.

 

E a sua irmã?

Ela, cada vez que muda de casa, vai para mais longe (risos)! Onde ela vive agora, está a uma hora de distância de Melbourne. Ela está próximo de uma área de mato, que são aquelas que estão sempre em risco.

 

Ela não está preocupada?

Não muito. Nós já sabemos como é: se começa a arder, é fugir. Não se fica ali com as mangueiras a regar o telhado… aquilo vai tudo, não há hipótese. Todos conhecemos pessoas que têm casas de férias e a costa este está toda queimada. 

 

Regressar para a Austrália está nos seus planos?

Nunca pensei voltar à Austrália. Gosto de não pensar muito nessa coisas. Por enquanto estou muito feliz aqui. Tenho coisas que quero mesmo fazer aqui em Portugal. Não sei se estou a ser teimoso mas acredito mesmo no que quero fazer sobre a saúde mental. Sei que é muito difícil e que vai demorar uns 10 a 20 anos a fazer diferença mas alguém tem de começar. Saí da Austrália a pensar que queria uma vida diferente, que queria sair da zona de conforto, não saber como vai ser o dia de amanhã.

 

Mas era mais fácil para si estar lá, em termos de oportunidades de trabalho.

Nem há comparação! A minha qualidade de vida lá era 100 vezes melhor do que cá. Não é dizer mal de Portugal, é o que é. Eu prefiro ter menos qualidade de vida cá mas, ao fim de uns anos, conseguir o que quero fazer. 

 

Texto: Raquel Costa | Fotos: SIC e redes sociais

 

Veja mais:
Austrália vai canalizar 1,2 mil milhões de euros para recuperar áreas afetadas pelos incêndios
Número de desaparecidos nos incêndios da Austrália aumenta
PUB