Manuel Luís Goucha fala da morte da mãe com lágrimas nos olhos: “Tenho de preparar-me”

Manuel Luís Goucha abre o coração a Cristina Ferreira, no programa “Conta-me”, para falar da sua vida privada longe dos ecrãs.

26 Dez 2020 | 18:00
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Manuel Luís Goucha deixou Cristina Ferreira entrar na sua casa de Fontanelas pela primeira vez para dar uma entrevista intimista à Diretora de Entretenimento e Ficção da TVI. No “Conta-me” deste sábado, 26 de dezembro, o apresentador ocupou o lugar de entrevistado e abriu o coração para falar sobre a sua vida fora do pequeno ecrã.

No início da conversa, Goucha revelou alguns pormenores da relação com mais de duas décadas que mantém com o marido, Rui Oliveira. O apresentador da TVI confessou que aquilo que mais o fascinou no companheiro foi o sentido de humor e o facto de serem “muito diferentes.”

“Achei graça ao sentido de humor do Rui. Ele é divertido, muito diferente de mim. Acho isso muito interessante numa relação. Não é fácil, nem sempre é fácil, mas isso também é bom! Acho que nos completamos muito bem. O Rui não tem muito filtro naquilo que diz, diz tudo o que pensa, eu acho graça, mas não pensa no aproveitamento das coisas que diz, tiradas do contexto para me ferir”, começou por dizer.

“Mas, atenção, há coisas que ele diz com as quais não estou de acordo. Nós não pensamos da mesma maneira. Por exemplo, ele é um aficionado que vai a todas as corridas de touros, eu vou para a Internet assinar um abaixo assinado contra corridas”, acrescentou.

A viver em Fontanelas, Goucha está “a semana inteira” longe do marido, que vive no Monte que os dois têm no Alentejo. Mas, apesar da distância, o anfitrião do “Você na TV!” confessou “não ter saudades” do companheiro.

“O Rui está sempre no Monte, mas não há saudades. Falamos todos os dias. Estamos sempre a ver-nos através do telemóvel. Às vezes jantamos a falar um com o outro, a ver-nos e a dizer parvoíces”, disse.

A relação com a mãe: “Ela é a mulher da minha vida”

Não é segredo para ninguém o amor e admiração que Goucha sente pela mãe, de 97 anos. Por causa da pandemia da covid-19, os dois não estão juntos há muito tempo e o apresentador contou a Cristina Ferreira que há uma memória que o tem “perseguido” nos últimos tempos, que remete a um momento de “despedida” entre o comunicador e a progenitora.

“Só cortei o cordão umbilical com a minha mãe aos 17 anos, quando vim para Lisboa. Há uma imagem que me persegue que é ela a ir levar-me à estação de Coimbra e ficar a dizer-me adeus, e eu a ela, os dois a chorarmos baba e ranho. O comboio “dobrar” e eu perdê-la no horizonte. Essa imagem tem me perseguido muito, talvez porque a minha mãe tem 97 anos e eu tenho de preparar-me para que ela um dia deixe de fazer parte da minha vida, aqui”, admitiu de lágrimas nos olhos.

Aos 66 anos, Goucha considera-se um homem “privilegiado” por ter uma mãe com 97 e assume-se “apaziguado” com a ideia de “perda iminente e definitiva” da mulher que lhe deu a vida. Na mesma conversa com Cristina, o apresentadora explicou que “herdou” da mãe o pragmatismo e o seu lado mais “brusco.”

“O pragmatismo herdei dela. Sabes que passo sempre o Natal no estrangeiro. O ano passado viemos dia 23 para a surpreender. A minha mãe estava a rezar o terço e disse: ‘Deixa-me acabar o terço que já vos dou atenção”. Esta é a minha mãe! Vou ter saudades da minha mãe, mas tive a mãe que tive. Que inventei para ela ser melhor do que ainda é, porque ela tem muitos defeitos e muitas qualidades. Eu acho que saio muito a ela. O facto de ela ser brusca a falar, às vezes dou por mim a sê-lo”, admitiu, entre risos, para mais tarde confessar que lhe faltou ter uma “conversa” com a mãe.

“Vou ter um programa chamado Goucha. E Goucha é o meu pai. Portanto, eu vou dedicar o meu primeiro programa ao meu pai, que é quem me dá o nome, e sei tão pouco dele. Falta-me só essa conversa, mas não a posso ter com a minha mãe, porque ela ainda o odeia. Divorciaram-se e a minha mãe lidou muito mal com o amor ferido.”, justificou.

Apesar de nunca ter estabelecido uma relação de “pai e filho” com o progenitor, Manuel Luís Goucha não se sente arrependido: “Não há volta a dar, ele não foi o pai presente. A vida não permitiu isso, o divórcio também não. Sei que ele a certa altura deve ter pensado: ‘Os meus filhos um dia vão querer saber quem é o pai’. Mas entre os 3 e os 21, não há um pai. O meu irmão conseguiu esse vínculo com ele, eu não porque fui à minha vida. Mas certamente teria gostado do meu pai, herdei o lado dele de aproveitar a vida.”

Tinha apenas 17 anos quando contou à progenitora que era homossexual. Quando se mudou para Lisboa, para um apartamento na Caparica, a mãe de Goucha perguntou-lhe se gostava de homens, pergunta à qual o apresentador respondeu sem hesitar.

“A minha mãe sempre foi muito “à frente”. Estava no meu apartamento na Caparica e a minha mãe pergunta-me: ‘Tu gostas de homens?’ E eu disse: ‘Gosto e vou explicar-te o que é ser homossexual.’ Sei bem o que quero para a minha vida e disse que se a minha mãe me aceitasse como sou, e não como os outros querem que seja, muito bem. Se não aceitasse, eu seguiria a minha vida e ela a sua. Sabes qual foi a resposta dela? ‘Não quero saber o que é ser homossexual, só quero que sejas feliz.’ Ela é a mulher da minha vida. Eu escolhi o caminho mais difícil, que para mim não foi difícil porque tive a mãe que tive”, admitiu, emocionado.

“Não me assombra não ter tido filhos. Houve uma altura em que o Rui propôs, falámos em adoção. Mas acho que é um ato tão responsável, é a vida de outra pessoa, os anos foram passando…. E não! Mas sei que seria um bom pai, divertido. Só não gosto das coisas desarrumadas. Mas não tenho nenhuma tristeza por não ter sido pai. Esta foi a vida que sempre quis. Foi a vida que escolhi para mim e tem-me possibilitado cumprir os sonhos todos”, acrescentou.

A relação de 11 anos que teve antes de conhecer Rui

Antes de conhecer Rui Oliveira, Manuel Luís Goucha teve um relacionamento de 11 anos, “que foi muito importante na sua vida”, mas que quando terminou o deixou numa depressão.

“Na altura, trabalhava na RTP e era ele que me entregava dossiês e dossiês de documentação. Devo-lhe a ele esse meu sentimento de pesquisa, que vinha de criança, mas que foi muito estimulado por ele. Tenho uma depressão depois do fim dessa mesma relação do meu primeiro momento de fracasso televisivo, os Momentos de Glória, aqui na TVI”, confessou.

Depois de 30 anos a fazer manhãs televisivas, Manuel Luís Goucha vai entrar em 2021 com um novo projeto nas tardes da TVI – o programa Goucha, que promete ter um formato muito diferente àquele a que se habituou. Em conversa com Cristina, com que fez o “Você na TV!” durante 14 anos, o apresentador admitiu não estar preocupado com a mudança.

“Os territórios não são de ninguém, São das pessoas enquanto elas lá estão. Quando saí da Praça da Alegria, onde estive durante oito anos, saí numa segunda-feira. Na terça-feira, regressei à minha casa do Porto e liguei a televisão para ver a Praça da Alegria sem mim, não me custou, já não era meu. Para mim, é tudo pacífico. Quando me dizes que vou para a tarde, ótimo, vamos lá. É um novo desafio. Claro que é o Goucha de sempre, mas é outro formato, outro horário, outro tipo de conversas. Tu conheces-me melhor do que ninguém. Este vai ser um programa de conversas, eu adoro conversar”, afirmou.

Dormir com Cristina? “Não seria capaz de fazer isso ao Rúben Rua”

No decorrer da conversa, Cristina Ferreira e Manuel Luís Goucha recordaram o momento em que os dois se encontraram pela primeira vez nos corredores da TVI. A agora diretora de Entretenimento e Ficção do canal de Queluz de Baixo disse ao comunicador que os dois ainda iriam trabalhar juntos e, um ano depois, formou-se a dupla.

“Sempre gostei muito de ti. Achei-te petulante porque me disseste que ias trabalhar comigo. E eu pensei: ‘Esta é parva. Diz-me assim que vai trabalhar comigo?’. Um ano depois, estávamos a trabalhar juntos. Eras muito diferente do que és hoje. Tiveste de te impor por causa do trabalho, estavas menos resolvida com algumas coisas. Acompanhei-te em fragilidades que só eu sei, acompanhaste outras minhas. Só nos desentendemos uma vez por causa do ar condicionado. E foi na maquilhagem! E pedi-te desculpa, fui brusco”, explicou o apresentador.

Sobre a ida de Cristina Ferreira para a SIC, em 2018, Goucha também teve algo a dizer: “Fiquei quatro meses sozinho a dizer que isto tudo ia mudar. Desvalorizam completamente. E aconteceu aquilo que sempre disse que ia acontecer. Tu irias ganhar. Perder foi ótimo. Nunca me envaideci com as vitórias, mas também não fui abaixo com as derrotas. Tenho de ser feliz a fazer televisão. Foi bom perder. Foi uma prova de persistência.”

No final da entrevista, Cristina Ferreira pediu “um pijama emprestado” a Goucha para poder dormir na sua casa e o apresentador não hesitou em provocar a amiga.

“Já dormimos juntos uma vez. E não aconteceu nada! Não seria capaz de fazer isso ao Rúben Rua [risos]”, findou.

Texto: Mafalda Mourão; Fotos: D.R.

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