Marco Paulo lembra apelo desesperado: “Tirem-me daqui… Vou morrer no palco”

Em entrevista a Daniel Oliveira, para o “Alta Definição”, Marco Paulo recorda o princípio de AVC que o fez temer o pior. Fala ainda da solidão, dos cancros e da mãe, que morreu durante um concerto.

02 Jan 2021 | 17:30
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Pela segunda vez, Marco Paulo marcou presença no programa “Alta Definição”. Na entrevista conduzida por Daniel Oliveira, emitida este sábado, 2 de janeiro, pela SIC, o cantor recordou alguns dos momentos mais difíceis da sua vida, entre eles o princípio de AVC que teve num espetáculo no Norte do País.

Estávamos em 2018. O artista, atualmente com 75 anos, enchia o Coliseu do Porto para mais um espetáculo memorável. Na memória de muitos fãs ficou, sobretudo, os últimos minutos do concerto que o cantor batalhava interiormente para terminar. Tocava o tema “Sempre que Brilha o Sol”.

“De repente, deixei de ver as pessoas à minha frente. Deixei de ouvir a orquestra. Comecei a ficar com falta de visão. Deixei de ver as pessoas. O palco fugia-me. Não queria que as pessoas se apercebessem”, confidenciou. “O que é que eu vou fazer? Terminar a música antes do tempo?”, questionou-se, na altura. O cantor permaneceu em palco até ao fim, embora com dificuldade. “Aguentei, mas já um bocadinho baralhado…”

Seguiram-se horas de agonia que Marco Paulo revela agora pela primeira vez. “Chego ao pé de um técnico meu e disse: ‘Tirem-me daqui, eu vou cair… Vou morrer aqui, no palco’.”

O intérprete do tema “Maravilhoso Coração” seguiu, depois, para os bastidores. “Fui para o camarim. Deram-me água, água com açúcar… Deram-me tanta coisa e eu sentia dor de cabeça, sentia má disposição… Sentia que estava a perder as forças e o próprio Coliseu chamou o 112. Vieram buscar-me e lá fui eu para o Hospital de Santo António. Aquilo encheu-se logo de gente que estava no concerto para saber o que tinha acontecido. Tinha sido um princípio de AVC que me tocou numa veia que estava ligada à vista”, recordou.

 

Marco Paulo admite abusos: “Eu cambaleava. Não via nada”

 

Valeu-lhe o susto. Ainda assim, o cantor não quis falhar a sua agenda de concertos, cujo próximo destino eram os Açores. “Do hospital fui para o hotel. Do hotel levantámo-nos cedo para apanhar o avião para os Açores. Eu só conseguia ver as coisas ou sentir as coisas, porque o meu compadre tem o cabelo branco e eu tinha de me agarrar ao braço dele e olhar para a cabeça dele. Era assim que eu me controlava”, evocou.

Volvidos dois anos, Marco Paulo não esconde que abusou “um bocadinho” do seu estado de saúde. “As pessoas que nos vieram buscar [ao aeroporto] estranharam. ‘O Marco não vê?’. Eu cambaleava. Não via nada. Abusei um bocadinho, porque no outro dia não podia viajar. Não queria perder as atuações que ia fazer a São Miguel. As pessoas, e eu peço as minhas desculpas, não se aperceberam, mas eu não as via (…). Quando saí do palco, estava tão mal, tão mal, tão mal que me sentei no sofá do camarim e disse: ‘Eu vou deixar de cantar. Foi a minha última atuação’, confidenciou a Daniel Oliveira.

Após cumprir os seus afazeres profissionais, o artista de música romântica regressou a Lisboa para apurar a origem do seu problema de saúde. “Fui fazer imensos exames à cabeça”, explicou, para depois concluir que “felizmente” não lhe foi detetado nenhum problema de maior gravidade que o impedisse de voltar a subir aos palcos portugueses.

 

A solidão nos momentos mais difíceis

 

A saúde de Marco Paulo revelou-se frágil em alguma etapas da sua vida. Em 1996, o cantor enfrentou o seu primeiro problema oncológico. um tumor “do tamanho de uma laranja” na zona do abdómen que superou com sucesso.

Mais de duas décadas depois, um cancro volta a assolar a vida do artista, desta feita na mama. Sucedeu-se uma operação no início de 2020 e várias sessões de quimioterapia que controlaram a evolução da doença.

Foi nas fases de recuperação destes momentos mais frágeis da sua saúde que o artista revelou, também no programa “Alta Definição”, ter-se sentido mais só. “Tenho muitos amigos e amigas, mas eu começo a pensar: ‘Onde é que os amigos estão?’”, afirmou.

A entrevista também ficou marcada pelo amor incondicional que este nutre pela progenitora e recordou o dia em que ela partiu: “A minha mãe faleceu no momento em que eu estava em palco a cantar”, recordou ainda.

 

Texto: Alexandre Oliveira Vaz; Fotos: reprodução redes sociais

 

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