Maria Flor Pedroso acusada de falta de lealdade por jornalistas da RTP

Jornalistas da RTP reuniram-se esta segunda-feira, 16 de dezembro, em plenário para analisarem «os factos ocorridos nas últimas semanas na redação».

16 Dez 2019 | 22:20
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Numa acta a que o site da revista TV 7 Dias teve acesso, os trabalhadores da estação pública de televisão acusam Maria Flor Pedroso de ter «violado os deveres deontológicos dos jornalistas» e lamentam a falta de «lealdade» da Diretora de Informação demissionária «para com a redação».

Maria Flor Pedroso demitiu-se, na manhã deste mesmo dia, na sequência das últimas polémicas que envolvem a jornalista Sandra Felgueiras e o Sexta às 9. 

Na ata, os jornalistas lamentam ainda «a falta de explicações por parte da Diretora Adjunta Cândida Pinto – ausente deste plenário de jornalistas – a quem é imputada conivência com a Diretora de Informação».

Os trabalhadores rejeitam, lê-se, «qualquer tentativa de ingerência externa nas decisões que competem exclusivamente aos jornalistas da RTP-TV» e reafirmam «a independência e a liberdade como pedras basilares do jornalismo», manifestando a «unidade da redação da RTP-TV no compromisso de prosseguir este caminho».

Caso com Sandra Felgueiras

A RTP1 protagonizou um intenso frente-a-frente entre Maria Flor Pedroso e Sandra Felgueiras, a apresentadora e coordenadora do programa de jornalismo de investigação Sexta às 9.

O primeiro embate deu-se aquando do alegado adiamento de uma reportagem sobre a concessão de exploração de lítio no concelho de Montalegre, inserida naquele formato, envolvendo negativamente o Governo, nomeadamente o Secretário de Estado da Energia, João Galamba.

A emissão deste trabalho jornalístico estaria marcada para 13 de setembro, mas tal só aconteceu a 11 de outubro, já os socialistas tinham saído vencedores das eleições legislativas.

O caso mereceu mesmo a atenção do Parlamento. A comissão de Cultura e Comunicação pediu uma audição a Sandra Felgueiras e à agora diretora demissionária. E a primeira não poupou na frontalidade, admitindo, pela primeira vez, que «era possível» transmitir aquele trabalho de investigação durante o mês de setembro.

Já na semana passada, numa reunião extraordinária do Conselho de Redação da RTP, veio a público uma nova polémica, desta vez relacionada com uma reportagem que estava a ser feita, também para o programa Sexta às 9, sobre o alegado recebimento indevido de dinheiro vivo no processo de transferência de estudantes do Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM) para outros estabelecimentos de ensino.

Um dos alvos seria Regina Moreira, a diretora do ISCEM, onde Maria Flor Pedroso era docente a tempo parcial. A discórdia entre a então direção e a equipa do Sexta às 9 surgiu quando se descobriu que a então diretora de Informação da RTP contactou a responsável da instituição para a informar de que a investigação estava a decorrer.

Maria Flor Pedroso confirmou este contacto, justificando-o afirmando crer que estava a contribuir para a evolução da investigação de Sandra Felgueiras. Este não foi, porém, o cenário que se observou. Sabendo da reportagem que estava a ser preparada sobre o ISCEM, a sua diretora terá sanado as ilegalidades que iriam ser reveladas na reportagem do Sexta às 9. A reportagem acabou por ‘cair’.

Texto: Ana Filipe Silveira, Patrícia Branco e Dúlio Silva/ Fotos: DR

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