“Ninguém acreditava que a guerra ia começar”: Pedro Mourinho sobre guerra da Ucrânia

Pedro Mourinho esteve em Kiev, Ucrânia, e mudou como pessoa. Descreve o que sentiu ao ouvir as sirenes e revela quem lhe ligou a avisar da invasão russa.

04 Mar 2022 | 17:20
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Pedro Mourinho foi um dos enviados especiais da TVI à Ucrânia para fazer a cobertura da invasão russa àquele país. Jornalista já regressou a Portugal depois de três semanas em cenário de guerra em Kiev, de onde foi aconselhado a sair por questões de segurança, e esteve esta quinta-feira (03) no “Jornal das 8″ à conversa com José Alberto Carvalho. Pedro Mourinho esteve em reportagem com o repórter de imagem Nuno Quá em Kiev, e entrou em direto ainda com a roupa que trouxe da viagem, uma vez que não tinha ido ainda a casa.

“Acho que ninguém acreditava que a guerra ia começar, os ucranianos não acreditavam, nós jornalistas tínhamos sempre aquela crença profunda de que o conflito não iria ter início (…) e quando começa é essa incredulidade que toma conta de nós, que toma conta dos ucranianos”, começa por dizer, aproveitando para agradecer a Nuno Quá garantindo que ganhou um amigo para a vida.

O jornalista revela ainda que soube do início da guerra por Paulo Fonseca. “Os hotéis são insonorizados e não nos permitia acordar para o que estava a acontecer. A primeira pessoa que me liga é o Paulo Fonseca, o treinador de futebol. Nós tínhamos estado a almoçar nesse dia em Kiev, em que a vida ainda era normal. E naquela hora tudo muda”, conta de semblante carregado, para a seguir contar o que se sente ao ouvir as sirenes.

“Apanhámos um táxi, num caos de pessoas a tentar fugir de casa, carros, eram 05.00 da manhã em Kiev. O taxista não acreditava no que estava acontecer e assim que chegámos ao primeiro direto foi quando ouvimos pela primeira vez as sirenes e é um som, que por muitas vezes que toque não te deixa habituado àquele som. É um som que te arrepia sempre. E a seguir esperas pelo barulho dos rebentamentos sem saber onde é que vão cair os mísseis ou a artilharia pesada. E é isso que nos deixa em sobressalto”, partilha.

Pedro Mourinho revela um dos piores momentos que presenciou. “A segunda noite foi a pior. Nós estávamos a dormir num hotel, no centro de Kiev. Nessa noite, durante uma hora, na avenida Vitória, como é conhecida, houve uma troca de tiros, porque houve uma brigada russa que conseguiu entrar na cidade, mas pouco numerosa. Na manhã seguinte e eu o Nuno Quá fomos buscar os nossos coletes à prova de bala  e disseram-nos que podia haver snipers naquela avenida. E, é neste ambiente que Kiev vive hoje em dia, barreiras, barricadas… é uma cidade completamente transformada”, conta para explicar que teve de abandonar Kiev à pressa por questões de segurança e que partiu para uma viagem que durou perto de 20 horas para sair da Ucrânia. “Em para arranca, optámos por estradas secundárias para evitar colunas dos russos.”

Pedro Mourinho veio outra pessoa da Ucrânia

José Alberto Carvalho quis perceber se tudo o que o jornalista viveu, viu e presenciou o mudou como pessoa. Pedro Mourinho assumiu que também ele veio um homem diferente.

“Mudamos sempre neste tipo de cenários. Acho que nos tornamos melhores pessoas, como é óbvio, porque nos deparamos com situações extremas em que a vida é posta em causa e ao mesmo tempo observamos que os ucranianos estão muito unidos na defesa do país. Eu não sei se alguma guerra tem paralelo com esta a esse nível, pelo menos nos tempos modernos, quando se vê uma população inteira disposta a lutar pela vida para defender o país”, disse.

“Eu acho que quem irá sofrer mais, se a Rússia conseguir tomar a Ucrânia para ela, serão sempre as gerações mais novas. Eu acho que os ucranianos estão a lutar pelas crianças e pelos seus jovens, porque querem, de facto, ser um país onde a democracia vai saber construir um futuro importante para aquelas pessoas”, sublinha ainda Pedro Mourinho.

Veja aqui a entrevista

Nuno Santos elogia trabalho de Pedro Mourinho e Nuno Quá

Nuno Santos, diretor de informação da CNN Portugal, elogia o trabalho de Pedro Mourinho e Nuno Quá. “Conheço o Pedro Mourinho desde os 16 anos (dele). Eu tinha um pouco mais. Já tinha esta voz grave e séria e fez toda a vida profissional assim: de modo sério, acreditando na importância do trabalho, do estudo e nas suas convicções, que por vezes tomamos por teimosia (e talvez seja). Quando o desafiei para seguir para Kiev sabia que iria fazer um excepcional trabalho, como fez. Sempre naquele equilíbrio entre a serenidade e o sobressalto . Com o Nuno Quá contaram as histórias da guerra que hoje explicaram no Jornal das 8 da TVI. Vão voltar a Kiev. Mais cedo do que tarde”, promete.

Texto: Ana Lúcia Sousa; Fotos: Gentilmente cedidas pela TVI e D.R.
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