No tempo de Salazar, José Pedro Vasconcelos é um dos bons: «somos polícias verdadeiros»

José Pedro Vasconcelos já grava a todo o gás O Atentado, minissérie da RTP criada por Moita Flores e que revela a tentativa de assassinato de Salazar, num período político‑social pré‑ditadura.

07 Mar 2020 | 9:50
-A +A

A RTP volta a apostar em séries, desta feita, em mais uma produção de época, centrando a ação na década de 1930, quando Salazar estava no poder. Baseada em factos verídicos, escrita por Francisco Moita Flores e realizada por Paixão
da Costa, O Atentado reúne um elenco de peso, com nomes como Lúcia Moniz, José Pedro Vasconcelos, António Pedro Cerdeira, Tiago Teotónio, entre muito outros…

O Palacete Gomes Freire, em Lisboa, foi o décor escolhido para ser a sede da PIC, a antiga Polícia de Investigação
Criminal, que mais tarde daria lugar à atual Polícia Judiciária, que tem como chefe o conhecido apresentador José Pedro
Vasconcelos. «O meu papel é de Pereira dos Santos. Nesta época, de 1937, é a altura em que se dá o atentado ao
professor Salazar. Eu sou o chefe da PIC, que, de alguma forma, está dividido entre os tipos da PVD, os maus, e
da PIC, os bons. A PVD tinha a vontade de querer resolver as coisas rapidamente, de uma forma atabalhoada, e prendem quatro ou cinco fulanos num curto espaço de tempo. E nós, policiais de investigação e técnica, sabíamos que os que foram presos não eram de todo culpados, mas os bodes expiatórios. Aqui somos polícias verdadeiros, sem sermos policias políticos», explica.

Apesar de ficcionado, O Atentado é baseado em factos verídicos e muitas das personagens criadas pelo escritor existiram na realidade, como explica o ator/apresentador, que volta a trabalhar com o cineasta Paixão da Costa, como lembra: «O Moita Flores teve o cuidado de colar as personagens com figuras reais, transformando isto num género de série histórica. O primeiro papel de época que fiz foi também com o Paixão da Costa», diz José Pedro Vasconcelos.

O apresentador fez pequenas participações na série Solteira e Boa Rapariga (2019) e no filme Alguém como Eu (2017) mas já não interpretava um papel de relevo desde o remake de O Pátio das Cantigas. «Há muito tempo que não representava e o Jorge [Paixão da Costa] pediu que fizesse este processo de determinada forma e eu julgo que está a resultar. Estou a trabalhar com um método diferente do que trabalhei até hoje. É como que representar não representando.», explica José Pedro Vasconcelos.

Se, de um lado, está este polícia que quer resolver o mistério da tentativa de homicídio, do outro lado está a polícia política, a PVD. Para quem não conhece esta parte da história da pré-ditadura e as figuras que fizeram parte integrante desta tão conturbada época, o jovem ator João Arrais interpreta uma das suas personagens mais pérfidas, que aqui ainda começava a sua carreira na PVD, mas que mais tarde seria um conhecido inspetor da PIDE supostamente responsável pelo assassinato de Humberto Delgado.

«Sempre fui louco por História»

 

«Interpreto a personagem de Rosa Casaco antes de ser “o” Rosa Casaco. Mais tarde serei o responsável pelo que aconteceu ao Humberto Delgado… mas nesta época ainda era só moço de recados. Pode ser que pelo meu caminho não o chegue a matar», graceja o ator. Aos 24 anos, o ator já acumulou vários papéis de época, com destaque para o filme Soldado Milhões, onde vestiu a pele (em jovem) do mais condecorado soldado e o maior herói lusitano. Porém, esta personagem está nos antípodas desse soldado, pois agora é uma das mais odiadas figuras históricas, como o próprio relata.

«Eu sempre fui louco por História e a nota mais elevada no exame nacional. Fui ver alguns livros e vi o filme Operação Outono, do Bruno de Almeida, e deu para perceber um pouco mais a ideia que se tinha de Rosa Casaco, e que era ‘forte’ e ‘dura’.»

Tal como vem acontecendo, a RTP está na linha da frente no que respeita à ficção nacional em formato de série, com grande
destaque para o carácter biográfico/ histórico, como garante o próprio José Fragoso. «Foi-me apresentado há cerca
de um ano e é uma história que ninguém ou muito pouca gente conhece. É um facto que hoje teria uma dimensão imensa, pois é uma tentativa de assassinato de uma figura de grande relevo. O que Moita Flores fez foi centrar-se na investigação que foi feita e na rivalidade entre as polícias», explica o diretor de programas da RTP.

O Atentado, apesar de ficcionado, é uma obra que vai permitir ao telespectador perceber a génese da ditadura que durou quase meio século e que terminou a 25 de abril de 1974. «Essa investigação tem um pano de fundo conflitual entre várias áreas políticas, vários pensamentos e muitas ideologias, e é nesse momento que nasce a ditadura que irá durar por48 anos. Pensámos que há aqui vários ingredientes para fazer uma série e o público terá uma oportunidade de ter um olhar sobre o nosso passado», garante o diretor de Programas.

 

(texto originalmente publicado na TV 7 Dias 1720)

 

Texto: Eduardo César Sobral | Fotos: Zito Colaço
PUB