Nunca mais voltou às redes: Marta Cardoso foi ameaçada de morte e agressores safaram-se

A apresentadora do “Extra”, da TVI, foi ameaçada, apagou as redes sociais e denunciou a situação. Resultado: Vazio na lei impede condenações.

13 Fev 2022 | 11:10
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A apresentadora do “Extra”, da TVI, foi ameaçada, apagou as redes sociais e denunciou a situação. Resultado: Vazio na lei impede condenações. Um episódio que a marcou, mas que ela desvaloriza face a tudo o que já lhe aconteceu nestes 22 anos de carreira.

TV 7 Dias  – Como está a correr este regresso ao “Big Brother”, como apresentadora?

Marta Cardoso – Está a ser extraordinário, até por que eu quando aceitei o convite aceitei para me vir divertir, é a minha prioridade número um. Mais do que se estou bem vestida, bem maquilhada ou na posição certa.

Mas também conta…

… Conta mas não é por mim, acredita, que eu fazia isto na mesma de pijama. Não é uma exigência minha é da profissão e do facto de estarmos em televisão e a imagem contar. 

É fácil lidar com o elenco que vai passando aqui todas as noites?

É, estamos a falar de pessoas que quase todas já fizeram isto, já se modelaram muito bem à função de comentador.

Já passou por outros formatos mas, é aqui, nos reality shows que se sente bem ou nunca surgiu oportunidade de fazer outro tipo de programas com mais regularidade?

Quando se fala de reality shows há uma identificação ao formato, que eu não tenho com nenhum outro. A única experiência em televisão que levou o meu lado pessoal para a experiência foram os reality shows. Falo-te no Big Brother, no Circo das Celebridades, no Perdidos na Tribo, em tudo o que seja acompanhar um desafio na vida de alguém 24 horas por dia. É claro que essa carga pessoal aliada ao gostar de comunicar e ao formato que se está a fazer traz sempre outra força. É diferente de eu ir fazer o Você na TV! que é meramente trabalho, é um formato que eu me habituei a fazer na televisão, mas que eu não vivi. É diferente. Estar associada aos realitys é sentir-me como peixe na água, não me assusta enquanto comentadora nem como apresentadora, repórter ou editora. Estou muito confortável. Outros formatos deixam-me sempre mais assustada, porque não estou tão confiante.

Portanto é uma questão de opção…

Já tive possibilidade fazer outros formatos, não com esta regularidade, o Somos Portugal, Euromilhões, Fear Factor… não é que eu não os goste de fazer mas a minha sensação de conforto nunca é a mesma de quando estou a fazer um reality. Também me cansa, por isso é que estive um ano fora que já estava com realitys pelos cabelos. Precisei de fazer uma desintoxicação do formato, porque são muito intensos. 

Dedica-se muito à compra e venda de casas, decoração, não estava já na altura de a convidarem para o “Querido Mudei a Casa”?

(risos) Via-me a fazer o Querido, não sei se o ia fazer bem. Duvido que conseguisse estar a largar sem largar postas de pescada sobre isto e sobre aquilo.

Dispensava as decoradoras…

Lá está, não pode ser, porque elas é que são as profissionais do assunto, portanto eu tinha de ser meramente apresentadora. Mas adorava fazer esse formato, claro.

Perde quanto tempo do seu dia com o Big Brother Famosos?

Muito tempo. Mais ao menos a partir da hora do almoço, eu dedico-me a ver todos os vídeos que a aplicação do Big Brother fornece e são muitos. A partir das quatro da tarde acresce todos os relatórios que me fazem chegar da equipa e da Endemol. Não estou sentada 24 horas por dia ao TVI Reality, senão não fazia mais nada, mas quando estou a lavar a loiça, a passar a ferro ou o que seja, está sempre ligado.

Fala-se numa nova edição. Está disponível para continuar por aqui?

Estou disponível para fazer o Big Brother Famosos durante o tempo que ele durar e isso pode ser uma edição, duas, três, as que a TVI entender.  

Quem é que a chamou para apresentar?

… Foi a equipa da TVI. (risos)

Como comentadora, teria regressado?

Não faço ideia. Atenção, eu não vejo as coisas como a maior parte das pessoas as veem em termos de estatuto. Eu trabalhei no canal V da antiga Cabovisão, que ninguém via e foi das melhores coisas que me aconteceram. Adorava fazer aquelas reportagens e estive em sítios incríveis. Imagina, agora estou a fazer o Big Brother Famosos, sou apresentadora, e se calhar, amanhã estou a fazer reportagens e as pessoas vão dizer que andei de cavalo para burro. Se o desafio for interessante é-me indiferente. 

Tem favoritos?

Normalmente tenho, mas nesta casa não consigo fazer essa distinção. Todos têm coisas que eu gosto muito e que eu gosto menos. Todos me fazem chorar e todos me irritam. Depende da hora do dia e o que estão a fazer.

E quem acha que vai ganhar?

Se calhar pelo protagonismo e pela forma como tem estado dentro da Casa o Bruno de Carvalho é uma possibilidade, a Liliana, o Jorge, por ser um querido, a Marta, por abanar a casa toda.

Temos visto que quem se mete com o Bruno de Carvalho acaba por sair.

Eu acho que todas as personalidades que entram num reality, famosos ou não, que são muito polémicas, geram sempre no público reações muito boas e muito más. Quem gosta muito defende e quem não gosta quer tirar de lá. Só que é mais fácil os que defendem defenderem do que os outros atacarem. Se os apoiantes do Bruno, por exemplo, se juntarem todos para votar no X, para salvar o Bruno, é mais fácil que ele seja salvo do que os restantes se dividirem pelos cinco ou seis nomeados que existem. É uma questão de contas.

Há 22 anos quando apareceu já imaginava que era este caminho que queria seguir?

Não. Eu quando comecei já estava a estudar comunicação social, mas a minha ideia foi sempre informação. Não me via no entretenimento, nem via muita televisão. Depois do Big Brother fui um bocadinho empurrada para aí e vi que nesse campo tinha sido um caminho sem volta, seria muito improvável já na altura, que um ex-concorrente de um reality fosse bem aceite no mundo da informação, onde é tudo mais fechado, mais sério. E aceitei. 

No entretenimento sentiu que teve que lutar mais que colegas seus que não passaram por um reality show?

Acho que isso também vai muito da nossa cabeça. A verdade é que eu estou aqui e teria sido extremamente ingrato da minha parte dizer isso. E a verdade é que olhando para alguns colegas meus, também passaram algumas dificuldades, não necessariamente as minhas, mas também tiveram de lutar. Se calhar alguns não estão nem estarão onde gostariam de estar. O meio televisivo, como tantos outros também é perverso em algumas coisas e isso estende-se a todas as pessoas e não só aos participantes de realitys. A sorte faz o seu papel, saber aproveitar as oportunidades certas e rejeitar outras, que não são tão boas, também. Não sei se seria justo da minha parte dizer que temos que lutar mais, para mostrar. Acho que não. 

O seu filho está crescido. Como é que ele vê a mãe dele?

Não vê. O meu filho é completamente avesso à exposição: Não gosta, não subscreve, mas respeita. Para ele é normal, porque não me conhece de outra maneira. Quando ele nasceu eu já tinha participado no Big Brother, portanto a Marta anónima ele não conhece.

Ele já está com que idade?

O Marco está com 19 anos.

Ele nunca teve curiosidade de ir ver as imagens do Big Brother?

Só pela história e por ser o pai e a mãe. Mas mesmo assim muito pouco, só ali para perceber meia dúzia de coisas. Não é apelativo para ele. Ele é como eu, não tem redes sociais, não liga nada. Nem à televisão, nem ao que se diz. É muito centrado nas coisas dele e no caminho dele e eu também nunca insisti.

Não se sente um alien por não ter redes sociais?

Só sinto isso quando alguém me diz, diz-me lá qual é o teu Insta. E eu digo: “não tenho.” E sinto aquele olhar… Só nesse momento.

É público o que a levou a deixar as redes sociais [N.R. ameaças de morte]. Aquilo assustou-a mesmo?

É pública a razão pela qual eu deixei. Foi aquele momento em que eu disse “não”. Mas não foi nada de especial, eu sei que já houve pessoas que já passaram por muito pior. Na verdade, o que aconteceu foi por eu ter dito qualquer coisa na televisão e nem foi nada do outro mundo. Eu já não ia às redes… Para teres uma noção, eu só me apercebo do que está a acontecer uns cinco dias depois, quando alguém me alerta. Fui um bocadinho atrás do temos que ter, porque trabalhamos em televisão, faz parte. Quando aquilo acontece eu disse, “olha, é precisamente por isto que eu não quero ter redes sociais”. Não me acrescenta nada. É abrires a porta da tua intimidade para o Mundo. Se o fizeste não te podes queixar. Foi a melhor coisa que eu fiz, não tenho saudades nenhumas e já passaram alguns anos. 

Portanto, para saberem da sua vida têm de falar consigo?

Exato. O meu número de telefone é o mesmo há 20 anos, o mesmo e-mail. As pessoas que se importam comigo e com quem eu me importo, todas sabem contactar-me. Tudo o resto não faz muito sentido. A paz com que eu vivo sem redes sociais não tem preço. Quando me perguntas dos dividendos e ganhar milhares de euros em publicidades e afins é verdade. Mas a que preço, a que custo? Eu consigo viver com menos, sempre vivi com pouco. Troquei de carro agora. Tinha 20 anos e andava na perfeição, a minha casa serve-me e até estas roupas não são minhas são da TVI.

Tem uma relação, o que para quem não tem redes sociais facilita consegue esconder.

Exato (risos). Eu nunca escondi, simplesmente nunca a expus. 

Expôs há pouco tempo…

Não fui eu, foi ele. A culpa é dele, eu não sabia. Ele é que decidiu falar [N.R.: mandou um vídeo durante entrevista do Manuel Luís Goucha]. (risos) Sim, tenho uma relação há sete anos, o que é que queres saber?

Como aconteceu?

O Daniel é irmão de uma colega minha que eu reencontrei muitos anos depois. O irmão vem por acréscimo. Tens uma amiga que o irmão, que é emigrante, aparece. Interessámo-nos, apaixonámo-nos, começámos a namorar. 

Voltando aqui um pouco atrás, fez queixa do ataque nas redes sociais. Não deu em nada?

Não deu em nada, porque em Portugal não temos legislação ainda, como existe em outros países, para ataques nas redes sociais. Mas na verdade, não fazia grande diferença, porque eu acho que as pessoas que atacam nas redes também foram atacadas nas redes. Toda a gente utiliza as redes como uma espécie de arena, onde toda a gente tem a possibilidade de se ir degladiar por alguma coisa. Eu não sou contra as redes. As redes, como tudo na vida têm um lado bom, se forem utilizadas da melhor maneira e um lado perverso se forem utilizadas de forma perversa. 

Nem lhe passa pela cabeça alguém que lhe gira as redes?

Para? As redes não são para as pessoas viverem socialmente umas com as outras e tirarem partido? A menos que tu me digas que aquilo é uma plataforma para tu ires ganhar dinheiro. Alguém toma conta e tu só ganhas dinheiro da publicidade. Acho lindamente, a mim é que não faz sentido nenhum. 

A Cristina Ferreira lançou uma petição para que este assunto seja discutido na Assembleia da República…

… Ah, ela fez isso. Não sabia. Mas pronto, o que eu eu acho é que se há legislação para tudo e as redes ocupam um espaço tão grande na vida de toda a gente, e aqui é transversal, desde a figura mais conhecida, à que ninguém conhece de lado nenhum, excetuando aliens como eu, que não têm, de resto isto faz parte da vida de toda a gente.

Afinal sempre se sente um alien…

… Não sou eu. Os outros é que me chamam alien, assim como tu, como quem não quer a coisa. Portanto, porque não haver uma legislação para isso? Acho que deve haver uma lei. Se eu abrir a porta da minha casa isso dá-te o direito de entrar. Eu não tenho o direito de a deixar aberta e tu, pelo facto de ela estar aberta tens o direito de a invadir e de te servires? As redes são um bocadinho assim. 

A Marta começa precisamente na televisão por abrir essa porta.

Exatamente. No meu caso sim. Eu não tinha essa consciência, mas eu sabia que havia lá câmaras e que aquilo era um programa de televisão. Devia ter-me informado mais sobre o formato? Devia. Não havia muita informação mas eu não vou ser hipócrita: a que quer que existisse eu não fui à procura dela, tentar saber. Era uma miúda e fui à aventura e não queria saber. Quando as consequências vieram fazer o quê, assumi-las, não é? Não vou dar aqui uma de inocente.

Hoje olham para si como Marta, profissional de televisão e apresentadora ou ainda falam muito no passado?

Não sei dizer. Haverá quem me veja como Marta do Big Brother, outras que já se tenham esquecido. Varia muito.

E a Marta, como se vê?

Eu nunca me deixei de ver como a Marta do Big Brother. Nunca deixei de ser a adolescente rebelde, como nunca deixei de ser tantas coisas. Nós somos tantas personagens ao longo da vida, diferentes, sendo sempre a mesma pessoa. Vejo-me como uma pessoa que vai aprendendo com tudo o que faz, repetindo alguns erros, tento melhorar todos os dias, mas não distingo a Marta de hoje da Marta do Big Brother.

Texto: Luís Correia (luis.correia@impala.pt); Fotos: Helena Morais e DR

 

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