“O jogo de sedução é maravilhoso!”: Aos 60 anos, Claudia Ohana fala de amores

De passagem pelo nosso país para promover a nova novela da Globo, “Vai na Fé”, Claudia Ohana, que já posou 2 vezes para a Playboy, revela que não está apaixonada, mas que tem sempre alguém por perto.

12 Mar 2023 | 17:50
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TV 7 Dias – Está de volta às novelas em “Vai na Fé”, no papel de Dora. Como foi a sua preparação?

Cláudia Ohana – Nós temos sempre na cabeça um estereótipo de quando falamos de um personagem hippie que vai ter uma vida no mato. Fiz rituais xamânicos, coisas de índios, estudei sobre pedras, aromaterapia, comecei a fazer ioga porque ela é professora de ioga e não parei mais, inclusive, o meu preparador para a Dora agora é meu professor. Estou apaixonada pelo ioga. Não queria que ela fosse uma personagem zen em demasia, queria que ela tivesse mais ritmo. Vi o filme Mama Mia com a Meryl Streep que faz uma hippie e é bom porque ela é um génio.

A Dora tem uma difícil relação com a filha, a Lumiar [N.R: Carolina Dieckman]. Como foi criar essa ligação com a Carolina?

É muito engraçado porque os pais são felizes e alternativos e ela é que não aceita os pais, quando o contrário. Ela não aceita o tipo de vida deles no mato e os seus pensamentos com curas holísticas. Contracenar com a Carolina está a ser ótimo, estou a ter um relacionamento excelente com ela. A Carolina é uma pessoa muito dedicada e disciplinada.

O que tem sido mais desafiante nesta história?

É realmente dar um ritmo para este personagem não ficar lento, não ficar estereotipado de hippie. De cair no comum. Já estou a gravar há dois meses e para já esse é o maior desafio.

A novela fala também um pouco de fé. Como lida com isto?

É interessante porque a fé da Dora é na energia, a minha fé é bem ampliada. Eu sou uma pessoa que tem várias fés, fé não é só religiosa, é fé em você, fé nas coisas, no que vai dar certo, fé no positivo. Eu estou nessa, na fé no positivo. Eu sou uma pessoa que acredita em Cristo, gosta de Cristo, fui criada como católica, mas também acendo as minhas velas para lemanjá, faço rituais. Adoro rituais de incenso, de defumação. Adoro. Adoro jogar um tarot, adoro entrar numa igreja e rezar.

Joga o tarot a si própria e segue as dicas das cartas?

Sim jogo, mas não sigo o que dizem. As cartas só indicam o caminho que você já sabia. Eu sigo sempre a intuição. Acredito mais no meu feeling que também é uma coisa de crenças. Jogo só para ver como dá a situação e dizer: bem que eu estava desconfiada… é para confirmar.

Acredita numa força superior? Em Deus?

Não sei dizer. Eu acredito na nossa própria força e na nossa própria fraqueza. Às vezes eu acredito que existe uma coisa muito maior, eu me sinto uma formiga. As vezes eu vejo a gente como nada perante um universo tão gigante. E a gente meio pretensioso achando que é só mais alguma coisa no universo e não somos mais nada que um grão de areia. As vezes acho que somos Deus.

Tem mais de 40 anos de carreira. Imaginava este percurso de sucesso?

Quando comecei não imaginava nada disto, só imaginava o dia seguinte. Alias eu ainda sou assim, não sou uma pessoa que fica pensando no passado e nem sou uma pessoa que planeia muito o futuro. Tenho orgulho do meu percurso. Sem dúvida. No outro dia falei para uma amiga minha, se eu escrever um livros sobre a minha vida já dá para ser um bom livro.

Quais os papéis mais marcantes da sua carreira?

Na televisão foi o Vamp, no cinema Erêndira e no teatro Carmen.

O que ainda lhe falta fazer?

Muita coisa graças a Deus. Queria fazer a Megera Indomável de William Shakespeare. Adoraria.

Já fez muito sucesso no teatro, no cinema, na televisão. Onde gosta mais de estar?

Hoje em dia diria que é no cinema, depois televisão. Eu aprendi a gostar de fazer televisão, agora eu no teatro eu aprendi a ser atriz, por isso eu respeito muito. Gosto muito de fazer teatro e de fazer tudo, mas como um todo, como uma arte o cinema é mais completo.

Tem uma beleza que não deixa ninguém indiferente e chegou até a posar duas vezes para a Playboy. Faria uma terceira?

Hoje em dia uma mulher de 60 anos tirar a roupa é revolucionário, não é vulgar, é revolução. Tudo tem o seu tempo.

Hoje teria feito esses ensaios? Gosta de ver essas sessões fotográficas?

Não vejo nada. Não tenho o menor interesse em rever. Às vezes as pessoas me mostram alguma coisa e eu digo que é legal. Mas é passado, não sou de de cultuar a minha imagem do passado, não tenho fotos minhas em minha casa, não tenho aquele culto de ter milhares de fotos numa parede.

Acabou de celebrar 60 anos. Qual o seu segredo para manter uma forma física tão invejável?

Trabalho desde os 15 anos e me cuido desde ai. Como eu dançava muito sempre me cuidei, tirando sempre a maquilhagem. Faço sempre qualquer coisa, agora por exemplo é o ioga. Estou a fazer ioga e jogo muito frescobol na praia. É maravilhoso e faz muito bem ao corpo. Tenho cuidado com a alimentação, bebo muita água e dormir é fundamental. Eu sempre dormi muito bem, pelo menos oito horas. Agora faço umas sestas à tarde e o meu neto de nove anos até brinca comigo, que só da para perceber que já sou vovó porque faço um cochilo de tarde. Diz que dormir de tarde é coisa de vovó.

Que tipo de avó é?

Sou vovó de dois netos. Sou do tipo amiga, sou apaixonada por eles. Estou morrendo de saudades deles. Sou uma avó super legal, brincalhona, mas não estou em casa sempre com eles. Sou uma avó moderna que trabalha.

Como lida com o envelhecer?

Acho que me dou muito bem com o envelhecimento, mas tenho milhares de coisas que não estão assim tão maravilhosas. Ainda para mais no Brasil temos muito o culto de beleza e a juventude muito grande. Então é difícil envelhecer no Brasil mas não é uma coisa que me preocupa. Sinto-me bem com a imagem que tenho. É bom chegar aos 60 anos e acharmos-nos bonitas. Mas faço yoga para estar alongada, temos que cuidar do físico e da mente. Não pensem que fico de bobeira sentada no sofá sem fazer nada. Envelhecer não me consome.

Recebe muitos piropos?

Quem não recebe? Quanto mais brasileiro que é bastante animado. Neste momento estão sempre a dizer-me que não pareço ter esta idade.

É uma mulher romântica?

Sim sou uma mulher romântica. Adoro atos românticos. Já me fizeram grandes loucuras por amor. Gosto de homens românticos, mas se o cara for em excesso não é bom para ele, aí não vou gostar. Tem que ter sedução.

Gosta mais de seduzir ou de ser seduzida?

Gosto mais de ser seduzida. O jogo de sedução é maravilhoso. Gosto muito da arte da sedução.

E neste momento esta seduzida por alguém?

Tenho sempre alguém… Estou numa fase boa mas não tenho o coração preenchido. Estou solteira, mas para haver sedução não precisa de estar apaixonada. Não estou apaixonada por ninguém. A gente pode começar a namorar em qualquer idade. E não tem problema uma mulher estar solteira.

Já viveu grandes amores?

Sim sem dúvida. Imagina chegar aos 60 e nunca ter vivido um grande amor. Seria triste. Já vivi vários. Tive amores que eu sofri horrores durante um mês, depois acabou e já nem me lembro. Sou intensa, sou atriz. Mas não sou de me jogar aos pés não. Mas também não goste de homens que se joguem muito não. Já me joguei uma vez e chegou. Não deu certo não e não adiantou nada (risos).

Viveu seis meses em Portugal. Gostava de voltar a trabalhar cá? Se a convidassem para uma novela?

Gostava sim. A minha irmã mora aqui. Vivi bem aqui, eu fazia aula de dança e canto lírico. O meu namorado na época era maestro aqui do São Pedro. Eu fazia canto lírico e ele achava que eu deveria ser cantora lírica e gostava muito de estar cá. Era maravilhoso fazer uma novela cá. Acho que aceitava fazer uma novela sim ou fazer cinema português também seria legal. Gostava muito.

Sendo que o canto é uma das suas paixões. Como está essa fase na sua vida?

Vou fazer um musical agora de Dom Quixote no Rio de Janeiro. Vou começar a ensaiar. Estava fazendo a Maria Callas, no espetáculo “Parabéns Sr. Presidente, In Concert”. Quando chegar vou fazer mais umas sessões de Callas e começo de seguida o musical. Musical é uma coisa que dá trabalho e isso é desafio.

Nunca pensou deixa de ser atriz e optar só pela carreira musical?

Já pensei sim, na altura da Vamp, mas achava muito cafona ser cantora. Mas volte e meia penso tanta coisa.

Com que idade decidiu ser atriz? Ser de uma família de artistas influenciou a sua escolha?

Comecei a ser atriz aos 15 anos. A família influenciou claro. A minha mãe era montadora de cinema, a primeira mulher montadora de cinema e o meu pai era pintor. É uma família de artistas, não tem nenhum advogado, médico, dentista.

A sua filha seguiu as suas pisadas. E os netos vão pelo mesmo caminho?

Sim verdade. O Arto, o mais novo acho que ele vai ser. Mas ele está indeciso entre ser ator ou jogador de futebol. O mais velho ele é músico, ele é génio. Toca todos os instrumentos desde os dois anos de idade. Ele com dois anos me ensinava a tocar bateria.

O que gosta mais no nosso pais?

Já cá vim muitas vezes. Eu acho Portugal lindo, sou muito bem recebida, come-se maravilhosamente, eu gosto de tudo aqui. É tudo muito lindo. Fiquei muito feliz de voltar a Lisboa. As pessoas são muito simpáticas quando me reconhecem. Os portugueses são muito queridos.

 

Texto: Neuza Silva (neuza.silva@impala.pt); Fotos: Tito Calado
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