“O meu corpo parou”. Catarina Camacho abandonou televisão devido a um ‘burnout’

Catarina Camacho foi repórter da RTP1 durante vários anos e viu-se obrigada a abandonar a carreira televisiva. Teve uma depressão grave e ainda não recuperou.

09 Ago 2022 | 17:50
-A +A

Catarina Camacho era repórter do programa “Alô Portugal”, na RTP1 e abandonou a carreira televisiva depois de 16 anos à frente das câmaras. Em entrevista a Manuel Luís Goucha, na segunda-feira, 8 de agosto, no programa da tarde da TVI, contou o que esteve por detrás desta decisão.

“Foi um ato de reflexão, ponderação e coragem para se deixar muitas vezes o que acha que é o certo pelo ‘não sei’. Onde estou agora sou muito mais feliz. Sei que estou a ir para uma coisa minha. Fui muito feliz enquanto fiz televisão… Nos últimos tempos, já não fui tão feliz e tive de mudar”, disse Catarina Camacho, que iniciou a carreira com Daniel Oliveira no programa “Só Visto”.

Nesta fase, a repórter era feliz na ‘caixinha mágica’, mas tudo mudou com a morte do pai e uma mensagem que este lhe enviou pouco tempo antes de partir. “Comecei a ponderar deixar de trabalhar em televisão, porque tive o famoso ‘burnout’. O meu corpo parou, a minha mente deixou de funcionar bem, e eu deixei de me sentir capaz de trabalhar. O assunto de terminar a carreira já tinha sido conversado inclusive com o meu pai”, contou a ex-apresentadora. “A partir do momento em que fui mãe, percebi que me incomodava ter a mala feita e sair de perto do meu filho [atualmente com nove anos]. O problema é que não tinha horários. Hoje, a esta hora, provavelmente não sabia onde é que ia trabalhar e até que horas… Podia ser no Algarve, no Porto, e isto começou a causar algum desagrado. Eu sabia que ele estava bem entregue, mas eu sentia saudades e queria estar com ele”, disse.

Catarina Camacho recordou ainda o momento em que decidiu dizer o adeus. “Eu estava a apresentar um programa, na altura, e o meu pai mandou uma mensagem a dizer: ‘Estás tão bonita, já tinha saudades de te ver na televisão’. E eu respondi: ‘Obrigada, mas se soubesses o quão infeliz estou aqui’. E ele respondeu-me: ‘Eu sei, consigo ver isso nos teus olhos. Não te esqueças de nunca estares onde não és feliz’. E essa mensagem está comigo até hoje“, disse, revelando de seguida que soube da morte do pai quando estava a trabalhar: “Estava entre diretos, quando recebi uma chamada com a notícia que eu não esperava, de uma senhora que me disse que o meu pai tinha partido. A partir desse dia, desse momento e dessa circunstância, eu nunca mais consegui voltar a fazer televisão e achei que não fazia sentido. Lembrei-me da mensagem que o meu pai me tinha deixado antes”.

Catarina Camacho foi diagnosticada com uma depressão no verão de 2021, e o pai morreu poucos meses depois.

Catarina Camacho desmaiou e acordou no hospital

Catarina Camacho recordou um episódio que quase desmaiou em direto. “Eu estava a fazer o ‘Aqui Portugal’ com o Hélder Reis e a Joana Teles. Eu ia entrar no ar em direto quando desmaiei. Recordo-me vagamente de acordar no hospital, depois continuei a dormir e depois recordo-me de acordar já em casa. Acordei quase 40 horas depois, eu estava esgotada, exausta. Eu não dizia que não. Não dei valor aos sinais que o meu corpo ia dando, pouco dormia, trabalhava muito. Comecei a perceber que já não era feliz. Com o confinamento, comecei a perceber que se calhar não precisava de trabalhar tanto, estava mais feliz em casa com o meu filho e marido e, aos poucos, fui-me desapegando do trabalho e comecei a dizer não. Quando eu percebi que começou a ser fácil dizer não e que me sentia mais tranquila ao dizer não, percebi que estava a dizer sim para outras coisas e que havia mais vida para além disto”, contou.

Catarina Camacho admitiu ainda que, quando tomou a decisão, teve dúvidas. “Mas depois começaram a surgir dúvidas. É nesta fase que perco o meu pai, o grande homem da minha vida. Ainda não percebi muito bem o que é o luto, mas já consigo lidar melhor com a falta e acho que consigo transformar esta falta em saudade”, partilhou, explicando que teve de pedir ajuda: “Ainda não consegui sair totalmente. Numa primeira fase faço, medicação e agora também psicoterapia. Recorri a psiquiatra e a psicoterapeuta. Estou a viver em Coimbra e com outros projetos”.

Texto: Ana Lúcia Sousa; Fotos: Divulgação TVI e Reprodução redes sociais
PUB