O que disse Fernando Pereira há 31 anos?

Desafiámos o artista a comentar a entrevista que deu à Tv7Dias, na primeira edição da revista, em abril de 1987.

09 Abr 2018 | 18:45
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Há 31 anos, no dia 10 de abril, a revista TV 7 Dias chegava, pela primeira vez, às bancas e às mãos dos portugueses. Entrevistas, programação e muitas novidades do mundo televisivo enchiam as páginas da sua revista. E um dos entrevistados desta primeira edição foi Fernando Pereira

Na altura, o artista era um jovem de 28 anos em plena ascensão, cheio de «sonhos» e «vivendo a loucura desenfreada de concertos, agarrando todas as oportunidades como se não existisse amanhã».

Falou da carreira que construiu a pulso e com bastantes dificuldades. Passou muitas noites a animar uma série de clientes sequiosos de cerveja para chegar onde chegou, confidenciou.

«Chegar ao topo é fácil. Basta talento, sorte e algumas ajudas. As duas últimas condições são imprescindíveis. Quanto à primeira, é a mais discutível. Mas chegar ao topo é fácil. Manter-se lá é que é difícil.»

Em 1987, referia que era «único no tipo de espetáculo» que fazia e não assumia qualquer preocupação com o futuro. Hoje, com 59 anos de idade, Fernando Pereira continua a dar cartas no mundo do espetáculo e cheio de talento na arte de de imitar pessoas.

 

Passados, então, 31 anos desde a primeira conversa com a TV 7 Dias, convidámos o artista a reler a entrevista e a comentá-la. Quisemos saber o mudou na vida artística de Fernando Pereira neste tempo todo que passou. E o que se mantém.

 

Pode ler a primeira entrevista e as fotografias na galeria

 

«É de facto muito interessante ler algo que se disse e escreveu há mais de 30 anos. E ainda mais impressionante ver como tanta coisa mudou ao longo deste tempo, na sociedade, na música, nas artes, na imprensa, no audiovisual…», começou por dizer.

 

«Mas esta entrevista de 1987, revela um jovem de 28 ou 29 anos, em início de uma carreira fulgurante, cheio de sonhos e ilusões e vivendo a loucura desenfreada de concertos, agarrando todas as oportunidades como se não existisse amanhã. Hoje, o artista está muito mais sereno, profissional e exigente. Sabe o que quer e, ainda melhor, o que não quer», explica Fernando Pereira.

«Aprendeu a dizer não a muita coisa e a muita gente, assim como também a escolher para quem trabalha e com quem quer trabalhar. E vive há anos numa “velocidade de cruzeiro” muitíssimo gratificante, que lhe permite ter sempre momentos altos e positivos, pois quando algo corre menos bem, o que por vezes também acontece, fica a enorme gratidão de uma salutar aprendizagem e ensinamento. Afinal, a vida é isto mesmo, uma experiência fantástica concedida ao Homem pelo Criador, que nos permite acumular vivências, observar, aprender, crescer, amar, criar e depois, um dia, voltar para casa em paz.»

Fernando Pereira lamenta aposta «no mais barato»

Na altura, finais dos anos 80, Fernando Pereira tinha acabado de gravar para a RTP um especial de televisão, com cerca de 1h20, do seu espetáculo intitulado «No País das Maravilhas». E tinha, finalmente, o estatuto de vedeta do meio artístico português. Hoje, já não se fazem ‘especiais’ desses. O artista lamenta que «os programadores apostem no barato e no baixo nível, onde impera a futilidade, a decadência moral e a cultura popular mais “trash” que alguma vez existiu em Portugal».

«O canal único de televisão, onde uma simples atuação em horário nobre chegava a milhões de pessoas e lançava de imediato um artista no país inteiro, deu lugar a dezenas ou centenas de canais, que dispersaram os públicos e, todos juntos, não conseguem um décimo do que se atingia de popularidade naquela época (…) O negócio da televisão perde cada vez mais clientes e espetadores, que, para ver porcaria, se transferem para os computadores e telemóveis», diz o artista.

«A televisão, tal como a conhecemos, se não apostar rapidamente na excelência e na superior qualidade da sua oferta, tem absolutamente os dias contados. Criaram-se “capelinhas” e grupelhos de “amigos” sem graça nenhuma, que dominam o sistema audiovisual e impedem completamente a a alteração deste estado de coisas. É sempre mais do mesmo, infelizmente, e isso vai ser fatal para todas as televisões.», acrescenta Fernando Pereira. 

«A juventude é muito bonita mas nem sempre compensa»

O deslumbramento de há 30 anos foi-se. Mas o talento manteve-se ou, melhor, cresceu. Apesar de algumas desilusões e reveses na carreira, Fernando Pereira continua firme em cima do palco e a encher casas de espetáculos. Garante que melhorou com a idade e confessa que não trocava o «homem realizado e sereno» que é hoje pelo jovem deslumbrado de há mais de três décadas.

«Se as pessoas que ainda não me conhecem ou que não vêem há muito tempo, assistirem hoje a um espetáculo meu, vão encontrar essencialmente um amigo, um homem simples, um artista a cantar cada vez melhor, a divertir-se cada vez mais e, também, cada vez mais feliz com tudo o que a vida lhe proporciona: alegrias, amizades, sabedoria e o enorme prazer de fazer os outros felizes com o seu trabalho. Subi a pulso, com os talentos que Deus me deu e também muito trabalho, assumo tudo o que fiz e que fui, mas não trocaria nunca o homem realizado e sereno de hoje, por aquele rapaz agitado e deslumbrado de há 30 anos. A juventude é muito bonita, deve ser acarinhada, mas nem sempre compensa assim tanto.»

 

A edição de aniversário da Tv7Dias já está nas bancas!

 

Texto: Inês Neves | Fotos. Arquivo Impala

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