Pandemia: Catarina Furtado revela quais as maiores dificuldades que sente com os filhos

Em plena pandemia, a apresentadora do The Voice Kids, não esconde as dificuldades que tem vivido no seu seio familiar nos últimos tempos. Catarina Furtado conta tudo, em exclusivo, com a TV 7 Dias.

20 Mar 2021 | 12:30
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À TV 7 Dias, Catarina Furtado que conquistou o título de “namoradinha” de Portugal na década de 90, fala ainda sobre a carreira e as ações humanitárias que a fazem percorrer o planeta.

TV 7 Dias – Que balanço faz do “The Voice Kids” até agora?

Catarina Furtado – O melhor possível. Se ao princípio tinha receio de que as crianças que não fossem escolhidas nas provas cegas ficariam muito tristes, esse medo dissipou-se e apercebi-me, de forma muito evidente, que elas ficam muito felizes por terem vivido aquela experiência. Terem sido muito bem tratadas pela produção, pelos mentores, pela Bárbara e por mim é o que levam de mais forte na memória. É sempre uma vivência inesquecível e fazem questão de dizer que querem voltar a tentar! E como a edição está fantástica da parte da produtora Shine, de facto, cada história de vida é tratada com muito respeito, prevalecendo sempre o talento, sem uma invasão demasiado gratuita da intimidade de cada família, os pais e familiares também têm dado um feedback muito positivo. Depois culmina com o sucesso que tem sido em termos de audiências que também leva a que a RTP esteja muito contente. Como eu estou porque se trata de um formato de qualidade que promove excelentes valores e talento. E ainda mostra o quão importante são as relações das famílias. E dos irmãos em particular.

 

Tinha saudades de apresentar um formato protagonizado pelo público mais novo?

Tenho sempre. Fiz há dois anos o Aqui quem manda são as crianças !, que adorei conduzir e onde elas puderam dar as suas opiniões e no ano passado o Idades da Inocência com crianças e idosos que foi um dos formatos de que mais gostei de fazer porque teve um impacto direto na promoção de uma sociedade mais inclusiva, inter-geracional onde os valores do respeito e da partilha de aprendizagem ficaram bem sublinhados como fundamentais para a nossa qualidade de vida. Ou seja, foi um formato que foi para além do ecrã, foi implementado na vida real e provou como a televisão pode ser mesmo uma inspiração para construção de um país melhor.

 

Houve algum concorrente que a tivesse marcado mais?

Muitos, não irei responder por uma questão de ética. De vez em quando falo com alguns deles.

 

Tem uma relação muito transparente com as pessoas e é muito física. Como tem sido para si trabalhar em tempos de pandemia?

Tem sido uma fase de adaptação e de facto os seres humanos são mesmo seres adaptáveis. Mas confesso que como pessoa e comunicadora de afetos, que gosta muito de abraçar, é-me muito difícil ter de apresentar com distância física, sobretudo não poder abraçar as crianças e os avós, mas tudo se faz quando se gosta muito da profissão.

 

Apesar de continuar a sair para trabalhar como tem vivido este novo confinamento geral, numa altura em que as crianças voltam a ter aulas à distância? Tornou-se também professora?

Nem por isso porque eles já são mais autónomos (13 e 14 anos) mas pelo menos vou “controlando “ melhor e a alimentação saudável também!

 

Durante este período pandémico o que tem sido mais difícil para si, enquanto mãe e mulher?

O mais difícil é gerir as expectativas dos adolescentes, sobretudo da minha filha. Não é fácil estarem nesta fase longe dos amigos e apesar de tudo, são uns privilegiados. É difícil afastá-los dos ecrãs e tentar que leiam e vejam mais documentários. Tento tirá-los de casa uma vez por dia, para os passeios a pé com o nosso cão, Mandela, na mata ao pé de nossa casa, e tentamos que andem de bicicleta também.

 

Numa altura particularmente difícil que tipo de ações de solidariedade tem desenvolvido? Tem possibilidade de fazer o que fazia ou passou a fazer outras coisas?

Sou fundadora e Presidente da Associação sem fins lucrativos e ONGD Corações Com Coroa (CCC) e fiz já 20 anos enquanto Embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População ( UNFPA) que ao longo dos anos tem visto o mandato voluntário a ser renovado por força do trabalho que tenho feito. Por isso estou sempre ativa. A pandemia veio não só destapar como agravar as desigualdades sociais e sobretudo de género. As mulheres são as mais prejudicadas em todas as vertentes da sociedade. Representam 70% da força de trabalho social, de saúde e são as cuidadoras informais das pessoas idosas e crianças em situação de dependência por isso a sua situação agravou-se muito mesmo em termos de fome e saúde mental. A CCC tem trabalho muito todas estas áreas. Convido a visitar o nosso site [N.R.: www.coracoescomcoroa.org]. E depois tento estar muito atenta à sociedade e à forma como poderei apoiar quem mais apoia. Promovendo os Direitos Humanos, a solidariedade, a empatia!

 

Depois de uma quarta temporada intensa de “Príncipes do Nada” há já previsões para uma próxima série?

Sim, os Príncipes do Nada são da minha autoria e do realizador Ricardo Freitas e existem há 14 anos por isso são para continuar!

 

Como concilia o papel de apresentadora de entretenimento com o de contadora de histórias de vida no formato “Príncipes do Nada”?

As pessoas são várias coisas ao mesmo tempo e eu sei que o facto de fazer o que mais gosto e de ser uma privilegiada por isso mesmo, devo colocar os meus privilégios ao serviço dos outros. Só faz para mim sentido comunicar se for para poder contribuir para um mundo e um país melhor, contribuir para a melhoria da qualidade de vida de alguém. Essa é a minha missão de vida. Não me interessa construir um monopólio à minha volta, não é essa a minha definição de sucesso.

 

Quando parte para a rodagem de”Príncipes do Nada” o que diz aos seus filhos?

Deixo sempre escrito num caderno que cada um deles tem desde a primeira viagem que fiz, para onde vou, porque vou, o que vou fazer e  porque é tão urgente ir. Sei que ficarão sempre muito orgulhosos e que irão crescer enquanto cidadãos mais conscientes do mundo que os rodeia e vão querer ser participativos, ativos e preocupados com as desigualdades sociais. Menos umbiguistas. Menos consumistas. Menos centrados no seu umbigo. Menos Eu e mais Nós!

 

Como é que eles vêm estas ações da mãe? Já fez voluntariado com eles?

Não separam a minha missão de vida da minha própria condição enquanto mulher, mãe, profissional. Já fiz, sim, em Portugal.

 

Qual foi o país que visitou que mais a marcou?

Muitos mesmo. Já fiz missões em países em desenvolvimento e também em países em situação de emergência humanitária. É  muito comovente perceber que quem dá mais é quem menos tem. Há uns tempos escrevi um livro O que vejo e não esqueço onde relato muitas das coisas que vivi e muito para além do que mostro nas minhas reportagens dos Príncipes do Nada. E no ano passado também escrevi o livro Adolescer é fácil #sóquenao para adolescentes que francamente, e faz ainda mais sentido nesta altura de pandemia, recomendo e onde também partilho muitas destas diferentes vivências, violações dos direitos humanos e desigualdades que os jovens devem conhecer para poderem também relativizar e envolverem-se na construção de um mundo mais solidário, justo, igualitário, sustentável. Realidades que não devem passar ao lado e que, muitas delas, não estão longe de nós: racismo, bullying, discriminação, casamentos infantis e forçados, mutilação genital feminina, violência infantil e de género, pobreza extrema…

 

Onde gostava de ir?

Tudo farei para ir onde gostaria de ir. Depois conto.

 

Já viu muita coisa. Vítimas de mutilação genital feminina, catástrofes… Como é que consegue desligar disso tudo?

Nunca mais desligo. Vivo permanentemente a pensar como é que não existem mais soluções para estas pessoas. Por exemplo, a última série dos Príncipes do Nada ( podem rever na RTP PLAY) sobre refugiados e migrantes, é inevitável não pensar que poderíamos ser nós! Nós também imigrámos à procura de melhores condições e não foi sequer devido à guerra como estas pessoas que eu entrevistei na Grécia, no Uganda, no Líbano, no Bangladesh. E é terrível pensar que as condições desumanas e inqualificáveis em que estão a viver nos campos de refugiados, ficaram ainda pior com a pandemia! Não desligo mas isso não faz com que me vá a baixo. A minha força vem da minha indignação. A nossa felicidade depende também das nossas opções de vida, eu escolhi este caminho, um caminho onde vejo um mundo sem fronteiras e onde quero deixar uma pegada de humanidade. A minha felicidade vem desse meu trajeto também.

 

Foi a principal referência da televisão dos anos 90. Sentiu-se alguma vez deslumbrada? Como se finta o deslumbramento e se constrói uma carreira respeitada?

Nunca. Sempre soube que queria ser reconhecida pelos meus valores e não por construir um império. Nunca vendi os meus princípios. Confesso que é muito bom sentir o respeito e a credibilidade por parte das pessoas.

 

Foi considerada a namoradinha de Portugal. Acha que ainda é vista dessa forma?

Não sou saudosista. Estou muito feliz com a minha carreira e com o imenso carinho que recebo diariamente!

 

Já referiu em entrevistas que os seus pais foram muito exigentes consigo no que à educação diz respeito. Também é assim com os seus filhos?

Claro.

 

Que momentos recorda com carinho destes 30 anos de carreira?

Muitíssimos. Sobretudo não sinto que esses anos tenham passado!

 

Do que se arrepende?

De Nada.

 

Texto: Telma Santos (telma.santos@impala.pt); Fotos: Arquivo Impala

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