Sonhou formar-se em medicina ou até mesmo em aeronáutica, áreas pelas quais foi apaixonado na adolescência, além da música onde sempre esteve envolvido em bandas. No entanto, rapidamente percebeu que seria mais feliz aprimorando o palato de quem o rodeava. “A cozinha deu-me um alento diferente e ensinou-me a dar prazer às pessoas de forma rápida e instantânea. O prazer que a cozinha dá é tão rápido e satisfatório, é quase como um vício e droga saudável que tem que ser tomada em moderação porque se não torna-se nefasta como qualquer droga, mas é algo que nos dá um prazer imediato e nunca vou deixar de cozinhar”, contou à TV 7 Dias, Pedro Pena Bastos, que voltou à antena da RTP 1, na últimas quatro semanas para ajudar os mais novos talentosos aspirantes a cozinheiros, em Masterchef Júnior que chegou ao fim no último fim de semana.
Em MasterChef Júnior diz ter vivido momentos inesquecíveis. Uma experiência que o fez viajar ao passado para recordar as aprendizagens adquiridas na infância e até como se iniciou na cozinha. “Comecei a cozinhar com seis anos. De certeza que já tinha ajudado a minha avó e mãe antes, nem que seja com uns rissóis ou a cortar alguns vegetais, nunca tive uma faca como o meu filho, que aos três anos tem um conjunto de facas para ele, obviamente adaptadas à idade, mas antigamente tinha mesmo que sair da nossa vontade estar na cozinha, porque podia ser uma inspiração”, disse prosseguindo: “Na altura não fazia ideia do que significava cozinhar, não fazia ideia de nada, não tinha um filme Ratatouille como o meu filho tem para o inspirar, e, portanto era tudo muito limitado às minhas raízes, a minha avó cozinhava todos os dias para a família toda, sempre viveu connosco até eu sair de casa e a minha maior inspiração sempre foi ela, a minha mãe sem dúvida também, mas a cozinha sempre foi o centro da casa. Era onde estava sempre alguém durante oito horas por dia, quer fosse a minha avó, a empregada, a minha mãe, havia sempre como acontece na maior parte das nossas casas hoje em dia, e a minha grande inspiração foi a minha avo e mãe. As primeiras coisas que me recordo de fazer foram os rissóis e esse tipo de massas que se fazia em cima da bancada, desmanchar bacalhau e ficar tudo cheio de sal, toda essa parte de ter contacto com o produto sempre esteve muito presente, e depois as primeiras coisas que me lembro de fazer foram bolos, e uma maionese numas férias com os meus pais. Era preciso fazer uma sanduíche com pasta de atum, eu queria fazer o meu almoço e experimentei. Foi assim muito instintivo e isso marcou-me sempre”.
Afirma que nunca irá deixar de cozinhar, até porque está-lhe “na pele”. Considerado, atualmente, como um dos mais conceituados Chefs do País, Pedro Pena Bastos abriu em 2020 o restaurante CURA, no Hotel Ritz, em Lisboa. Um ano depois, aos 30 anos, conquistou a sua primeira Estrela Michelin para esta casa localizada num dos mais luxuosos hotéis da capital. No entanto, não esquece como foram difíceis os seus primeiros dias como cozinheiro.
“O primeiro contacto com a cozinha foi horrível, jurei que nunca mais que iria estar em contacto com a cozinha, e esses dias mudaram-me para sempre, para o bem e mal, não fazemos de nós um cozinheiro se não cozinharmos sob pressão e também sob o relaxe de estarmos em casa, mas realmente é preciso muito treino, dedicação, é preciso saber que a parte de sermos autodidatas ajuda, mas não é solução, porque quando há uma parte de estudo e de aperfeiçoamento de técnicas e envolvimento com os projetos nada surge do auto didatismo, mas sim com paixão, dedicação, um bocadinho de obsessão saudável, organização e prazer”, relatou, reforçando o que não o levou a desistir deste sonho: “Muito apoio familiar, apoio dos amigos, acreditar em mim, às vezes temos só que acreditar e temos que arriscar, e eu tenho muito medo e continuo a ter muito medo em todos os projetos em que estou envolvido, acho que o medo faz parte, é saudável, torna-nos mais humildes. Continuo a ter medo e a atirar-me de cabeça, e quando conseguimos fazer isso tornamos-nos mais confiantes e fortes”.
“Aprendemos muito com as crianças”
Numa edição onde os protagonistas são os mais novos, Pedro Pena Bastos confessa que foi “inspirador” ver o leque de concorrentes de Masterchef Júnior brilhar na cozinha. “É um prazer realmente ver que conseguimos sensibilizá-los para o ato de cozinhar, para a parte da sustentabilidade, ainda que com muitas brincadeiras e com espaço para algumas asneiras no meio, asneiras alimentares, podemos fazer algumas”, revelou, frisando ter sido “arrebatado” com as personalidades de casa um. “Há varias histórias interessantes, todos eles tem uma componente muito forte, mas todos gostam de cozinhar e de aplicar as suas inspirações na cozinha e é engraçado ver como tudo funciona, uns inspirados mais pelos avós, outros de um lado de desenvolvimento próprio quer seja da música, das artes, desporto, da capacidade emocional de lidar com situações stressastes, ou seja, cada um deles empenha no lado gastronómico o que sente noutras áreas e isso é muito engraçado. Aprendemos muito com as crianças e a ter os pés na terra, a perceber o que é fundamental, elas ajudam-nos a ter os pés no chão e a valorizar o que é mais valioso”.
A grande vencedora!
Natural de Proença-a-Nova, Carolina Correia, de 12 anos, é a grande vencedora da última edição de Masterchef Júnior, que chegou ao fim no passado dia 22 de junho. A jovem aspirante a cozinheira conquistou o palato dos jurados, Teresa Colaço, Óscar Geadas e Pedro Pena Bastos e levou a melhor sob o seu concorrente Simão, com quem disputou a grande final. Apaixonada pela gastronomia, inspirada pela avó, pai e tia, concorreu ao programa para mostrar o que mais ama fazer: cozinhar.
Texto: Telma Santos (telma.santos@impala.pt) Fotos: Arquivo Impala e Tiago Caramujo /Shine Iberia Portugal