“Precisava mais disto do que achava”: Na estreia a solo, Marisa Liz recorda Rex

Ainda de luto pela morte de Rex, Marisa Liz fala sobre o seu novo percurso a solo, dos Amor Electro e do futuro da banda, e ainda de Girassóis de Tempestades.

16 Abr 2023 | 10:03
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“Um caminho novo”. É desta forma que, Marisa Liz, define a sua estreia a solo com o álbum Girassóis e Tempestades, lançado no passado dia 31 de março, que marca uma nova fase da sua carreira. “Nunca pensei que este caminho fosse existir até que, enquanto banda [Amor Eletro] termos tomado a decisão de fazer uma pausa. Depois surgiu a necessidade de fazer isto, e agora percebo que precisava mais disto do que eu achava”, contou à TV 7 Dias, Marisa Liz.

Numa conversa esclarecedora, sobre sentimentos, a artista revelou que começou a pensar neste projeto “há cerca de dois anos”. A necessidade de uma mudança surge ainda durante uma fase de luto. “Depois de Amor Electro pausar [em 2021], tive um tempo como todos nós que ficámos de luto durante muito tempo, e ainda continuamos por causa do Rex. [Rui Rechena, baixista dos Amor Electro, que morreu aos 53 anos, em agosto de 2019]. Mas, passado algum tempo comecei a compor e quando dei por mim já tinha umas quantas canções. Depois percebi que precisava de aprender mais, que não estava a chegar aquilo que eu já sabia. Então, juntei-me a compositores e autores que admiro, para partilhar com eles a composição, e para lhes pedir canções específicas, de coisas que eu queria falar como é o caso da Outra, que foi feita pelo Edmundo, e do Silêncio, que o Chico César escreveu sobre a minha viagem ao Butão. Assim foi-se reunindo canções, as minhas vontades, e fui percebendo qual era a direção que eu queria tomar”.

“Um momento extremamente emocional”

 

Nesta nova jornada, Marisa Liz juntou ainda a Girassóis e Tempestades, uma colaboração muito especial. Trata-se da filha, Beatriz, de 15 anos, com quem divide a voz no tema Contigo. “Foi um momento extremamente emocional. Tivemos a oportunidade de gravar o disco num estúdio extraordinário no Porto, e ela foi ter comigo de comboio, no meu último dia de gravações, onde cantámos esta música, que é das mais despidas do disco. É uma música que tem uma guitarra e duas vozes, é muito intimista, e não era preciso mais nada, porque aquilo que está na letra, juntamente com a melodia, diz tudo o que é necessário. Foi muito bonito porque gravámos ao mesmo tempo. Ela estava numa cabine, eu estava noutra, e a única coisa que nos separavam eram vidros. Cantámos esta música a olhar uma para a outra, e a sentir cada palavra que estávamos a dizer. Quando a compus com o Diogo [Diogo Branco, namorado da cantora] e com a Joana [Joana Espadinha] mandei a canção à Beatriz e perguntei-lhe se gostava, e se para ela tudo aquilo era verdade. Ela disse-me: ‘Gosto muito desta canção e tudo o que está aqui é verdade, vamos cantar juntas’”, contou frisando que tratou-se da colaboração “mais bonita” que já teve.

No entanto, questionada sobre se será este o caminho que a sua filha irá querer seguir, a cantora responde: “Ela tem o bichinho por sentir, por cantar. A música sempre esteve envolvida na vida dela, não faço ideia se é o que ela quer seguir ou não, ela ainda está a descobrir, em primeiro lugar, o que ela é e depois o que vai fazer. E, eu tento que os meus filhos façam essa descoberta, porque acho fixe se quiserem experimentar uma atividade e disserem que afinal não é isto que querem, eu digo-lhes: ‘Então bora experimentar outra, bora descobrir o que é que te faz feliz, o que te motiva, move e te fará tornar melhor, e quando falo em melhor refiro-me em ser melhor pessoa tanto para eles como para os outros”.

“Uma interpretação que veio do fundo da minha alma”

 

Sempre se reviu como cantora de banda. O seu percurso é marcado pela passagem pelos Popline, Onda Choc, Dona Maria, bandas de bares e, por último, os Amor Electro. Agora a solo exprime neste leque de doze canções as suas “vontades” e “sentimentos”. Mas, também dá a conhecer um inédito de António Variações, que esteve guardado “durante 40 anos”. “Foi, mais uma vez, uma interpretação que veio do fundo da minha alma por todas as coisas que acredito, quero representar e dizer ao mundo. Tive a oportunidade de ter uma canção que estava guardada que tem uma mensagem que, infelizmente, continua a fazer sentido e é uma responsabilidade muito grande da minha parte poder dignificar e representar aquele que para mim foi um dos maiores artistas que já tivemos, não só em Portugal como no Mundo”.

Este verão, a artista irá dedicar-se inteiramente a apresentar este “novo capítulo”. No entanto, não esconde que muitos dos seus ouvintes vão esperar “ouvir Amor Electro”. “Mas, isto não é Amor Electro. Confio que as pessoas vão estar de coração aberto para viver uma coisa nova. Para mim é um caminho novo e espero que venham comigo nesta nova viagem”. Uma viagem que fez questão de partilhar com os seus antigos companheiros de banda. “Quando comecei compor estava na estrada com Amor Electro e eu ia-lhes mostrando as composições a caminho dos concertos. Essa partilha sempre existiu entre nós. Amor Electro estava a acorrer bem, mas tomámos uma decisão de que primeiro queríamos viver este luto, curar os nossos corações, individualmente, e cada um de nós continua ligado à musica à sua forma”.

E no que ao futuro dos Amor Electro diz respeito, a cantora revela: “Amor Electro fez uma pausa, não sabemos quando vamos voltar, se daqui a dois anos, dez ou vinte, mas acredito que isso irá acontecer, quando sentirmos que os nossos corações estão curados”.

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Texto: Telma Santos (telma.santos@impala.pt); Fotos: Diogo Branco e Reprodução Instagram
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