Uma tarde diferente. Rita Pereira levou amor, atenção, sorrisos e presentes às crianças do Instituto de Apoio à Criança (IAC). Uma organização Não Governamental criada em 1983 por Manuela Eanes (mulher do antigo Presidente da República, Ramalho Eanes).
«Isto para mim é que é Natal. Em minha casa, o Natal é a união da família, aqui neste caso é a união de todas estas crianças do IAC e dar este amor, partilhar sorrisos e brincadeiras. Isto enche-me muito e faz todo o sentido», começa por dizer a atriz. Rita chegou ao IAC com as duas mãos cheias de presentes que conseguiu com a ajuda da Revista Maria, da Euroimpalabooks, ImpalaStore e MeiEuropa, perto das 16.00, de quarta-feira.
De sorriso nos lábios explicou porque escolheu o IAC para dar um Natal mais feliz a algumas crianças. Leia aqui a entrevista exclusiva a Dulce Rocha, Presidente desta organização.
Entrevista a Dulce Rocha – Presidente do IAC
«O Instituto de Apoio à Criança nasceu em 1983, já tem 36 anos e é uma Organização Não Governamental. Foi criada pela drª Manuela Eanes. Tem sabido renovar as suas ideologias inovadoras, criou serviços pioneiros, como por exemplo o SOS Criança, que é um serviço telefónico anónimo, em 1988.
Na altura havia muito poucos e agora praticamente toda a Europa tem, os próprios estados já recomendam serviços desse tipo. Logo no ano seguinte foi criado o projeto das Crianças de Rua, que na altura também foi muito inovador.
O IAC soube aproximar-se dessas crianças, essa foi a grande inovação do Projeto Rua. Na altura eu estava no Tribunal de Menores de Lisboa, e apareciam-me lá crianças que viviam na rua, que participavam factos ilícitos, e sabia que iam lá voltar outra vez, mas quando vinham com o animador do IAC, eu sabia que já não iam aparecer porque o Instituto ia fazer um trabalho personalizado.
O IAC foi como o 25 de Abril para as crianças
O Instituto foi como um 25 de abril para as crianças. Por um lado podiam queixar-se, por outro lado sabiam que iam ter um acompanhamento.
Temos um serviço jurídico de acompanhamento importante, porque há muitos assuntos que precisam de um serviço desse nível, de um encaminhamento às vezes que é importante a nível jurídico. Temos um serviço que apoia as crianças nos hospitais, e também apoio psicológico que está muito ligado ao SOS Criança, muito importante nos casos em crianças de abuso sexual.
Temos recebido pedidos da própria polícia judiciária, do departamento de investigarão e ação penal porque a esse nível há um défice muito grande de especializados em que se consiga recuperar a criança. A recuperação psicológica é um dos novos diretos da convenção dos direitos da criança, que já fez 30 anos e temos apostado muito na participação das crianças e dos jovens, criar parcerias em todo o país.»
Entrevista a Matilde Sirgado – Coordenadora Projeto Rua
«Foi realmente um momento muito feliz, que agradecemos desde já a iniciativa. Isto vale a pena e está perfeitamente alinhado com a filosofia do Instituto de Apoio à Criança,nomeadamente com este Projeto Rua que vai de encontro às crianças nos seus bairros, da rua onde eles se encontram.
Levamos afeto, aliamos a técnica à afetividade, levamos a possibilidade de contactar com o mundo real, experiênciar em contacto com visitas socio educativas e atividades lúdicas. Fazemos no percurso escolar, que muitas vezes é adverso, há uma rejeição da escola a estes meninos e o IAC faz aqui um papel de mediador institucional de ligação com as famílias destas crianças para que tenham o direito a sonhar com uma vida diferente, com sonhos.
Vocês vieram trazer brilho às nossas crianças, esperança e é isto que o IAC verdadeiramente agradece.
Que crianças são estas?
Temos aqui a nossa intervenção representada nos três níveis. Temos o mais difícil , o mais duro, que são aquelas crianças consideradas invisíveis, que são vítimas a vários níveis do seu contexto familiar e por isso fogem. Estamos a falar de adolescentes que fogem para a rua e encontram uma realidade ainda mais pesada. Normalmente são exploradas por gente sem escrúpulos, por redes de tráfico quer para prática de violência sexual quer para prostituição, outros para pequenos furtos e preparam-nos para o mundo da marginalidade.
O IAC fazendo giros diurnos e e noturnos com a unidade móvel lúdico pedagógica consegue ir ao encontro deles no contexto de risco onde estão e consegue resgatá-los desta vida e com eles conseguimos criar e delinear projetos de vida mais saudáveis. Temos alguns que fogem das instituições, o nosso objetivo é trabalhar as competências deles, motivações…
Neste trabalho de prevenção destaco também o nosso trabalho com as famílias, não podemos só trabalhar a criança, tem de haver um «match» muito positivo. E estas famílias são famílias que também sofrem, que foram abandonadas em crianças.
Costumamos dizer que a sociedade está perdida, que é uma geração rasca, nomeadamente estes quase pré marginais e nós provamos o contrário, criamos uma rede a nível nacional (Construir Juntos), para quebrar o isolamento social nesta área e nos jovens e nas crianças que são acompanhadas por estas instituições de norte a sul do país.»
Texto: Ana Lúcia Sousa; Fotos: Zito Colaço; Agradecimentos: Euroimpalabooks, ImpalaMúltimédia e MeiEuropa