Ruy de Carvalho está de parabéns! O consagrado ator completa nesta sexta-feira, 1 de março, 97 anos. Nasceu a 1 de março de 1927 – era dia de Carnaval – e veio ao mundo em casa, no seio de uma família de atores. Numa entrevista à TV 7 Dias, no ano passado, Ruy de Carvalho falou sobre o sentido da vida.
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Bem disposto e sempre com muita energia, o ator revela qual o segredo para se manter tão ativo. “Não pensar que sou velho e pensar que tenho 18 anos por dentro. Recomendo às pessoas que tenham sempre um menino com 18 anos cá dentro. E, que vivam sobretudo a vida com boa disposição e que sorriam. O sorriso é a abertura mais democrática que há. A pessoa sorrir para outra é a prova de que está à espera que a outra o corresponda”, defende. Apesar de todo o otimismo, há uma ou outra mazela. “Eu tenho um coluna vertebral de 40 anos. Estou um bocadinho coxo porque tive uma hérnia discal, o resultado de não ter sido logo operado. Como tinha trabalho, não fiz o tratamento e fiquei um bocadinho coxo na perna esquerda. Já estou melhor, pronto para trabalhar, bem disposto.”
Trabalhar é uma das suas grandes paixões e não pensa deixar de o fazer tão depressa. “Ando de um lado para o outro sempre. Enquanto puder trabalho, enquanto me sentir bem e acordar todos os dias, vou continuar. Trabalho porque quero e porque a minha reforma precisa. Eu ganho pouco. Se eu vivesse só com a reforma não vivia bem, vivia mal. A minha reforma não me paga aquilo que eu fiz na minha vida trabalho”, garante. Ao longo dos mais de 96 anos, muitas são as memórias que coleciona, mas quando lhe perguntamos se há algum momento que destaque, Ruy de Carvalho não tem dúvidas. “Os que estou com a minha família e em que estou com o público, que é outra família que tenho. Fazem parte da minha vida. Vivemos todos em conjunto, a família e o público. Somos todos irmãos. Mas os homens estão um bocadinho esquecidos que somos todos irmãos e tratam-se mal uns aos outros. Neste momento está a acontecer muita maldade no mundo. Espero que acabe depressa tanta desgraça que está a acontecer por culpa dos homens e das mulheres”, frisa, referindo-se às guerras na Ucrânia e em Gaza.
“Nós queremos é viver”
Se pudesse voltar atrás no tempo, o ator, recuava até aos dois anos de idade, quando estava em Luanda. “Tenho muitas saudades. Já lá voltei, depois da independência, e fui muito bem tratado. Tenho muitas recordações de lá. Adoro África. Marcou-me muito. O meu pai era oficial do exército e eu circulava pelo mundo, até ele parar”, recorda. Nos seus tempos livres, como diz, trabalha e quando tem tempo lê. E há algo que não pensa, nem quer pensar. “Eu não penso na morte. Para que é que eu vou pensar na morte? Não vale a pena, é certa. Queremos morrer antes? Não, nós queremos é viver. Quem começa a pensar na morte antes está a acabar com a vida…”, acredita, dizendo de seguida que no dia em que partir “gostava de ser recordado com amizade”. “Como estou a ser recordado aqui, na Chamusca, com amizade, ternura, carinho. Tratam-me muito bem. Levo muitos beijinhos sempre, não só aqui. De vez em quando falam-me assim para o nariz, enchem-me de cuspo, partem-me os óculos… acontecem-me coisas muito engraçadas. Mas são tudo coisas que têm a ver com amor, com estima, com gratidão, são coisas que me honram muito”, sublinha.
Quando lhe perguntamos o que lhe falta fazer, Ruy de Carvalho, responde com a humildade que o caracteriza. “Tudo o que quiserem que eu faça. Neste momento já não há nada que eu gostasse de fazer. Se calhar ir à Austrália, mas sou capaz de já não ir, é muito longe. Gostava porque é um país giro e que vale a pena ir. É um país feito pelos outros, por muitos que foram para lá. Sozinho não posso ir de maneira nenhuma”, afiança, dizendo de seguida que teve e tem uma vida cheia. “É uma vida maravilhosa, ótima. Sou uma pessoa a quem estimam, a quem tratam bem. Sou um homem feliz nesse aspeto.”
Ruy de Carvalho deixa ainda um desabafo em forma de apelo. “O mundo está horrível, não gostava de dizer esta palavra, mas é verdade. Cada vez mais os homens se entendem pior e eu gostava que se entendessem ou pelo menos ouvissem o Maomé, o Buda, Cristo, todos os que pedem para os homens se darem bem uns com os outros, não para se matarem. E como disse o nosso secretário geral da ONU, estão a morrer muitas crianças, muitos homens do futuro e muitas mulheres do futuro”, diz, comentando ainda a crise política que se vive no país e que levou à demissão de António Costa. “Andam à procura da liberdade mas ainda não a encontraram, e do respeito e da democracia. Têm de encontrar. Por enquanto andamos na libertinagem, na demagogia, no roubo, a roubarem-se uns aos outros. A liberdade, o amor, a democracia e o respeito são as coisas principais que temos de fazer. E não estão a ser cumpridas. Espero que um dia… É urgente que aconteça o entendimento entre os Homens”, frisa, para depois terminar: “Não adormeçam. As pessoas estão a confundir libertinagem com democracia que é uma coisa que me faz muita confusão. A democracia é uma coisa muito bonita. O melhor conselho que posso deixar é fazerem as pazes uns com os outros, o mais rapidamente possível.”
Texto: Ana Lúcia Sousa (ana.lucia.sousa@worldimpalanet.com) e Joana Dantas Rebelo
Fotos: Impala