Sara Norte LAMENTA: «vivi a doença da minha mãe à distância»

Sara Norte recordou uma das piores fases da sua vida. A atriz estava detida quando a mãe morreu e, apesar de considerar que precisava de um «travão», revela alguns arrependimentos.

17 Jan 2019 | 12:40
-A +A

Sara Norte foi uma das convidadas desta quarta-feira, 16 de janeiro, do programa A Tarde É Sua, na TVI. Ao longo da conversa foi feita uma viagem pela vida da atriz, desde o momento em que foi detida e se soube da doença da mãe, Carla Lupi.

«Lembro-me que a minha mãe me deu a notícia num jantar. Convidou-me a mim e ao meu irmão Diogo para jantarmos lá em casa e disse-nos que teria qualquer coisa no pulmão. Ainda não teria a certeza», começa por contar.

Uns meses depois, Sara acabaria por ser detida tendo ficado longe da família nesta altura mais complicada.

«Passados uns meses eu fui presa, portanto eu não acompanhei a quimioterapia. Não pude estar presente naquilo que me competia enquanto filha. Mas vivi a doença da minha mãe à distância e via-a em cada visita que ela se ia debilitando».

Carla Lupi fazia um esforço enorme para visitar a filha, que estava detida no centro penitenciário Buetafogo, em Algeciras, em Espanha. «A minha mãe para me ir visitar levava duas transfusões de sangue porque eram muitos quilómetros e ela não conseguia aguentar», afirma.

Questionada por Fátima Lopes sobre como foi viver toda a doença da mãe à distância, Sara conta que foi «muito complicado» uma vez que se sentiu impotente por não só não conseguir ajudar a mãe, como também não estar ao lado dos irmãos e do avô nesta altura complicada.

Leia mais: Sara Norte volta a REVIVER A DOR DO CANCRO

 

«É muito complicado [acompanhar a doença à distância] porque sentimos uma grande impotência. Ouvirmos a nossa mãe ao telefone a dizer uma vez por semana, porque eu não podia ligar mais, que estava cheia de vómitos, ou não tinha força para isto, se bem que a minha mãe tinha sempre uma palavra de coragem».

Sara Norte tem ainda muito presente na sua cabeça uma das últimas frases que a mãe lhe disse antes de falecer.

«Uma semana antes de falecer a minha mãe disse-me: ‘Eu vou-te visitar, vou ser capaz de me levantar desta cama de hospital e vou-te visitar’. A minha mãe era uma mulher muito forte, mais forte do que eu, sem dúvida, e é muito complicado vermos as pessoas assim enfraquecerem e a ficarem sem força, sem vontade de viver», revela.

O momento mais complicado atrás das grades

Sara Norte revela que saber da morte da mãe e estar afastada dos irmãos e do avô durante toda a doença da mãe e a consequente morte, foi o momento mais difícil desde que foi detida e permaneceu em Espanha.

«A morte dela acho que foi o que mais me custou. A minha mãe mesmo na doença sempre foi muito forte. Agora, não saber como é que os meus irmãos e o meu avô estavam a lidar com isso e a impotência. Nós quando estamos fechados não temos mais nada para fazer e então estamos sempre a pensar e uma pequena coisa como receber uma carta, é uma festa. Ali vive-se tudo no limite. Quando a minha mãe morreu foi muito difícil», confessa a filha de Vítor Norte.

Sara estava a fazer exercício quando soube da morte de Carla Lupi. Segundo a própria, foi uma psicóloga e uma assistente social que lhe contaram o que tinha acontecido e a própria não conseguia acreditar.

«Pensei que era mentira porque tentei ligar para o telemóvel da minha mãe e ele ainda tocava. Depois disseram-me que era verdade», revela.

 

As homenagens consecutivas à mãe

Sara Norte está mais dedicada que nunca ao trabalho e prova disso são as consequentes homenagens que a atriz faz à mãe. A mais recente foi no filme Fátima, que terá estreia marcada para breve, no qual Sara interpretou uma personagem com o nome de Carla, nome esse que foi escolhido pela própria como forma de homenagear a mãe.

No entanto, este não é o único momento no filme em que Sara recorda a mãe. Numa cena, passada durante a procissão das velas, em Fátima, Sara pediu ao realizador que a deixasse colocar uma vela, uma vez que é algo que faz sempre que passa por uma igreja.

«A minha personagem foi uma homenagem a ela, portanto, o filme acaba com a procissão das velas e eu a meio do filme disse ao João: ‘Não, João, eu preciso mesmo de ir por a velinha para a minha mãe que eu ponho sempre que passo numa igreja’ e ele autorizou, claro, e lá fui eu para a procissão das velas, foi emocionante», desvenda.

Sara Norte afirma ainda que todas as suas vitórias são para Carla Lupi, uma vez que sabe que a mãe vai ficar orgulhosa do trabalho que tem vindo a desenvolver.

«As minhas vitórias são todas para a minha mãe porque sei que ela vai estar orgulhosa disso e era a pessoa que mais se orgulhava, o meu pai também se orgulha, mas a minha mãe era mais de demonstrar».

Espreite: DOENTE, Sara Norte RECORDA mãe: «eras a melhor enfermeira do mundo»

 

A «sorte» de estar presa e o apoio das reclusas

A filha de Carla Lupi e Vítor Norte considera que os 16 meses em que esteve detida em Espanha foram uma questão de «sorte», uma vez que considerava que a sua vida precisava de «um travão». «Se tive de passar por isso [estar presa] é porque eu precisava de um travão na minha vida. E há males que vêm por bem. Tenho pena que tenha acontecido naquela altura se calhar porque não pude estar presente para a minha mãe. Só tenho pena por ter acontecido naquela fase da doença da minha mãe», explica.

Já no que diz respeito ao apoio que recebeu enquanto esteve presa e após a morte da mãe, Sara conta que teve junto a si cerca de 100 ou 120 reclusas das mais variadas etnias.

«Tive quase 100 ou 120 mulheres do meu lado. Eram de várias etnias. Estava com ciganas, árabes, espanholas, portanto toda a gente se juntou a mim. Todas foram realmente incríveis», assume.

Ainda assim, após ter saído da prisão, Sara viveu momentos muito complicados porque voltou a locais onde já tinha sido feliz ao lado da mãe, e isso foi algo que lhe custou bastante.

«Mas quando saí voltei a sentir a morte da minha mãe, parecia que não tinha assimilado. O voltar depois aos sítios onde tinha estado com ela, o estar com os meus irmãos, com o meu avô, acabei por reviver tudo. Acho que fiz dois lutos e acho que ainda não ultrapassei, nem sei se algumas vez se ultrapassa. Pode-se aprender a viver melhor com isso mas eu acho que vou sempre sentir falta da minha mãe, sempre», termina.

Texto: Redação WIN – Conteúdos Digitais; Fotos: Impala e Reprodução Instagram

 

PUB