TV 7 Dias – Está afastada do pequeno ecrã desde 2016, altura em que fez parte do elenco de Massa Fresca, na TVI, e desde então dedicou-se essencialmente ao teatro. O que a levou agora a aceitar o convite da SIC?
Sofia Alves – De facto, a minha última participação na TVI foi em Massa Fresca, onde apenas fiz o arranque da novela. O que considero o meu último verdadeiro projeto – e que no meu entender foi um extraordinário projeto, apesar de um pouco mal defendido pela estação, com muitas trocas de horários – foi a novela Mulheres, da Eduarda Laia, candidata a um Emmy.
O teatro é a minha casa, eu adoro fazer teatro! Claro que voltarei aos palcos no próximo ano, até já estamos a estudar um projeto novo. Um dos meus últimos espetáculos de teatro com o meu grande amigo e colega João de Carvalho anda na estrada em digressão há cerca de três anos. Tive em paralelo uma digressão muito grande em Espanha, com uma produção espanhola, que foi fundamental para a internacionalização da minha carreira; têm sido tempos de grande realização.
Quanto ao que me levou a aceitar este convite da SIC, fundamentalmente deveu-se a várias situações: primeiro, o projeto em si, que é muito bom, como costumo dizer, o grande projeto da minha carreira é sempre o que está a chegar, depois porque senti da parte do público, nestes quatro anos de afastamento, uma grande saudade no meu regresso, e depois pelo grande diretor Daniel Oliveira, que meu deu toda a atenção e confiança para que eu dissesse que sim.
O facto de o teatro estar a viver tempos difíceis devido à pandemia de COVID-19 pesou para que aceitasse a proposta da SIC?
A COVID-19 é uma tragédia para todos os artistas, o Governo não está a ter uma política correta para os artistas, isso fez- -me assinar um manifesto de protesto e irei para a rua gritar em defesa da minha classe se as medidas anunciadas não chegarem. Mas esse não foi o motivo que me levou a dizer sim à SIC.
«Gosto muito e respeito muito quem ama os atores e os respeita também»
Ao longo destes anos recusou vários trabalhos da TVI e da SIC para regressar. Os projetos não eram aliciantes?
Sim, é verdade que disse várias vezes que não ao meu regresso à televisão, mas confesso que nada teve a ver com guiões ou papéis, foram questões de compromissos profissionais agendados no teatro em Portugal e Espanha. Admito, no entanto, que precisava para o meu regresso de algo mais romântico e apaixonante… O Daniel apresentou-me algo assim e eu não tinha como dizer fica para uma próxima. Neste primeiro dia em que entrei na SIC oficialmente fui muito acarinhada e o Daniel estava ali na primeira linha… Eu gosto muito e respeito muito quem ama os atores e os respeita também.
Estava com saudades da televisão?
Hoje confesso que estou muito emocionada a dar esta entrevista, tinha saudades, sim, depois de ter entrado nos estúdios da SIC e ter respirado aquele ar todo, senti-me em casa como há 20 anos, quando fui contratada para protagonizar a série Jornalistas, e disse como é possível terem passado 20 anos… Depois, o abração da minha Diana Chaves, o ser pegada ao colo pelo meu querido João Baião… Enfim, vinte anos passaram tão depressa.
E acha que os telespectadores estão com saudades suas?
Tenho recebido nestes últimos quatro anos muitas mensagens para regressar e muitas delas emocionaram-me profundamente com os seus pedidos. Nas digressões pelo País isso aconteceu constantemente, esperavam por mim no final dos espetáculos a pedir para voltar às novelas. Sinto da parte do público um grande carinho e reconhecimento pelo meu percurso profissional.
É reconhecida pelo seu talento e enorme carreira. Está naquela fase em que pode “dar-se ao luxo” de só fazer o que quer a nível profissional?
Felizmente, eu e o meu marido temos um projeto comum e não dependemos de ninguém, apenas do nosso trabalho e dos projetos que desenvolvemos. As nossas ambições são viver com o que temos e, como mulher cristã, não preciso de muito para viver e ser feliz. O amor e a saúde são o que mais valorizo na minha vida.
Quando é que começaram as negociações com a SIC e como é que decorreu o processo?
Como acontece no amor, existe um namoro e depois um casamento, quando é bom para ambas as partes, e foi o que aconteceu.
O que é que a SIC lhe prometeu e que a levou a aceitar a proposta?
Prometemos cumprir com lealdade o nosso acordo assumido.
Assinou contrato por quanto tempo?
Para mim nunca foram importantes os contratos; os resultados dos projetos ditarão o futuro para ambas as partes.
O que pode revelar sobre a novela da SIC e sobre a sua personagem?
Brevemente, poderei falar sobre a minha personagem, agora apenas quero falar do meu regresso à SIC, 20 anos depois.
É um papel feito à sua medida?
Sim, é feito à medida, se querem que eu utilize essa expressão, tem tudo para agradar e está a ser escrito para mim.
Quando começam as gravações?
Em novembro, pelo menos é o que está previsto, mas nada sabemos como vão ser, infelizmente, os próximos tempos com a COVID-19.
«Imagino que a Cristina irá ser assessorada [sobre esta ser diretora de Ficção e Entretenimento da TVI]»
É uma figura muito ligada à ficção da TVI. Acha que na TVI vão ver a sua ida para a SIC como uma traição?
Não creio, porque não seria justo. Se recusei duas novelas nos últimos anos, não foi por ter razões de queixa de alguém. Mantenho boas relações e ainda hoje recebi muitos beijos e abraços de pessoas ligadas à TVI. Sou uma atriz e gosto de desafios, de ser livre e ter confiança. De qualquer forma, a minha estreia em televisão foi na RTP, onde trabalhei muitos anos, e depois a convite da SIC fiz os Jornalistas e depois o Moniz convidou-me para a TVI. E nesse tempo a SIC não tinha indústria de novelas nacionais como hoje… Isto já para não dizer que comecei a minha carreira com o Manoel de Oliveira no cinema.
Como viu o regresso de Cristina Ferreira à TVI? Ficou surpreendida?
Eu disse na altura, numa entrevista, que a saída da Cristina era um tiro na vida da TVI, que ia criar grandes danos, e que lhe desejava felicidades. Atenção, não tenho uma relação próxima com a Cristina, cruzei-me apenas meia dúzia de vezes com ela em programas da TVI. Mas nunca soube o que a levou a sair da TVI, nem o que a levou agora a regressar à TVI, não tenho ideia e não quero comentar o que não sei, muito menos agora, que estamos em estações concorrentes.
Incomoda-a, de alguma maneira, o facto de Cristina Ferreira ser diretora de Entretenimento e Ficção, neste caso da TVI? Acha que ela tem capacidade para o cargo, relativamente à área das novelas?
Imagino que a Cristina irá ser assessorada… Não sei o que se passa na TVI há muito tempo. É um assunto que não me diz respeito.
Em 2016, disse em entrevista à TV 7 Dias que, relativamente ao facto das novelas estarem a perder audiências, a razão era que as mesmas estavam afastadas das pessoas, que existiam muitos treinadores de bancada e que um dia iria falar dessas pessoas que caem do céu. Mantém essa opinião e já pode revelar a quem se referia?
A TVI ou, neste caso, a Media Capital é de um grupo económico espanhol, que se chama Prisa, e que tem passado por grande agitação financeira nos últimos anos, e no meio dessa grande agitação do Grupo, o olhar atento que o acionista devia ter tido na empresa não existiu. A saída do Bernardo Bairrão foi muito má para a Media Capital e o valor atual da empresa está à vista de todos. Ela está a venda e vamos ver quem é que a vai querer comprar. Nesse tempo de grande agitação que se vivia já na altura, havia muita gente a mandar na ficção, a dizer que sabiam o que não sabiam, e é tão fácil ser treinador de bancada na Ficção como no futebol… todos opinavam muito na altura, agora já não sei o que se passa na TVI e confesso que não me apetece falar em nomes agora que estou numa outra estação.
Não tem receio de voltar a gravar novelas devido à COVID-19?
Existe um plano de contingência e temos todos de o respeitar e esperar que a sorte esteja sempre com todos. Que mais podemos fazer? Somos latinos, gostamos de afetos.
Disse, no passado, que se sente mais realizada no palco do que na televisão. Esta decisão é um passo atrás na sua carreira?
Não existem passos atrás, mantenho a minha paixão pelo palco. Agora temos televisão e depois havemos de voltar ao teatro, onde me sinto sempre em casa.
Está à espera de encontrar algo diferente na forma de fazer novelas?
Com a COVID-19 as coisas vão ser diferentes, não tenho dúvidas, eu já trabalhei com quase todas as pessoas que vão estar na direção da novela e na produção e tenho o António Parente como uma pessoa amiga da família e, por isso, sinto que vou reviver velhos tempos com velhos amigos.
Texto: Vítor Crisóstomo (vitor.crisostomo@impala.pt); Fotos: Arquivo Impala e Francisco Branquinho/SIC
(entrevista originalmente publicada na edição nº 1747 da TV 7 Dias)