SuperNanny estreou-se em Portugal, pela mão da SIC, a 14 de janeiro de 2018 e só durou uma semana. O programa, baseado no formato internacional homónimo, tinha como objetivo acompanhar famílias com crianças com comportamentos problemáticos, e foi cancelado ao fim de apenas duas emissões. A polémica foi tal que o Ministério Público interpôs uma ação judicial contra a SIC.
Teresa Paula Marques foi a escolhida para dar a cara pelo programa. Dois anos depois, já depois de o Tribunal Constitucional ter validado a decisão do Supremo de impedir que a SIC exibisse as imagens dos menores que participaram no formato, obrigando o canal a retirar de todas as plataformas online os episódios exibidos e impedindo-o de continuar a produzir SuperNanny, a psicóloga clínica voltou à televisão… agora na TVI.
Em conversa com a TV 7 Dias, Teresa Paula Marques analisa alguns dos acontecimentos mais marcantes da semana do Big Brother 2020, de que é comentadora no edição da tarde do Extra. Desde ao incumprimento das regras por parte dos concorrentes às polémicas em redor de Sónia, a psicóloga clínica comenta ainda a postura de Pedro Alves e Jéssica no reality show da TVI.
TV 7 Dias – Nesta edição, temos assistido como nunca concorrentes a confrontarem o Big Brother e, por consequente, a produção do programa. Há desrespeito de regras, há boicotes, há questionamentos a atitudes do Big Brother, há ameaças à produção… Porque se estão a sentir os concorrentes tão empoderados?
Teresa Paula Marques – De certo modo, os concorrentes são uma pequena amostra da nossa sociedade. Uma sociedade que muitas vezes considera que só tem direitos e que se esquece que também tem deveres. Além disso, existem outros dois fatores que, a meu ver, poderão contribuir para este tipo de atitudes. Por um lado, esta edição do BB é completamente distinta das outras, uma vez que tivemos um período em que os concorrentes estiveram isolados no hotel, portanto, a ansiedade já estava em níveis elevados quando por fim foram para a casa. Por outro lado, o facto de saberem que a produção não tem tanta margem de manobra como nas outras edições – não pode substituí-los de imediato devido à situação de pandemia – poderá também contribuir para uma atitude de maior empoderamento.
Vimos Jéssica e Pedro Alves a recusarem-se a eleger um novo líder da casa como «forma de protesto». Sandrina e Teresa juntaram-se ao casal. Como olha para esta postura?
Discordo desta postura, uma vez que considero que, quando os concorrentes entraram no programa, sabiam que teriam regras para cumprir.
No dia anterior, Sónia ameaçou que «iria revelar coisas» mal desistisse do programa. O que diz este tipo de reações sobre ela?
Relativamente à Sónia, trata-se de uma mulher muito impulsiva, que pensa pouco naquilo que diz e não mede o impacto que as suas palavras podem ter nos outros. A violenta discussão com a Noélia e o comentário à mensagem do avião são dois exemplos que ilustram muito bem o modo como a concorrente funciona. No entanto, também é capaz de atitudes generosas, como já o demonstrou por exemplo com a Soraia. A Sónia está a viver um período de grande ambivalência, porque, por um lado, quer muito continuar no jogo e, por outro, sente-se culpada por estar longe das filhas. Este conflito interno faz com que frequentemente se descontrole.
Este tipo de atitudes leva-os a acharem que têm mais poder do que, na verdade, têm?
De certo modo, poderá haver da parte deles a ilusão de que têm um poder sobre o programa, mas na realidade não o têm. Certo é que já houve expulsões devido a comportamentos desadequados e nada nos diz que isso não se volte a repetir, caso a produção considere grave a quebra de alguma regra.
Esta semana ficou marcada pela discussão de Sónia com Noélia que referiu há pouco e pelas polémicas afirmações da primeira em relação a mulheres de nacionalidade brasileira. Em relação ao primeiro aspeto, como viu aquele confronto? Há algumas semanas, um comportamento semelhante com Teresa levou Pedro Soá a ser expulso do programa. Porque se olha para este com outros olhos?
Como já referi, a Sónia é uma mulher impulsiva, que realmente não esteve nada bem, nem numa situação nem noutra. É possível que se fossem duas pessoas de género diferente (como foi o caso da Teresa e Pedro Soá), não só a produção como todos nós, tivéssemos uma outra leitura do que se passou, já que assumimos que existe uma assimetria de forças, sendo o homem fisicamente mais forte do que a mulher. Neste caso, como a discussão ocorreu entre mulheres, não é olhado da mesma forma e, por isso, não teve o mesmo desfecho. Além disso, foi levado em conta que tudo começa com um mal-entendido – a Sónia sentiu-se criticada pela Noélia – que escalou para uma discussão muito feia.
Em relação ao segundo ponto, como olha para a repercussão que as palavras de Sónia tiveram? Na sua opinião, estamos a falar de xenofobia?
Volto a dizer o que já disse no programa Extra: sinto que nunca tivemos tanta liberdade e, ao mesmo tempo, tanta censura. Parece que temos de passar a pensar 30 segundos antes de dizermos uma palavra, sob pena de virmos a ser rotulados como homofóbicos, racistas, xenófobos… O facto de estar na televisão faz com que tudo o que a Sónia diga assuma enormes proporções, mas acredito que se tratou apenas de uma frase infeliz, fruto da sua impulsividade.
E o fascínio pelos aviões? Porque dão tanta importância às mensagens enviadas pelo ar, sabendo eles e nós que as mesmas podem não representar a opinião geral do público?
Os aviões são o único feedback que têm do exterior, no entanto, poderão transmitir ideias completamente erradas ou até serem mal interpretadas, uma vez que a mensagem é muito curta. Constituem também uma espécie de barómetro da sua popularidade (que se pode repercutir nas votações) e, também, um ‘balão de oxigénio’ que pode animar algum concorrente que se sinta mais desmotivado.
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Como analisa o comportamento de Pedro Alves e Jéssica, que, sempre que recebem alguma mensagem, ficam particularmente deslumbrados e ‘esquecem’ o jogo dentro da casa?
O Pedro Alves e a Jéssica, pouco tempo depois de iniciarem o jogo, passaram a viver apenas um para o outro. Parece-me que, de algum modo, o objetivo deles está atingido, tanto que já referiram que saem os dois se um for expulso, portanto, não me parece que estejam muito interessados no jogo, nem em chegar à final.
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